“O colapsar económico de todas as sociedades desportivas”. Sónia Carneiro, diretora executiva da Liga Portugal, não tem grandes dúvidas de que as consequências de uma nova interrupção do futebol, fruto do atual confinamento geral, seriam “catastróficas”. Em entrevista à Rádio Observador, a coordenadora da Taça da Liga falou sobre a resposta do futebol à pandemia, o impacto financeiro que a Covid-19 teve nos clubes e que já é possível quantificar e a crescente relevância da terceira competição nacional, cuja final four arranca já esta terça-feira.
“Como sabemos, grande parte do orçamento das sociedades desportivas em Portugal vive daquilo que são os direitos televisivos. Para a competição faria com que esses valores deixassem de ser pagos, o que era absolutamente catastrófico. Temos vivido já sem grande parte dos rendimentos, pelo facto de não termos público, de termos a diminuição de alguns patrocinadores, de não termos corporate. Se deixássemos de ter direitos televisivos, seguramente, muitas das sociedades desportivas teriam uma situação económica absolutamente insolvente”, explicou Sónia Carneiro no programa “Nem Tudo o Que Vai à Rede é Bola”, indicando que o valor já apontado para o prejuízo dos clubes até ao final da época ronda os 266 milhões de euros. A diretora executiva do organismo liderado por Pedro Proença garantiu ainda que o futebol português continua a “cumprir todos os protocolos” e recebeu um “voto de confiança” por parte do Governo para prosseguir a atividade.
[Ouça aqui a entrevista completa de Sónia Carneiro à Rádio Observador:]
“Os casos de Covid-19 nas sociedades desportivas são públicos e isso só acontece porque há um controlo acérrimo de tudo aquilo que são os plantéis e o staff associado. Todas as semanas estão a ser feitos testes a todos os intervenientes, 48 horas antes de cada jogo temos testes. Neste momento, apesar de não conseguirmos evitar que existam casos, esses casos são imediatamente identificados e isolados e não há surtos de propagação face a este cumprimento de tudo aquilo que são os protocolos para manter esta atividade, que é seguramente das mais escrutinadas de todas. Os futebolistas e as equipas de futebol profissional já fizeram mais testes do que qualquer outra atividade económica deste país”, defendeu, ressalvando que para a Liga “nem sequer é cogitável a possibilidade de parar as competições”. “Nenhum treinador, nenhum presidente, veio dizer que devemos parar a competição. Para nós, isso é absolutamente impensável”, acrescentou.
Responsável máxima pela organização da Taça da Liga, que tem esta semana a sua final four em Leiria — Sporting-FC Porto na terça-feira, Sp. Braga-Benfica na quarta-feira, final no sábado –, Sónia Carneiro realça a importância de a Liga ter tentado manter a ligação com os adeptos através de atividades online e nas plataformas digitais mas dá especial importância ao facto de os jogos serem transmitidos em canal aberto (na SIC, para além da Sport TV). “É muito bom. E o facto de termos quatro grandes equipas a disputar esta final four vai permitir que as pessoas que estão em casa possam ver o melhor do futebol. Para nós, é muito gratificante perceber que um canal aberto teve a vontade de adquirir os direitos para a transmissão destes três jogos. Não tenho memória de três jogos desta envergadura serem transmitidos em canal aberto. Já temos tido a experiência da transmissão em canal aberto do jogo da final mas agora temos os três jogos. Será efetivamente um momento de as pessoas poderem ver futebol livremente. Cada vez mais, o facto de o público estar afastado dos estádios vai ter consequências no futuro, de alguma perda de adeptos, perda de interesse pelo espetáculo do futebol, e isso é algo que esta parceria nos vai ajudar a combater”, indicou a dirigente, adiantando depois que a organização teve “redobrado cuidado” com os protocolos ligados à Covid-19, principalmente numa altura em que as quatro equipas da final four têm tido vários casos positivos.
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“Todos os que estão no estádio [Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria] têm a sua credencial com um selinho verde a dizer ‘no covid’. Não está ninguém a trabalhar no estádio que não tenha sido testado. Estamos como as equipas, a ser testados de oito em oito dias, a equipa que veio na segunda-feira da semana passada hoje [esta segunda-feira] foi fazer novo teste, precisamente para garantir que daqui também não haverá nenhum surto. Relativamente às equipas, existe um protocolo apertadíssimo”, disse Sónia Carneiro. Ainda sobre a Taça da Liga, a diretora executiva da Liga comentou as declarações de Jorge Jesus, que voltou a sublinhar que a competição teria mais interesse se tivesse um prémio monetário que justificasse o desgaste ou desse o apuramento para uma competição europeia.
“Acho que esta competição já conseguiu ter uma dinâmica que levou a que as declarações de todos os treinadores intervenientes na final four tenham sido no sentido de dizerem que querem vencer este troféu. A importância desportiva de todos quererem ser o campeão de inverno já deu uma importância grande a esta competição. É óbvio que, no dia em que tivermos a capacidade económica de poder dar prémios avultados… E o facto de ter acesso a uma competição europeia é algo de que se fala já há muito tempo mas este não é o momento para isso”, atirou, garantindo ser ainda “inoportuno” falar sobre o regresso dos adeptos aos estádios numa fase tão grave da pandemia, ainda que ressalvando que esse é um tema “muitíssimo caro” à Liga.