Calendário e Covid-19. Têm sido estes os dois fatores tantas vezes apresentados pelos treinadores, desde o início da temporada, para justificar as quebras de rendimento das equipas que orientam. Se o calendário intensifica a competição e torna-a, tantas vezes, sobre-humana, a Covid-19 tem desvirtuado essa mesma competição, deixando jogadores de fora das opções de uma forma cruel. Em Espanha, o Atl. Madrid acabou por ser a equipa mais afetada pela pandemia — mas também pelas consequências adicionais dessa mesma pandemia.

A Covid-19 obrigou a encaixar calendários, acumular jogos e aumentar níveis competitivos. Logo, abriu a porta a mais lesões: e Simeone não podia contar com Ferreira-Carrasco e Vrsaljko por esse motivo. A Covid-19 levou a mais decisões irrefletidas, erros desnecessários e menor disponibilidade mental. Logo, abriu a porta a mais cartões e mais castigos: e Simeone não podia contar com Savic e Saúl por esse motivo. E a Covid-19 é abordada através de testes, isolamentos e bolhas. Logo, abriu a porta a casos positivos: e Simeone ainda não podia contar com Herrera por esse motivo. A verdade é que, na antecâmara da receção ao Levante, Simeone só teve duas boas notícias: os regressos de Dembélé e Lemar, ambos recuperados da infeção nas últimas horas e ambos aptos para começarem no banco de suplentes.

João Félix voltou depois da Covid-19 mas o recorde de Cholo Simeone fica para sábado: Atl. Madrid empata com Levante

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Este sábado, o Atl. Madrid defrontava o Levante pela segunda vez em pouco dias: na passada quarta-feira, os colchoneros empataram fora com a equipa de Valência, na primeira de duas jornadas que ainda tinham em atraso. E apesar de estar de forma destacada na liderança da liga espanhola, com mais seis pontos do que o Real Madrid e ainda com uma partida por disputar, a verdade é que o Atl. Madrid atravessa atualmente a fase mais complicada da temporada — sem perder há sete jogos mas com três empates nos últimos quatro encontros. Mais: Simeone atravessava mesmo o pior registo defensivo desde que chegou ao clube, há quase uma década, já que sofria golos há seis partidas consecutivas. Tudo isto na antecâmara do embate com o Chelsea, na próxima terça-feira, na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Ora, era neste contexto que o Atl. Madrid encontrava novamente o Levante, depois do empate de há alguns dias e com a possibilidade de permitir a Simeone chegar ao registo de vitórias do mítico Luis Aragonés, 308. João Félix voltava à titularidade, em conjunto com Correa e Suárez no ataque, e Llorente, Koke e Kondogbia formavam o meio-campo. Do outro lado, o português Rúben Vezo estava no onze inicial, na direita da defesa. Um jogo que acontecia um dia depois de o Sport revelar que a ida de Suárez do Barcelona para o Atl. Madrid, afinal, não terá sido a custo zero como foi divulgado.

De acordo com o jornal, o avançado uruguaio forçou a saída a custo zero mas os clubes tiveram um entendimento paralelo. Barcelona e Atl. Madrid acordaram um custo fixo de cinco milhões de euros pelo jogador, num valor que pode chegar ainda chegar aos 11 devido às cláusulas variáveis. Três cláusulas, de dois milhões cada uma, que dizem respeito a 20 jogos feitos por Suárez esta temporada, à chegada aos quartos de final da Liga dos Campeões esta temporada e à chegada aos quartos de final da Liga dos Campeões da próxima temporada. Ora, tendo em conta que o avançado já fez mais do que 20 jogos esta época, a transferência de Suárez do Barcelona para o Atl. Madrid já vai nos sete milhões de euros. Um valor que não deixa de ser extraordinariamente baixo para tudo aquilo que o avançado já mostrou que ainda é capaz de fazer.

Numa primeira parte que o Atl. Madrid terminou em desvantagem, o Levante começou claramente melhor e teve uma oportunidade logo nos instantes iniciais, com Morales a atirar ao lado, isolado, depois de um grande passe longo de Rochina (8′). Os colchoneros só acordaram depois de estarem cumpridos 15 minutos, passando a atuar mais perto da baliza adversária, e tiveram em Giménez a melhor oportunidade para empatar, com um remate muito violento de fora de área (21′). A eficácia, porém, fez a diferença: do outro lado e na sequência de um cruzamento vindo da esquerda, León falhou o primeiro desvio, Kondogbia falhou o desvio e Morales rematou; a bola desviou em Felipe, desviou em Hermoso e enganou Oblak (30′). Até ao intervalo, Giménez ainda voltou a ficar perto de marcar, ao cabecear depois de um livre (37′), mas a verdade é que o Atl. Madrid acabou a primeira parte a perder justamente e sem ter demonstrado grande capacidade de contrariar a boa exibição do Levante, criando perigo apenas através de bolas paradas ou remates de longe. Félix e Correa, por seu lado, estavam totalmente desaparecidos.

Na segunda parte, a partida voltou mais morna, com menos velocidade e intensidade. O Levante parecia abdicar ligeiramente da posse de bola, oferecendo essa iniciativa ao Atl. Madrid e passando a preferir atacar apenas na profundidade e em transição rápida, e a equipa de Simeone foi aproveitando para crescer na partida e subir no relvado. Lemar entrou para o lugar de Giménez para agitar e, em quatro minutos, o Atl. Madrid construiu quatro enormes oportunidades de golo: Suárez atirou ao poste de livre direto (59′), João Félix chegou atrasado para desviar depois de um cruzamento de Suárez (59′) e logo depois rematou numa jogada semelhante mas para a defesa do guarda-redes Cárdenas, Correa pôs a bola dentro da baliza mas o lance foi anulado por falta de Suárez (60′) e Llorente cabeceou ligeiramente por cima depois de mais um cruzamento de Suárez (61′).

Simeone reagiu ao melhor momento do Atl. Madrid na partida com outras duas substituições, ao trocar Kondogbia e Correa por Lucas Torreira e Ricard, e a equipa tombava cada vez mais para a direita: desse lado, Suárez conseguia desequilibrar quase sempre, enquanto que João Félix estava muito tapado por Rúben Vezo no corredor contrário. Era na combinação entre os dois, porém, que parecia estar a melhor movimentação do Atl. Madrid: noutro lance, Suárez desviou com o peito para uma zona mais recuada da grande área e ofereceu o golo a Félix, que rematou de primeira para outra intervenção de Cárdenas (67′). Os colchoneros montavam o cerco à grande área do Levante, com repetidos lances de perigo e sem deixar que o adversário saísse com a bola controlada, mas a verdade é que o relógio andava e o resultado mantinha-se.

A pouco mais de um quarto de hora do apito final, Simeone esgotou as possibilidades de mexer na equipa e arriscou tudo, ao trocar Koke por Dembélé, passando Félix a atuar numa posição de ligação entre o meio-campo e o ataque. Até ao fim, sem nunca ser brilhante, o Atl. Madrid continuou a insistir, Lemar ainda tirou um pontapé perigoso à entrada da grande área mas o destino estava traçado. Ao longo de cinco minutos de descontos em que os colchoneros tentaram por tudo chegar ao empate, já sem grande discernimento, acabou por ser o Levante a aumentar a vantagem, com Jorge de Frutos a rematar desde o meio-campo para a baliza deserta na sequência de um canto em que Oblak foi até à grande área adversária (90+4′).

A equipa de Diego Simeone encerrou uma série de 22 jogos sem perder no Wanda Metropolitano (não perdia em casa desde dezembro de 2019, há mais de um ano), voltou a sofrer uma derrota para a liga espanhola 12 jornadas depois (a última tinha sido em dezembro, com o Real Madrid) e pode ver os merengues encurtarem para apenas três pontos a distância para a liderança caso vençam este sábado o Valladolid — embora o Atl. Madrid tenha ainda um jogo em atraso. A fase má está confirmada, Simeone voltou a adiar o registo de Aragonés e nunca, desde que chegou a Madrid em dezembro de 2011, tinha sofrido tantos golos, levando agora sete partidas consecutivas a conceder golos. E o dérbi de Madrid está marcado para o dia 17 de março.