Segundo a Manager Magazin, a Volkswagen AG deixa no ar a possibilidade de avançar para uma rede própria de recarga, porque está furiosa com o reduzido ritmo a que Ionity evolui. Isto seria uma excelente ideia, pois se um fabricante como a Tesla, que vende 0,5 milhões de veículos, pode investir numa rede própria, que é vista como um dos seus principais argumentos de venda, seria incompreensível que outro construtor, que vende 10 milhões de automóveis, não tenha capacidade financeira para investir numa rede de carga própria.

A isto os responsáveis da Ionity respondem, reclamando necessitar de mais investidores, ou mais investimentos do actuais cinco grupos que suportam o consórcio, porque sem (muito) dinheiro não pode haver uma rede de supercarregadores europeia decente.

Desde o início, a Ionity tem-se revelado sempre abaixo das expectativas. Depois do anúncio em 2017, arrancou atrasada, evoluiu lentamente e nunca conseguiu recuperar, falhando largamente os objectivos propostos. A confirmação é fornecida pela própria Ionity, que anunciava ter como objectivo 400 estações em funcionamento em final de 2020, mas admite que apenas estão em funcionamento 336. Com isto, a empresa criada pela VW, Daimler, BMW, Ford e Hyundai/kia, conseguiu inaugurar menos estações em quatro anos do que a Tesla no último trimestre de 2020.

Juntamente com o reduzido número de estações para carga de veículos eléctricos, a Ionity oferece ainda um pequeno número de carregadores por estação. Basta ver o que o que acontece nos mercados que nos são mais próximos, com Portugal a não ter nenhuma estação da Ionity, face às 8 da Tesla (em breve serão 9, uma vez que Matosinhos está em vias de ser terminada), enquanto Espanha possui 8 estações da Ionity versus 33 da Tesla. Só Barcelona e Madrid usufruem de 4 supercarregadores da Ionity cada, enquanto a Tesla disponibiliza 12 Superchargers para cada uma das principais cidades espanholas. A isto acresce o facto de os pontos de carga da Tesla serem específicos para os seus modelos, enquanto os da Ionity têm como clientes a preços mais competitivos os modelos das marcas dos cinco grupos envolvidos, estando ainda abertos a recarregar todos os restantes veículos eléctricos, o que pode tornar num desafio ciclópico encontrar um ponto de carga livre.

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Quem paga pouco recebe “poucochinho”

A Ionity saltou de novo para notícias com um artigo da publicação alemã Manager Magazin, a quem Herbert Diess, o CEO da Volkswagen AG, confessou estar desiludido com o ritmo de crescimento da Ionity. O conglomerado germânico é um dos accionistas e colocou a Porsche a defender os seus interesses no consórcio. Diess compara ainda a evolução da rede da Ionity (só na Europa) com o incremento da Electrify America (exclusivamente nos EUA), com esta última a ter criado já 556 estações e 1856 pontos de carga.

Embora a Daimler, a BMW, a Ford e a Hyundai/Kia possam eventualmente concordar com estas críticas da VW à Ionity, o que os construtores aparentemente se esquecem de mencionar é que cada um dos grupos investiu somente 200 milhões de euros nesta rede europeia, tendo por isso direito a 20% do capital. A este valor há que juntar a contribuição de União Europeia, suportada por todos nós, de 39,1 milhões de euros para ajudar a Ionity.

Para se ter uma ideia do reduzido valor investido por estes grupos internacionais, que figuram entre os maiores do mundo, representando um mínimo de 25 milhões de carros produzidos por ano, basta recordar que a Tesla, que só este ano se aproximou da fasquia do meio milhão de unidades, tem hoje em funcionamento uma rede global dos seus Superchargers de 2564 estações de carga (592 só na Europa), com 23.277 carregadores rápidos.

A própria Volkswagen AG, que reclama da má prestação da Ionity e a compara com a Electrify America, terá presente que este rede norte-americana foi uma obrigação imposta pelo tribunal, no seguimento do escândalo do Dieselgate e determinada como compensação. Contudo, a Electrify America implicou um investimento de 2 mil milhões de dólares, cerca de 1,68 mil milhões de euros, o que transforma numa gota de água os 200 milhões investidos pelo grupo VW na Ionity.