– Acho que tinhas uma relação muito boa com o Mauricio [Pochettino]…
– Sim, tinha.
– Adoro isso. E agora penso: ‘Se tem boas relações com o antigo treinador, porque não terá comigo?’. Vi o treino de ontem e não tenho dúvidas que és um vencedor, é o meu feeling. O mundo olha para o futebol inglês com um respeito incrível, mas continuam a achar que as estrelas de cinema estão noutros lados e eu acho que devemos construir o teu estatuto nessa direção. Eu sou um bocadinho assim como treinador, a minha imagem é universal e penso que consigo ajudar-te…
– Sim, é esse o meu objetivo… Quando olhamos para um clube como o Tottenham, acho que estivemos bem e pessoalmente acho que estive bem mas quero ser nível Ronaldo, Messi…
– Pois, o que não aceito porque não é do meu feitio é estar aqui e não ganhar nada mas acredito que podemos ganhar por tua causa, por tua causa. Vocês têm melhores jogadores do que tinha no Manchester United. Acho que o clube tem imensas coisas para explodir. Estou aqui…
– E agradeço por isso, obrigado.

Andar com as câmaras televisivas atrás para um documentário é ótimo para quem vê depois o produto final, é bom para quem gosta de perceber como funciona o convívio de uma grande equipas mas pode ser mau para os visados, como tem vindo a ser referido por alguns dos intervenientes desses trabalhos que estão cada vez mais disponíveis em diversas plataformas. O “All or Nothing” do Tottenham foi mais um desses exemplos e foi aí que ficou registada uma conversa com menos de dois minutos entre José Mourinho e Harry Kane quando o português assumiu o comando técnico dos londrinos. Esta conversa. Quase um ano e meio depois, o resultado está à vista.

Os resultados coletivos não têm sido propriamente os melhores, sobretudo depois da quebra que o Tottenham teve após a derrota em Anfield frente ao Liverpool a meio de dezembro que podia ter deixado a equipa isolada no topo da Premier League. A seguir houve a eliminação na Taça de Inglaterra, o apuramento para a final da Taça da Liga contra o Manchester City e a qualificação para os oitavos da Liga Europa, onde terá pela frente o Dínamo Zagreb. No Campeonato, aí, tudo pode mudar num ápice. E bastaram três vitórias consecutivas para a equipa deixar o nono lugar e saltar para a sexta posição, apenas a dois pontos dos lugares de acesso à Champions.

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Ou seja, sendo verdade aquilo que a imprensa inglesa veiculou e que falava numa espécie de “ultimato” nos quatro encontros que se seguiram à derrota no Olímpico de Londres, o aproveitamento foi de 100%, com um total de 13 golos marcados e três goleadas frente a Wolfsberger (4-0), Burnley (4-0) e Crystal Palace (4-1), a que se juntou o triunfo pela margem mínima com o Fulham. E esta noite, mais do que nunca, foi Harry Kane que escreveu a história do encontro que mostrou o bom momento que o Tottenham atravessa nesta fase da temporada.

Com Harry Winks de regresso à titularidade com Sissoko e Ndombelé no banco e Eric Dier ainda de fora perante a dupla Davison Sánchez-Alderweireld, o Tottenham entrou melhor, mais pressionante mas conseguiu apenas fazer o primeiro golo aos 25′, numa boa zona de pressão alta feita pelas unidades mais ofensivas que permitiu a Lucas Moura intercetar a saída, Harry Kane assistir e Gareth Bale encostar para o 1-0. Benteke, num cabeceamento sozinho na área, ainda fez o empate em cima do intervalo (45+1′) mas a reentrada foi demolidora, com nova assistência de Kane para Bale a fazer o 2-1 (49′) antes de também o avançado marcar a passe do lateral Matt Doherty (52′). Harry Kane fechou as contas no último quarto de hora, numa jogada de Son (76′).

Essa combinação colocou os dois avançados como aqueles que mais vezes combinaram em jogadas de golo na Premier League numa só temporada mas são os números do internacional inglês e capitão que mais impressionam quando estamos ainda a dois meses e meio do final da época: em 36 jogos oficiais, Kane leva um total de 24 golos e 16 assistências, sendo o segundo jogador com mais golos na Premier League (16, a par de Bruno Fernandes e a um de Salah) e o jogador com mais assistências também na Liga inglesa (13). Com tudo isso, o Tottenham tornou-se também a segunda equipa europeia a chegar à fasquia dos 100 golos em 2020/21 depois do Bayern (106).