Numa Assembleia Nacional Popular (ANP), o maior órgão legislativo na China, em que houve lugar a pouca ou nenhuma discussão política, os protocolos seguidos durante a reunião magna do Partido Comunista Chinês (PCC), desde quem deve usar máscara aos procedimentos seguidos pelos jornalistas, chamaram a atenção da imprensa internacional que esteve em Pequim.
Lucas De La Cal, correspondente do El Mundo na capital chinesa, conta numa reportagem publicada no jornal espanhol os bastidores da reunião anual do PCC, que começou na passada sexta-feira, 5 de Março, e que se prolonga até quinta-feira.
O jornalista espanhol começa por revelar a sua experiência — semelhante à de outros jornalistas internacionais que se deslocaram até Pequim — logo no primeiro dia do congresso, quando foi obrigado a fazer um teste PCR à garganta, sendo depois enviado para um um quarto de hotel para cumprir quarentena enquanto esperava o resultado.
Com um teste negativo, os jornalistas foram depois encaminhados para um autocarro que os levou até ao Grande Palácio do Povo de Tiananmen, sede do poder legislativo chinês, onde já estavam três mil deputados oriundos de todo o país, todos eles submetidos, igualmente, a um teste ao coronavírus.
Os jornalistas sentaram-se então num anfiteatro, ao lado de diplomatas estrangeiros convidados para o congresso, tendo, abaixo de si, os “deputados comuns, que não têm nenhum poder de decisão nas políticas económicas, sociais, tecnológicas e ambientais debatidas na ANP”.
Em frente aos deputados, num palco elevado, sentam-se os membros do Comité Central do PCC, o órgão dirigente do regime, entre eles os 25 membros do Politburo e do governo, os únicos que não usam máscara no auditório. O Presidente chinês, Xi Jinping, que se sentou no centro da sua fila no palco principal, tal como aconteceu no congresso do ano passado, realizado em Maio, também não usou máscara.
China reduz meta do défice orçamental para 3,2% após superar epidemia de Covid-19
Conforme nota a Bloomberg, apesar de ter sido um dos primeiros países no mundo a autorizar a inoculação da população contra a covid-19, a China não divulga se os principais líderes do país foram ou não vacinados, sendo que, como apareceram todos sem máscara, especula-se que já possam ter sido inoculados.
Durante a reunião magna, refere ainda Lucas De La Cal, os políticos liam os discursos, resumidos de imediato pelas agências de notícias chinesas, sendo que os mesmos eram “aplaudidos em uníssono a cada quatro parágrafos”. No final, o ambiente era de festa, “apesar de a grande maioria dos presentes não ter voz nem voto quanto ao futuro do seu país”.
Das metas económicas a Hong Kong
As metas económicas reveladas durante o congresso, como a redução da meta do défice orçamental para 3,2% ou a previsão de crescimento económico de 6% neste ano, à medida que o país ultrapassa a pandemia de covid-19, além da promessa de uma “transformação verde” na economia, são elogiadas pelos deputados chineses, que representam todas as províncias do país mas não são eleitos por sufrágio direto.
Quanto ao caso de Hong Kong, um dos temas mais sensíveis para Pequim e para a comunidade internacional, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, confirmou no domingo a reforma do sistema eleitoral da região administrativa, depois de, na sexta-feira, a China ter anunciado que apenas “patriotas” podem estar na política.
As esperadas medidas para controlar quem concorre às legislativas em Hong Kong surgem depois de um ano marcado pela repressão da oposição pró-democracia na região administrativa, com a detenção das principais figuras da oposição a Pequim, entre elas o ativista Joshua Wong.
Na ANP do ano passado, que excecionalmente se realizou em maio, devido à pandemia de covid-19, a China anunciou uma lei de segurança nacional para Hong Kong, que entrou em vigor em Junho. À luz dessa legislação, condenada pelo Ocidente, podem ser condenados a prisão perpétua todos os que sejam acusados dos crimes que Pequim considera como secessão, subversão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras.