Um bairro cercado por dezenas de polícias, o Grupo de Operações Especiais no terreno e vários suspeitos barricados. Foi pelo menos este o cenário que a Polícia de Segurança Pública equacionou durante as várias horas de uma operação musculada montada no bairro de Santa Marta, em Corroios. Mas, quando ao fim do dia entrou no barracão onde os suspeitos estariam, este estava vazio. A única detenção que fora feita tinha sido fora do local. Os restantes suspeitos estão em fuga e agora está em curso uma caça ao homem.

Tudo começou quando a PSP foi chamada, ao início da tarde desta terça-feira, devido a alguns distúrbios e foi recebida a tiro. Dois dos suspeitos acabaram por se refugiar num barracão, inicialmente descrito pelas autoridades como uma loja, e rapidamente a PSP montou um cerco para impedir a sua saída daquele edifício.

No local estiveram elementos da investigação criminal, do Corpo de Intervenção e do Grupo de Operações Especiais. Durante a tarde, a PSP chegou mesmo a anunciar que iria iniciar as negociações com os suspeitos barricados para que estes se entregassem. Mas no interior do barracão não havia ninguém para negociar e perto das 19h30 a PSP apercebeu-se, ao entrar, que o espaço estava vazio. O Observador apurou que foi detido um suspeito, que estava já num outro local — os suspeitos (que se acredita serem dois) estão a monte.

Polícia começou a desmobilizar perto das 20h30 desta terça-feira

Porque é que a polícia foi chamada ao local?

A PSP foi chamada à rua Bento Gonçalves perto das 12h20 por relatos de confrontos no bairro. Ao chegarem, sabe o Observador, os agentes depararam-se com uma pessoa a ser violentamente agredida na rua e suspeitos armados, que reagiram a tiro contra os polícias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Após a troca de tiros, o grupo de suspeitos refugiou-se no interior de uma loja, contou uma fonte presente no local.

Quais as ações da PSP no terreno?

O incidente tático-policial ficou desde logo a cargo da PSP, que garantiu ter posto em ação os procedimentos normais para estes casos, como a ativação da Unidade Especial de polícia e a afetação de uma estrutura de comando exclusivamente dedicada a este caso.

Segundo disse, durante a tarde, a comissária da PSP Sara Ferreira “foram de imediato reforçados os meios no terreno de forma a criar perímetros de segurança, simultaneamente que impeçam a fuga dos suspeitos e que garantam a segurança da população”.

Com o passar das horas, e perante a aparente resistência dos suspeitos, a polícia passou para uma outra fase — a negociação. O Observador sabe que se planeou uma negociação verbal com os suspeitos para a sua entrega, não se tendo descartando a hipótese de ser necessário tomar algumas ações, como a evacuação de habitações próximas.

Ao início da noite, a PSP, através da comissária Sara Ferreira, do Comando Distrital de Setúbal, disse que “foram feitas várias abordagens à habitação onde os suspeitos dispararam contra o efetivo policial, tendo-se constatado que não se encontrava nenhum indivíduo suspeito”.

Cerco que a PSP fez ao bairro durante toda a tarde

Se foi montado um perímetro como conseguiram fugir?

Essa é uma questão que a PSP ainda estará a tentar perceber. Ao que o Observador apurou, não se sabe se os homens terão conseguido escapar à polícia ainda antes de o cerco ter sido montado ou se fintaram as autoridades já após todo o aparato. É também certo que os investigadores não descartam por completo que pudessem estar em habitações do bairro, tendo-se optado por uma estratégia menos musculada, para evitar perturbar moradores que nada teriam a ver com o caso.

Ainda assim, é importante ter em conta as especificidades do bairro — ruas labirínticas, becos sem saída, habitações improvisadas em edifícios semelhantes a barracões — para entender o que poderá ter acontecido.

A PSP, porém, não tem dúvidas de que os suspeitos passaram pelo barracão, que esteve durante toda a tarde debaixo de todas as atenções. Lá dentro “foram encontrados vários invólucros que tudo indicia pertencerem à arma, ou armas, utilizadas pelos supostos suspeitos”.

Os trabalhos continuam a cargo da PSP?

A investigação passou para as mãos da Polícia Judiciária, depois de a PSP ter encontrado as munições — nessa altura foi “acionado para o local o órgão de polícia criminal competente, a Polícia Judiciária”, explicou esta tarde Sara Ferreira.

Ainda assim, a PSP continua com diligências para localizar os restantes suspeitos. “Neste momento, estamos a fazer as diligências necessárias para conseguir intercetar todos os suspeitos. A Polícia Judiciária já está no local e está, neste momento, com a investigação”, adiantou ainda a comissária da PSP.

Há registo de feridos?

Durante tarde, num ponto da situação feito aos jornalistas, a PSP garantia não haver feridos entre os agentes destacados, nada referindo sobre a possibilidade outros feridos. Porém, uma fonte explicou ao Observador que pelo menos a pessoa que estava a ser “sovada” quando os elementos da PSP lá chegaram está ferida, não se sabendo ainda se, da troca de tiros, algum dos suspeitos também ficou com ferimentos.

A PSP pediu ainda a compreensão e a colaboração por parte dos moradores para as restrições impostas, inclusivamente à entrada e saída de carros, garantindo que estava garantida a segurança — promessa que voltou a fazer ao fim da noite.

Moradores impacientes com a PSP

Apesar dos apelos, ao final da tarde eram já muitos os moradores impacientes por estarem impedidos de voltar para as suas casas. Alguns, com menores na rua há várias horas, chegaram mesmo a questionar a ação da polícia. “A miúda é doente do rim, a minha casa é já ali, o meu filho está sozinho em casa”, reclamava um dos moradores, afirmando que a polícia nem sequer deixava que o seu filho viesse para o lado de fora do cerco.

Tem 11 anos, já expliquei ao senhor. Então e se o miúdo morrer em casa quem é o responsável?”, questionava.

Que meios estiveram no terreno?

A Polícia de Segurança Pública considerou desde o primeiro momento este um caso complexo e, por isso, foram chamados para o local vários elementos do Corpo de Intervenção, da brigada de Investigação criminal e ainda do Grupo de Operações Especiais, que só entra em ação em cenários limite.