“Não acredita realmente nessa história de se urinar nas garrafas, não é? Se isso fosse verdade, ninguém trabalharia para nós”. A 25 de março, foi com esta frase escrita no Twitter (em resposta a uma crítica de Mark Pocan, um congressista dos EUA) que a Amazon se viu envolvida numa chuva de queixas. Na sexta-feira à noite, num comunicado, a empresa reconheceu o erro e pediu desculpa ao político: “O tweet estava incorreto. Não contemplámos o nosso grande número de motoristas”.
Amazon negou que trabalhadores urinavam em garrafas e recebeu provas que dizem o contrário
Sabemos que os motoristas podem e têm dificuldade em encontrar casas de banho por causa do trânsito ou, às vezes, das rotas rurais, e esse foi especialmente o caso durante a Covid, quando muitas casas de banho públicas fecharam”, diz a Amazon.
A Amazon reconhece que as rotas dos entregadores são apertadas ao ponto destes ficarem impedidos de ir à casa de banho para cumprirem tudo o que lhes é pedido. Porem, de acordo com a gigante tecnológica fundada por Jeff Bezos, os seus centros de distribuição têm todas as condições necessárias. “Um centro de distribuição típico da Amazon tem dezenas de casas de banho e os funcionários podem afastar-se das suas estações de trabalho a qualquer momento. Se algum funcionário num centro de distribuição tiver uma experiência diferente, encorajamos que fale com o seu gerente e trabalharemos para corrigir isso”, promete.
[Abaixo, o tweet de Pocan que iniciou a polémica, no qual o político alega que pagar 15 dólares à hora não é válido quando se tem trabalhadores a urinar em garrafas, e a resposta polémica da Amazon]
Paying workers $15/hr doesn't make you a "progressive workplace" when you union-bust & make workers urinate in water bottles. https://t.co/CnFTtTKA9q
— Rep. Mark Pocan (@RepMarkPocan) March 25, 2021
Mesmo assumindo que deu resposta uma resposta errada ao congressista — “O tweet não recebeu o devido escrutínio”, defendeu-se — a empresa alega que este problema é mais abrangente: “Este é um problema antigo que abrange todo o setor e não é específico da Amazon”. Por causa disso, a plataforma de compras online e serviços na nuvem diz que vai “procurar soluções” para resolver esta questão.
Apesar de a Amazon afirmar que o problema das idas à casa de banho não acontece nos centros de distribuição, têm surgido vários relatos de trabalhadores a afirmando isso poderá não ser verdade. Este tipo de situações são relatadas há vários anos, como em 2018, num armazém da empresa no Reino Unido. Essa história foi posteriormente publicada no livro pelo jornalista James Bloodworth, do The Guardian: “Hired: Six Months Undercover in Low-Wage Britain” [em português, “Contratado: Seis meses infiltrado na Grã-Bretanha de baixos salários”].
Este tweet da Amazon surge numa altura em que os trabalhadores de um dos centros da Amazon, no Alabama, nos EUA, estão a tentar criar um sindicato para os proteger. Desde há vários anos que a empresa tem tentado evitar que os trabalhadores dos centros de distribuição nos EUA organizem-se em sindicatos. Contudo, estes votos no Alabama, que devem ser conhecidos na próxima semana, podem mudar a forma como a Amazon trata os seus funcionários, como explica o The Verge.
Os trabalhadores que querem que exista um sindicato fazem-no por estarem saturados daquilo que dizem ser práticas abusivas da empresa, como controlar ao segundo cada tarefa não permitindo que haja momentos de descanso. Se conseguirem criar um sindicato no Alabama, mais fábricas da Amazon podem começar a fazer o mesmo. Isso obrigará a empresa a ter de negociar de forma diferente com os seus funcionários.
No último ano, devido à pandemia de Covid-19, a empresa registou um aumento sem precedentes dos negócios desde o início da pandemia, devido às restrições e distanciamento social, que forçaram as lojas físicas a fechar e eliminaram grande parte da concorrência da plataforma digital. Só nos Estados Unidos, a Amazon acrescentou 175 mil novos trabalhadores desde o início da pandemia.