O opositor russo Alexei Navalny, detido e em greve de fome desde 31 de março, revelou esta sexta-feira ameaças para que seja alimentado através de um “colete de forças e outros prazeres”, numa mensagem que emitiu a partir da prisão.
Através do Instagram, Navalny disse ter sido informado por uma funcionária que as análises sanguíneas indicavam uma deterioração do seu estado de saúde e ameaçado com medidas mais drásticas para que seja alimentado à força caso prossiga o protesto.
“E de seguida detalhou as medidas para me obrigarem a comer. Colete de forças e outros prazeres”, disse o político, acrescentando que exortou os responsáveis do centro a não aplicarem essa medida “ao evocar uma cláusula da lei”.
Navalny, 44 anos, anunciou em 31 de março que deixava de se alimentar em protesto contra as condições de detenção a que está sujeito, acusando a administração penitenciária de lhe recusar o acesso a um médico, embora sofra de uma dupla hérnia discal, segundo os seus advogados.
Ativista anticorrupção e principal opositor ao Presidente Vladimir Putin, sobreviveu em 2020 a um envenenamento com Novitchok, um agente neurotóxico desenvolvido na época soviética para fins militares, que o colocou em estado de coma. De regresso à Rússia em janeiro passado após uma longa convalescença na Alemanha, foi de imediato detido e condenado num caso de fraude ocorrido em 2014, que denuncia como politicamente motivado.
Navalny acusou o Kremlin da tentativa de envenenamento, uma alegação rejeitada pelas autoridades. A sua detenção originou uma vaga de protestos em várias cidades do país, na maior ação de contestação dos últimos anos. Ainda esta sexta-feira, um tribunal russo condenou a dois anos de prisão efetiva um colaborador de Navalny pela publicação de mensagens no Twitter consideradas “extremistas”.
Pavel Zelensky, um operador de câmara que trabalha para o Fundo de luta contra a corrupção (FBK), organização fundada por Navalny, publicou em 02 de outubro dois tweets para exprimir a sua revolta após o suicídio de uma jornalista. Irina Slavina, chefe de redação de um site de informação russo independente e crítico das autoridades em Nijni Novgorod, imolou-se pelo fogo após uma rusga da polícia à sua casa.
Pavel Zelensky reagiu na sua conta Twitter ao denunciar um “poder de pacotilha” e acrescentar que odiava o Presidente Vladimir Putin, o seu porta-voz Dmitri Peskov e “todo esse lixo no poder”. Em 15 de janeiro foi detido pela polícia e indiciado por “apelos públicos a ações extremistas” publicadas na internet.
Um porta-voz do tribunal Tuchinski de Moscovo precisou à agência noticiosa AFP que Zelensky vai cumprir pena numa prisão em “regime normal”. A sua mulher, Natalia Zelenskaia, optou por se declarar culpada “na esperança de reduzir a sua pena”. Em 2019, um blogger russo foi condenado a cinco anos de prisão por um tweet onde sugeria que fossem sequestrados os filhos de polícias.
No Twitter, Alexei Navalny considerou em 15 de janeiro que os tweets de Pavel Zelensky descreviam “de forma justa” a situação.