Se os diamantes são eternos, as pérolas não gozam de inferior fama. Que o diga a longa tradição cultivada na família real britânica quando os momentos de pesar impõem o negro como tom dominante e definem a discrição dos acessórios.
Na tarde em que o clã se despediu do príncipe Filipe, numa cerimónia na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, o estilo não escapou ao escrutínio e Kate Middleton foi uma das figuras mais destacadas neste plano. Para começar, pela eleição das joias para este dia, carregadas de simbolismo.

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De preto integral, num vestido Roland Mouret que conjugou com um casaco Catherine Walker, a mulher do príncipe William exibiu um par de brincos de diamante e pérolas oferecido à Rainha em 1947 em comemoração de seu casamento com o duque de Edimburgo, tendo conjugado esta opção com uma gargantilha de pérolas de quatro fiadas, também ela pertença de sua majestade.
A peça em questão foi desenhada pela prestigiada casa joalheira Garrard & Co a partir de um conjunto de pérolas oferecidas pelo governo japonês — a Rainha usou o colar em variadas ocasiões de relevo, incluindo uma visita de Estado ao Bangladesh em 1983 e na festa de 70 anos de Margaret Thatcher, em 1995.

Isabel II com Margaret Thatcher, quando a antiga primeira-ministra celebrou os seus 70 anos © Getty Images
Mas mesmo para a jovem duquesa de Cambridge, a escolha não é inédita. As Pérolas Japonesas, como a peça é conhecida, foram usadas por Kate em 2017, por ocasião do 70º aniversário de casamento de Isabel II e Filipe, no Castelo de Windsor precisamente. Um novo elo histórico que volta a sublinhar a aposta feita este sábado, na ocasião fúnebre — certamente que esta gargantilha não foi escolhida por acaso.

Kate, William e Harry, a caminho do jantar de 70 anos de casamento da rainha e do duque de Edimburgo, a 20 de novembro de 2017 © Max Mumby/Indigo/Getty Images
Optando por esta peça, Middleton não vinca apenas a relação com a soberana, avô do marido. Para a história passa também o dia em que Isabel II emprestou o colar a uma jovem Diana, princesa de Gales – que celebrizou o uso de gargantilhas – pouco mais de um ano depois do seu casamento com Carlos. A Princesa do Povo desfilou com o acessório quando se encontrou com a Rainha Beatriz dos Países Baixos no Hampton Court Palace, corria o ano de 1982.

As gargantilhas tornaram-se uma das mais fortes imagens de marca de Diana, que em 1982, para a receção à rainha Beatriz dos Países Baixos voltou ao seu clássico, quer durante o dia quer no jantar formal © Getty Images
A duquesa de Cambridge dá ainda continuidade a uma tradição que nos devolve a 1861 e à morte do príncipe Alberto. Após a sua despedida, a rainha Vitória nunca mais foi vista com cores, uma rigorosa escolha de guarda-roupa que se estendeu também aos complementos. A monarca preferiu os diamantes e infindáveis fiadas de pérolas, associadas ao luto pelo menos desde o período romano.

As máscaras, pretas, foram a novidade num guarda-roupa que não fugiu às convenções © Getty Images
Ao longo dos anos, os Windsor seguiram o exemplo de Vitória, com pérolas a assumirem papel preponderante no traje de luto, casos do funeral do Rei Jorge VI, da Rainha Mãe, da Princesa Margaret e de Diana. Para o funeral do marido, o príncipe Filipe, Isabel II elegeu brincos de pérolas, quatro fiadas de pérolas, e a pregadeira Richmond de pérola e diamante que pertenceu à Rainha Maria.