Graças a “Minari” – que se estreia nas salas portuguesas a 13 de maio —, de Lee Isaac Chung, Youn Yuh-jung já ganhou mais de três dezenas de prémios pela sua atuação. Contudo, esse número ainda não é maior do que os seus anos de carreira no cinema: em 2021 fazem precisamente cinquenta anos que apareceu pela primeira vez no grande ecrã, em “Woman of Fire” – que lhe valeu diversos prémios de interpretação –, de Kim Ki-young, um dos muitos filmes sul-coreanos em que participou. Antes disso, tinha carreira na televisão, algo que manteve em paralelo com a sua carreira no cinema nestas mais de cinco décadas.
Agora está a ganhar um maior reconhecimento internacional. O primeiro filme que faz em Hollywood está a levar a atriz de 73 anos para novos públicos e a torná-la numa das sensações da temporada de prémios de 2021: não só pelo que ganhou esta noite, mas também pelas seus memoráveis discursos de vitória, como foi o caso do discurso nos BAFTA há umas semanas:
Esta noite não foi exceção. Yuh-Jung Youn voltou a repetir a proeza de conquistar o público com o poder da palavra, a começar pelo facto de se ter mostrado satisfeita em “finalmente” conhecer Brad Pitt: “Onde estava quando estávamos a filmar?”, questionou a septuagenária. No discurso, a atriz relativizou a avaliação que a colocou entre os vitoriosos dos Óscares, falando que foi a “sorte” e não apenas o talento que a conduziu à glória. Sorte e uma pitada de bondade: “Talvez seja da hospitalidade norte-americana para com o ator coreano?”.
Contudo, esta não é a primeira vez que a vida da atriz passa pelos Estados Unidos da América. Em 1974 casou-se com Jo Young-nam – também ele uma personalidade das artes na Coreia do Sul – e viajaram para os Estados Unidos. A mudança obriga a atriz a parar a sua atividade – isto no início da sua carreira, numa altura em que era uma atriz muito cobiçada –, que recomeça em 1984, quando retorna à sua terra natal. Mal saberia ela que quase três décadas depois seria uma produção norte-americana que colocaria o seu nome – e a sua interpretação – nas bocas do mundo.
O regresso faz-se pela televisão, passa grande parte das décadas de 1980 e 1990 a filmar incansavelmente. O papel de matriarca surge-lhe muitas vezes associado e isso certamente a calejou para fazer tão bem de mãe e avó em papeis que se seguiram no cinema, inclusive em “Minari”.
Apesar de só agora estar a receber um grande reconhecimento internacional graças ao filme de Lee Isaac Chung, Youn Yuh-jung participou em alguns filmes sul-coreanos que tiveram algum destaque no ocidente ao longo da última década, como é o caso de “The Housemaid” (2010) e “The Taste Of Money” (2012), ambos de Sang-soo Im, e ambos nomeados, em diferentes anos, para a Palma de Ouro em Cannes, “Noutro País” (2013), de Sang-soo Hong, ou “The Bacchus Lady” (2016), de Je-yong Lee. Curiosidade: “The Housemaid” é um remake do primeiro filme de uma trilogia de Kim Ki-young, do qual “Woman Of Fire”, o primeiro papel no cinema de Youn Yuh-jung”, é a segunda parte. Se em “Woman Of Fire”, de 1971, a atriz interpretava uma mulher fatal, em 2010 tem um outro tipo de papel e de influência na história (e com curiosas ligações ao seu papel original).
Uma lição de que nunca se está velho para nada. A emocionante história de sobrevivência da família Yi nos Estados Unidos, durante a década de 1980, deu a Youn Yuh-jung uma estatueta que a própria provavelmente nunca pensou ter em casa. Agora tem. Para juntar às dezenas de prémios que já venceu no oriente, ao longo de mais de cinco décadas de carreira.