Ricardinho, Pedro Costa, Arnaldo, Joel Queirós, César Paulo, Gonçalo Alves, Davi, Bebé, Zé Maria, Zé Carlos. Com um (então) Pavilhão Atlântico cheio, o Benfica teve em 2010 um dos dias mais marcantes no futsal quando bateu na final o Inter Movistar no prolongamento. A 25 de abril, os encarnados conseguiram a sua revolução e alcançaram o primeiro título europeu na modalidade, a que se seguiu nova participação na Final Four onde foi derrotado nas meias-finais pelo Montesilvano, surpreendente conjunto italiano que ganharia essa edição da Liga dos Campeões (aí UEFA Futsal Cup) após vencer na final o Sporting. A partir daí, o conjunto da Luz alcançou um lugar entre os quatro melhores da Europa apenas em 2015/16, quando caiu nas meias-finais frente aos russos do Ugra no desempate nos penáltis. Agora, cinco anos depois, esse o principal objetivo que enfrentava agora.
Com o problema na baliza resolvido, depois de vários jogos sem poder contar com as habituais opções Roncgalio e André Sousa – este ainda de fora –, o Benfica chegava ao duelo com o Kairat Almaty, antigo bicampeão europeu (com o último título alcançado em 2015, também na Altice Arena) que voltava a marcar presença nesta fase com uma equipa recheada de jogadores experientes e habituados às grandes decisões como Higuita, Gadeia, Douglas Júnior, Humberto ou Fernandinho (que representou nos últimos três anos as águias), com apenas uma derrota ao longo de toda a temporada, na final da Taça da Liga, e 30 vitórias nos outros 34 encontros realizados incluindo duas goleadas nas fases anteriores da Champions, num percurso feito a olhar para esta Final Eight.
“Estamos prontos. Nos dias de hoje há pelo menos três situações que não controlamos: lesões, Covid-19 e resultados. Com a exceção destas três situações, estamos prontos. O plantel trabalhou muito bem e o jogo com o Sp. Braga enquadrou-se em algumas situações dessa mesma preparação. Conhecemos o adversário, sabemos que o adversário nos conhece e será certamente um jogo de excelência. Um jogo de cartel europeu e acredito que estaremos prontos para tudo o que envolve o encontro. O Kairat é uma equipa construída para esta competição. No seu Campeonato, conta com vitórias, quase todas por goleada. Tem estrangeiros de grande qualidade, dez jogadores brasileiros de topo. Sabemos de onde poderemos retirar dividendos. Mais do que reconhecer o que é a equipa do Kairat, é impor a nossa identidade, a nossa qualidade e a nossa ambição”, tinha destacado Joel Rocha, treinador que cumpre a sétima temporada na Luz, na antevisão do encontro ao canal do clube.
Em muitos momentos do jogo, excetuando apenas os cinco minutos iniciais da segunda parte, o Benfica deu uma resposta à altura perante o desafio que tinha pela frente. No entanto, e num encontro maioritariamente marcado pelo equilíbrio, o prolongamento pertenceu por completo ao Kairat, que chegou a uma vantagem de 6-2 que não ilustra em nada o que se passou no jogo mas que afastou de novo os encarnados das meias da Champions.
O encontro começou com a equipa de Kaká (que é também selecionador do Cazaquistão) a tentar assumir mais o domínio mas o Benfica desde cedo mostrou que estava preparado para os desafios que teria pela frente e criou duas grandes oportunidades seguidas tendo Roncaglio como protagonista, jogando em 5×4 para um primeiro remate que viu a recarga de Jacaré cortada em cima da linha por Rangel e uma segunda tentativa que deixou Silvestre muito perto do desvio. Mesmo sem Robinho, que se lesionou logo nos minutos iniciais na coxa, os encarnados estavam melhor no jogo e o primeiro golo do Kairat acabou por chegar contra a corrente da partida, com Gadeia a aproveitar uma perda de Roncaglio no meio-campo para fazer o 1-0 sem guarda-redes (15′).
O banco dos cazaques festejou de forma exuberante um momento que podia desbloquear o encontro mas essa alegria não durou mais do que 30 segundos, com o Benfica a chegar ao empate numa excelente combinação ofensiva que teve o toque final de Afonso Jesus ao segundo poste. Voltava tudo à estaca inicial, com Joel Rocha a pedir num desconto de tempo já a dois minutos do final para a equipa manter a exibição, continuar a apostar no jogo por baixo e a ter em atenção “os vídeos vistos de manhã”, em mais uma frase que foi possível ouvir dessa paragem técnica e onde ficou bem evidente a preparação cuidada das águias para este jogo dos quartos.
No segundo tempo, a melhor entrada do Kairat, com outro tipo de combinações ofensivas para tentar criar as situações de 2×1, fez com que o Benfica chegasse apenas em cinco minutos às quatro faltas, condicionando e muito a forma de estar da formação portuguesa até ao final da partida. No entanto, e mais uma vez, o menos provável foi o que aconteceu: os encarnados conseguiram ter uma boa resposta a essa fase menos conseguida, colocaram os cazaques também com três faltas, beneficiariam de duas boas oportunidades mas voltaram à posição de desvantagem em novo erro na saída de bola, desta vez de Fábio Cecília e com golo de Edson (31′).
Até pela experiência do Kairat e dos seus jogadores neste tipo de contextos, o Benfica entrava numa zona mais perigosa mas um erro de Higuita reabriu por completo a partida, entrando com o pé alto sobre Chishkala perto da linha lateral fora da baliza e vendo cartão vermelho direto. Entre duas grandes oportunidades falhadas a jogar com mais um, incluindo uma bola no poste de Tayebi (32′), e com um desconto de Joel Rocha pelo meio, a formação portuguesa não conseguiu aproveitar a superioridade numérica mas chegou ao empate apenas 30 segundos depois desse período, com Tiago Brito a encostar após grande assistência do regressado Robinho (35′).
Ficava tudo em aberto para um final eletrizante, onde Henmi acertou no poste logo na jogada seguinte a fazer a quinta falta (38′) e o Kairat teve ainda uma derradeira tentativa, mas o jogo iria mesmo para prolongamento, onde Tursagulov voltou a adiantar os cazaques a 25 segundos do final do primeiro tempo, antes de Gadeia bater André Correia num livre direto por sexta falta que fechou em definitivo o jogo (47′), Fernandinho aumentar a vantagem após um lance em que a bola voltou a andar em cima da linha da baliza do adversário (49′) e Orazov fechar as contas sozinho quando o Benfica já tinha apostado no guarda-redes avançado (50′).