O Porto foi o local escolhido para a apresentação nacional do primeiro Dacia eléctrico que, como é tradição na marca romena do grupo Renault, é simultaneamente o mais barato do mercado e de forma folgada. O Spring, apesar do seu ar de SUV robusto, cheio de alargamentos e grande altura ao solo (151 mm) para a classe, pertence ao segmento A do mercado, fruto de um comprimento de 3,734 m. Se este valor o deixa longe dos modelos do segmento B que rondam os 4 metros, como o Renault Clio ou o Dacia Sandero, permite-lhe alguma vantagem sobre os rivais directos, como o Renault Twingo Electric (menos 11,9 cm) ou Smart Forfour EQ (menos 23,9 cm).
Uma vez lá dentro, o espaço é bom, mas para quatro adultos, limite que adopta à semelhança da concorrência do segmento. Os plásticos são duros, mas marcados e mais agradáveis à visto do que ao tacto, com a construção a parecer robusta, pois não ouvimos um único ruído parasita nos quilómetros que percorremos pela calçada portuense, nem sempre em perfeito estado de conservação.
Os assentos não cativam, mas fomos avisados logo de início que estávamos perante modelos pré-produção e que deveríamos esperar mais dos bancos definitivos. De resto, não nos pareceu difícil encontrar uma posição confortável ao volante, apesar de nenhum deles ser regulável, banco ou volante. Sentados atrás dois adultos viajam sem problemas, mesmo que se aproximem do 1,80 m e, um pouco mais atrás, a mala surpreende pela generosidade, mais uma vez tendo em conta as dimensões do modelo. Com 270 litros (290 nas versões com kit anti-furo em vez de pneu sobressalente), o Dacia bate os 219 litros do Twingo e os 185 litros do Forfour.
45 cv e 230 km de autonomia
Com o Twingo e o Smart eléctricos a anunciarem motores com 82 cv, não deixa de ser surpreendente (pela negativa) que a Dacia tenha optado por uma unidade com apenas 45 cv (33 kW). Mas se a potência do eléctrico romeno é 45% inferior, o binário perde apenas 22%, com o Dacia a compensar parcialmente ao ser 12% (141 kg) mais leve do que o Twingo Electric e 13% (155 kg) do que o Smart, apesar de usar baterias maiores e mais pesadas.
Nas ruas do Porto, o sobe e desce não lhe mete medo, com o eléctrico da Dacia fabricado na China, com baterias locais, a revelar um dinamismo que nos surpreendeu pela positiva. Até aos 60 a 70 km/h, não é fácil distingui-lo de um Twingo ou Smart, a menos que estejamos perante uma comparação directa. É a partir desta fasquia que se nota menos “alma” no motor do Dacia, que ainda assim foi mais que suficiente para demonstrar uma agilidade aceitável nas estradas nortenhas, rápido nas acelerações até 80 km/h e mais calmo a partir daí. Isto no modo de condução normal, que lhe permite atingir 135 km/h, uma vez que o ECO limita o motor a 20 kW, cerca de 27 cv, e a velocidade máxima a 100 km/h, incrementando a autonomia em 10%.
Com a capacidade de recarregar em DC (carga rápida) com potências de até 30 kW (de 0 a 80% em menos de 1h) e em AC até 6,6 kW (0-100% em 5 horas), graças ao seu inversor interno, o Dacia anuncia 230 km entre visitas ao posto de carga. Na nossa experiência, com um muito reduzido percurso urbano e 90% de estrada e auto-estrada, rodando em modo normal, com o ar condicionado ligado e sem grandes preocupações com o consumo, percorremos os 102 km do percurso a uma média de 12,3 kWh. Com a bateria de 27,4 kWh de capacidade útil, era previsível uma autonomia de 223 km, próximo pois dos 230 km reclamados segundo o método WLTP (305 km em ciclo urbano).
Embora o Spring seja alto e estreito, o comportamento revela alguma agilidade, como ficou provado ao praticamente igualar a velocidade máxima do Porsche Taycan no teste do alce (77 contra 78 km/h). Isto apesar de ter montados uns pneus 165/70 R14 com um nome sugestivo, mas que na realidade são produzidos na China pela Linglong, com índice energético E, quando um pneu de uma marca premium é facilmente B ou C, melhorando o comportamento e o consumo. A direcção é muito leve e as suspensões são muito macias, o que ajuda ao conforto.
Duas versões do Spring e a Cargo com dois lugares
O Dacia Spring que conduzimos era a versão Business, destinada às empresas de car-sharing, onde a Dacia quer ter um papel preponderante como fornecedor de veículos eléctricos acessíveis. As versões que serão comercializadas em Portugal e nos restantes países europeus serão duas, a Comfort e a Comfort Plus, a primeira proposta por 16.800€ e a segunda por 18.300€, um investimento adicional que se justifica pela inclusão de ecrã central de 7” com multimédia e navegação, sistema de ajuda ao estacionamento traseiro e câmara de marcha-atrás, com a possibilidade de carregar a 50 kW a implicar um investimento adicional de 550€ e o flexicharger 350€.
Além de mais equipada, a versão Comfort Plus é ainda mais atraente, ao exibir aplicações em laranja tanto no exterior como no interior. Na fase de arranque, o Dacia Spring Electric é proposto em quatro cores, cinzento metalizado, branco, vermelho e azul. Todas as versões podem usufruir da aplicação My Dacia, que permite controlar carregamentos de energia, programá-los e até enviar percursos e destinos para o veículo. Em termos de segurança, o Spring Electric conta ainda com seis airbags, sistema de travagem de emergência e limitador de velocidade.
A última versão a chegar ao mercado será o Spring Electric Cargo, a versão comercial com apenas dois lugares. Lá atrás surge um compartimento de carga com 1100 litros e capacidade de transportar até 325 kg. De acordo com a marca, para o Spring eléctrico que chega em Setembro têm já 185 encomendas, o que não deixa muitas unidades disponíveis entre as 250 que, em 2021, estão destinadas ao nosso país.