A associação de produtores do setor hortofrutícola de Odemira (Beja) considerou esta segunda-feira “complexa” a operacionalização da testagem à Covid-19 para os trabalhadores agrícolas passarem pelos postos de controlo nas duas freguesias onde vigora a cerca sanitária.

O presidente da Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores de Odemira e Aljezur (AHSA), Luís Mesquita Dias, disse existir “uma logística e um trabalho administrativo de controlo e de operacionalidade desta ação que torna tudo muito complexo”.

Foi determinado e acordado com os ministérios da Agricultura e da Saúde que as empresas enviariam para a AHSA as listas das pessoas que, no dia seguinte, iriam trabalhar. Nós coordenamos e enviamos para a Direção Regional de Agricultura (do Alentejo) que, por fim, envia para a GNR”, explicou.

Apesar de considerar o processo “um bocadinho burocrático”, o responsável disse que os produtores, associados da AHSA, “estão com o maior dos esforços a tentar colaborar” e, na “medida do possível”, a operação “até não está a correr muito mal”.

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No entanto, segundo Luís Mesquita Dias, “as empresas estão a ter dificuldade em conseguir testar todas as pessoas, porque há um afluxo grande” aos testes, mesmo “depois de terem feito um esforço para reduzir ao mínimo o número de trabalhadores nestes dias, até quinta-feira”.

“Dada a limitação dos postos de testagem, está a ser muito difícil e, sobretudo, está a ser difícil ter os testes prontos a tempo”, para permitir às empresas enviar os trabalhadores para as explorações agrícolas “no dia seguinte”, revelou.

No caso dos testes do tipo PCR “a necessidade não é diária”, mas, no que respeita aos “testes rápidos de 24 horas, o trabalhador tem de ser testado no dia seguinte e isso está a complicar o sistema”, acrescentou.

Os nossos associados sabem que têm o apoio da AHSA enviando as listas dos trabalhadores, mas aqueles que não são associados têm de tratar de toda a logística” que envolve “a realização dos testes, a obtenção dos códigos dos testes e o envio das listas para a Direção Regional de Agricultura”, frisou.

Luís Mesquita Dias indicou ter conhecimento de “trabalhadores que tentaram passar as barreiras, apresentaram os seus testes negativos, mas, depois, como não constavam das listas porque, eventualmente, as empresas não enviaram as listas para a Direção Regional de Agricultura, acabaram por não conseguir passar”.

Os valores variam consoante os testes, “mas, mesmo assim, não deixam de ter um valor significativo, sobretudo, porque são multiplicados por centenas ou milhares de trabalhadores que se deslocam dentro destas áreas” enquanto durar a cerca sanitária, alertou.

“Estamos a falar de verbas avultadas”, porque têm de ser somadas aos “custos que as empresas já estão a ter”, às “perdas de vendas, incumprimento de alguns contratos comerciais”, o que “coloca grande apreensão no setor da região”, sublinhou.

Esta é uma medida “que se consegue fazer um ou dois dias”, alertou o representante da associação, que frisou manter “a esperança” de que, na quinta-feira, “haja todas as razões para levantar a cerca (sanitária)” no concelho de Odemira.

No seu entender, esta situação, “tal como está, é bastante insustentável”, do ponto de vista “de gestão, logística e de redução da atividade” das explorações agrícolas.

Se uma grande empresa consegue prolongar uns dias mais esta situação de trabalho, com um número de trabalhadores reduzido, há muitas pequenas e médias empresas que temo que não resistam muito mais tempo”, avisou.

Na quinta-feira, em Conselho de Ministros, o Governo decidiu manter, devido à incidência de casos de Covid-19, a cerca sanitária nas freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve, em vigor desde dia 30 de abril, mas com “condições específicas de acesso ao trabalho”.

Segundo o despacho do Governo, publicado na sexta-feira à noite em Diário da República, a entrada nas freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve para o “exercício de atividades profissionais” e para o “apoio a idosos, incapacitados ou dependentes e por razões de saúde ou por razões humanitárias” depende da apresentação de comprovativo de teste PCR negativo realizado nas 72 horas anteriores ou teste rápido antigénio negativo realizado nas 24 horas anteriores.

A saída das duas freguesias pelos mesmos motivos depende também de apresentação de novo teste rápido de antigénio com resultado negativo, realizado nas 24 horas anteriores.

Os encargos com os testes realizados a trabalhadores sazonais afetos a explorações agrícolas e do setor da construção são da responsabilidade da empresa utilizadora ou beneficiária final dos serviços prestados, ficou estabelecido no despacho.