Depois de uma longa ausência do primeiro escalão e com projetos feitos fora da esfera oficial do clube, o hóquei em patins do Sporting voltou na sua plenitude na temporada de 2014/15 com três grandes apostas entre as caras novas: o guarda-redes Ângelo Girão, o defesa Poka e o avançado João Pinto. Sete anos depois, Girão continua na baliza leonina, Poka joga no FC Porto e o seu irmão, Caio, um dos amigos próximos de Girão, joga em Itália com João Pinto ao serviço do Trissino. Como é normal nas modalidades, os jogadores vão trocando de projetos e foi por isso que, olhando para essa equipa leonina, o número 1 verde e branco dos leões e da Seleção ganhou o estatuto de principal referência do Sporting. E foi ele um dos mais emocionados em novo dia de festa.

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Após já ter conquistado uma Taça CERS (logo no ano de estreia e fazendo a Final Four na Catalunha em claras dificuldades físicas), uma Supertaça, um Campeonato, uma Liga Europeia e uma inédita Taça Continental pelos leões, além de ganhar também um Europeu (2016) e um Mundial (2019) pela Seleção nesse período, Girão carimbou a mais um triunfo na Liga Europeia, naquela que foi a primeira ocasião em que uma equipa nacional conseguiu revalidar o principal título europeu de clubes em edições consecutivas e que, em paralelo, colocou o clube verde e branco como o que tem mais vitórias na competição. “É nosso, fizemos história”, atirou.

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Ângelo Girão em entrevista

Como é habitual, o guarda-redes foi um dos mais extrovertidos nos festejos, tendo um momento captado pela Sporting TV em que foi apanhado numa chamada telefónica para Raúl Marin, avançado espanhol que estava na equipa do ano passado, sem esquecer enquanto falava do amigo “Caiinho”. “Amigo, olha, vamos aí passar uma semana a Sevilha. Paga o Freitas!”, atirou entre gargalhadas. Mais tarde, na conferência de imprensa, os sorrisos deram lugar à emoção, com Girão a não esquecer o facto de ter ganho desta vez sem a braçadeira de capitão.

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“Talismã? Acho que primeiro temos de fazer uma ressalva importante: a primeira Final Four 100% portuguesa é sinal que o hóquei em Portugal está bem. Parabéns às quatro equipas. Parabéns à Oliveirense e ao Benfica, que foram dignos vencidos nas meias-finais, e ao FC Porto. Podia ter caído para qualquer uma das quatro equipas. Isso de ser talismã… Tenho tido a sorte de estar inserido neste grupo de trabalho, tenho sorte de poder trabalhar com esta gente que adora o hóquei e me protege muito. Estou contente por ter ganho, muito”, começou por dizer. “Fizemos história hoje, num ano difícil, que não começou bem. Era muito importante para mim ganhar. Dou sempre tudo. Tenho defeitos como toda a gente, faço coisas erradas, mas entrego tudo a este clube, ao Sporting. Este ano queria ganhar muito”, acrescentou, emocionado e acarinhado pelo técnico Paulo Freitas.

De recordar que, no início da época, quando estaria a ser negociado um novo contrato com redução salarial, Girão deixou um desabafo nas redes sociais. “Deceção é receber ingratidão de quem você ajudou a fortalecer!”, atirou, explicando pouco depois que não se estava a referir ao presidente do clube leonino, Frederico Varandas. A frase não caiu bem em termos internos e, a partir da pré-temporada, foi Pedro Gil que assumiu a braçadeira da equipa, sendo que a determinada altura chegou a ser levantada a hipótese de saída de Alvalade que nunca se confirmou. Este foi também um ano atípico para o guarda-redes na equipa, depois de ter sido um dos jogadores infetados com Covid-19 no final de janeiro a par de Pedro Gil, Telmo Pinto e do treinador, Paulo Freitas.

“Quando vim para o Sporting fui muito criticado. Saí de uma equipa campeã nacional [Valongo] para um projeto em construção à pressa, cheio de pressão, em que nos metiam um peso de quatro milhões de adeptos em cima. Ainda esta semana vimos a grandeza do Sporting com os festejos do futebol. [No hóquei], sabia que ia ser um passo difícil, não sabia que íamos chegar a este patamar tão cedo. O Sporting apostou, os adeptos estão sempre ao nosso lado. Ainda agora no Marquês, nos festejos do futebol, estive lá e fui extremamente acarinhado. Só posso agradecer. Esta taça é muito deles. Obrigada à direção, continuem a apostar em nós. Obrigada ao futsal que também é nosso talismã”, concluiu, depois de Paulo Freitas ter falado das mensagens de outras modalidades.

“É usual começar por falar dos jogadores e dizer que foram fantásticos mas isso foi evidente e toda a gente viu. Quero falar do que ninguém viu. Toda a estrutura fez um trabalho fantástico desde sábado à noite. Os nossos fisioterapeutas, a nossa equipa médica, trabalharam afincadamente até às 03h para recuperar os jogadores. Muito obrigado pelo trabalho que fizeram. Já tínhamos determinado que hoje íamos deixar tudo e íamos morrer dentro da pista para conquistar novamente esta taça. Além deles, a minha equipa técnica, toda a gente que colabora com esta rapaziada, há muita gente a trabalhar por trás para que os jogadores tenham todas as condições, estão todos de parabéns. Os jogadores reagiram à adversidade como nunca. Tínhamos determinado que seria importante reagir às adversidades e isto é fruto do trabalho que desenvolvem”, salientou o treinador.