O assunto esteve tão ausente da sala como o próprio visado: apesar da polémica que rodeia o deputado do Bloco de Esquerda Luís Monteiro, que foi acusado de violência doméstica por uma ex-namorada mas devolveu a acusação, o tema nunca foi referido no palco da XII convenção do partido e o deputado não marcou presença em nenhum dos dias da reunião de Matosinhos.

A decisão de não participar na convenção, apurou o Observador, foi transmitida pelo deputado na mesma altura em que decidiu retirar-se da candidatura à Câmara Municipal de Gaia. Até porque foi nesse momento, há duas semanas, que Luís Monteiro anunciou numa nota enviada à comunicação social que também não integraria qualquer lista candidata aos órgãos do Bloco de Esquerda — Monteiro é neste momento membro da Mesa Nacional, uma espécie de direção alargada do BE.

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Assim, Monteiro não entrou no Centro de Desporto e Congressos de Matosinhos, nem em sentido literal nem figurado: apesar de ter valido críticas internas à direção pela forma como lidou publicamente com a polémica, o assunto não foi abordado em palco. Houve quem falasse do tema da violência doméstica e de género, uma das bandeiras do partido — Maria Jorgete Teixeira foi ao palco dizer que as agressões “têm de ser denunciadas” com “a mesma firmeza e os mesmos critérios”, seja em que “classe e ideologia” for — mas nunca se falou do caso em concreto.

Direção considerou desistência “ajustada”

Na nota que enviou há semanas à comunicação social, Monteiro adiantava que se manteria como deputado, com a concordância da direção do partido, e desistiria das candidaturas autárquicas e internas por causa do “efeito público das calúnias”, dizendo esperar que o processo na Justiça “esclareça definitivamente a natureza daquelas acusações”.

E a direção acredita que foi a melhor solução: classificando-a como uma “decisão pessoal”, Catarina Martins dizia à Lusa, na véspera do arranque da convenção, que a decisão lhe parecia “ajustada tendo em conta os factos” que se conheciam. Mesmo tendo sido uma decisão pessoal, o assunto já tinha merecido críticas internas, de militantes que questionavam a forma como a direção lidou com o assunto — o Bloco remeteu o tema para a Justiça, recusando o tribunal da opinião pública ou do Twitter (onde foi feita a acusação), o que lhe valeu críticas de incoerência quanto à credibilização das vítimas que defende.

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O silêncio fez lembrar o que se verificou na convenção anterior, em 2018, que aconteceu meses depois da demissão de Ricardo Robles, o vereador que esteve envolvido num esquema de especulação imobiliária. Na altura, a direção também foi, depois de um “erro de análise” admitido por Catarina Martins por ter num primeiro momento respaldado Robles, rápida a identificar e isolar um problema que seria tóxico para a imagem do partido como um todo. Depois de a coordenadora assumir o erro no discurso de abertura daquela convenção, o assunto morreu ali — e Robles deixou de ser visto na generalidade dos eventos públicos do Bloco, com uma primeira exceção na noite eleitoral das europeias de 2019, meses depois da convenção.

Monteiro irá inevitavelmente continuar a aparecer mesmo enquanto não estiver concluído o processo em tribunal, já que mantém o seu lugar no Parlamento. Mas por agora, e com o assunto ainda quente, o Bloco protege-se nas próximas batalhas eleitorais — neste caso nas autárquicas deste ano, mas também nesta eleição para os órgãos internos, tão colada ao momento em que o caso rebentou que poderia contaminar a convenção. Mesmo que o BE acredite que não sai “beliscado” da polémica, como defendia, em entrevista ao Observador, o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, até porque o deputado já anunciou que partiria para tribunal para se defender contra a ex-namorada, que é também ex-militante do BE.