Espanha e Portugal aproveitaram o encontro particular de preparação para o Campeonato da Europa no Wanda Metropolitano, em Madrid, para apresentarem de forma oficial a candidatura à organização do Mundial de 2030 depois de uma primeira tentativa derrotada em 2010 (ganhou a África do Sul). E houve um pouco de tudo, entre um discurso inicial que recordou as palavras de José Saramago sobre a união entre as nações, um vídeo de promoção com as presenças de Luís Figo e Paulo Futre, a assinatura de uma declaração governamental de apoio pelos primeiros-ministros Pedro Sánchez e António Costa e uma troca de camisolas no final entre o rei Felipe VI e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Pelo meio, falaram os presidentes das federações.

“Em dezembro de 1921, Portugal fez aqui muito perto o seu primeiro jogo de futebol. O futebol faz parte da nossa história. Vamos fazer uma grande equipa. Temos as melhores praias mas um turismo de interior excecional, a gastronomia, o tempo. Vai ser uma experiência inesquecível. O êxito de Espanha e Portugal será também o êxito da FIFA”, salientou Luis Rubiales, responsável da Real Federação Espanhola de Futebol.

“Em dezembro deste ano passam 100 anos do primeiro jogo da Seleção Nacional de Portugal e o adversário foi o mesmo desta noite, o nosso país vizinho e irmão Espanha. Por isso, que ano melhor para anunciar formalmente o compromisso das duas federações, para trabalharem conjuntamente e como uma só nação, por um Mundial de Futebol na Península Ibérica. É isso que hoje afirmamos. O nosso compromisso. Espanha e Portugal venceram os três últimos Campeonatos da Europa de futebol. São países com uma história singular e uma tradição de bem receber e organizar eventos de enorme dimensão”, começou por dizer Fernando Gomes, líder da Federação.

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“Os Jogos Olímpicos de 1992, organizados por Espanha, certamente não por acaso, permanecem na memória coletiva de adeptos e desportistas mundiais, não apenas pelo que significaram de bem organizar mas pelo legado de condições desportivas e de novas conquistas que permitiram aos atletas de Espanha. O Euro-2004, organizado por Portugal, continua até hoje a ser referido por todos os fãs de seleções nacionais como absolutamente exemplar e transformador na experiência de mistura entre um país, uma cultura e todos os restantes povos. Há um ano, em plena pandemia, Portugal e Espanha deram as mãos à Europa organizaram as irrepetíveis Finais a 8 das Ligas dos Campeões feminina e masculina. Há uma semana, Portugal e a cidade do Porto voltaram a dar as mãos à Europa, organizando a Final da Champions pelo segundo ano consecutivo”, prosseguiu o número 1 da Federação Portuguesa de Futebol, antes de abordar o atual contexto pandémico.

“A nossa paixão pelo desporto e pelo futebol vem de muito antes de nós e poder receber um Mundial é, temos de o afirmar sem nenhuma dúvida, é algo que os dois Países merecem muito (…) Estar aqui hoje, nesta cerimónia, perante as mais altas figuras de Estado das nossas duas Nações, perante uma Federação como a de Espanha e a sua vontade transformadora, é motivo de responsabilidade e honra. Responsabilidade de quem normalmente entra para vencer respeitando todos e contra ninguém. Honra por ter antes de tudo, conquistado a confiança dos mais altos magistrados das nossas Nações. Na fase final de uma luta tão improvável quanto difícil frente à uma pandemia que a tantos afeta e afetou, queremos unir tudo o que pudermos para reativar no maior projeto desportivo do mundo, as nossas sociedades, as nossas economias e a projeção dos nossos países. A viagem começa agora. Unidos e a uma única voz anunciamos ao mundo: vamos!”, concluiu.

Para já, entre confirmações oficiais e anúncios de possíveis candidaturas, a proposta ibérica já sabe que poderá ter de competir com outras organizações de diferentes continentes. Nesta fase, este é o ponto de situação:

  • Marrocos: depois de ter perdido a candidatura ao Mundial de 2026, o país africano quer voltar a entrar na corrida e admite colocar mais nações na organização entre Tunísia, Egito e/ou Argélia para fazer regressar o Campeonato do Mundo a África depois da edição de 2010 recebida pela África do Sul. Existem duas outras possibilidades já levantadas mas com pouca força para ganhar forma: Egito sozinho ou Camarões;
  • Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai: depois de ter organizado o Mundial de 2014 através do Brasil, a América do Sul prepara mais uma candidatura a 2030 com vários países em parceria, o que permitiria uma outra organização também em termos de investimento pela divisão dos custos totais. Existe também uma hipótese que passa por juntar outros três países na mesma candidatura: Equador, Colômbia e Peru;
  • Bulgária, Grécia, Roménia e Sérvia: a primeira proposta europeia para a organização do Mundial de 2030 surgiu num projeto conjunto de quatro países mais periféricos da UEFA que têm como ideia receber uma grande competição para darem o salto também em termos qualitativos nas infraestruturas. Houve já alguns rumores sobre mais duas possíveis candidaturas: uma britânica, com Inglaterra, Escócia, País de Gales, Rep. Irlanda e Irlanda do Norte; e outra com Polónia, Ucrânia (que organizaram o Euro-2012) e Bielorrússia;
  • Coreia do Sul: a Ásia ainda não tem qualquer candidatura oficial, com os sul-coreanos, que organizaram o Mundial de 2002, a tentarem estabelecer acordos para um novo projeto conjunto com Japão, China ou até… a Coreia do Norte. A Arábia Saudita foi o outro país asiático que colocou a possibilidade.

De recordar que o Mundial de 2022 foi atribuído ao Qatar, sendo o primeiro realizado em datas fora do verão, como é habitual (21 de novembro a 18 de dezembro). Existiam mais quatro candidaturas ao evento, entre EUA, Coreia do Sul, Japão e Austrália. Já o Campeonato do Mundo de 2026 será uma organização partilhada entre EUA, México e Canadá, que venceu numa única ronda a proposta que tinha sido apresentada por Marrocos.