Chamava-se David Dushman e, em 27 de janeiro de 1945, aos comandos de um carro de combate soviético T-34, derrubou a vedação eletrificada em torno do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, considerado como o pior campo de extermínio criado pelo regime nazi na Segunda Guerra Mundial. Era o último soldado a ter participado na libertação do campo. Morreu no sábado, aos 98 anos, em Munique.

“Cada testemunha que nos deixa é uma perda, mas a despedida de David Dushman é particularmente dolorosa“, afirmou a presidente da comunidade religiosa israelita de Munique e Alta Baviera, Charlotte Knobloch, em declarações ao diário Abendzeitung. “Perdemos um homem corajoso, honesto e sincero”, considerou ainda.

Naquele dia de 1945, o campo Auschwitz-Birkenau foi libertado pelo Exército Vermelho soviético. Cerca de sete mil prisioneiros, incluindo mais de 600 crianças e jovens, estavam vivos na altura da libertação. Mais de um milhão de pessoas foram mortas naquele local.

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Nas mesmas declarações, Charlotte Knobloch recordou que o soldado Dushman “esteve na linha da frente quando a máquina assassina dos nacionais-socialistas foi esmagada em 1945”.

Como “herói de Auschwitz”, David Dushman fez parte das forças libertadoras do campo de concentração, “salvou inúmeras vidas” e na atualidade era “um dos últimos” que podia falar sobre esse acontecimento com base na sua própria experiência, de acordo com a representante.

David Dushman tinha celebrado recentemente os seus 98 anos e na altura foi designado membro honorário da comunidade religiosa israelita de Munique e Alta Baviera. O antigo soldado e a respetiva família também foram alvo de exclusão, marginalização e difamação na antiga União Soviética por causa das suas origens judaicas.

O pai de David, um médico, foi vítima das purgas conduzidas pelo regime soviético de Estaline e morreu num campo de trabalhos forçados no norte do Círculo Polar Ártico.

David Dushman, distinguido pela sua bravura com dezenas de medalhas e condecorações de honra, começou uma nova vida após o conflito mundial e treinou a seleção nacional feminina de esgrima da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) durante quase 40 anos, entre 1952 e 1988, e formou atletas de elite.

Na qualidade de selecionador, o antigo soldado testemunhou, em 1972, durante os Jogos Olímpicos de Munique, o sequestro de 11 atletas israelitas por um comando terrorista palestiniano que ficaria marcado pela morte de 17 pessoas.

Durante os últimos 25 anos, David Dushman viveu na cidade alemã de Munique, tendo sido presença frequente em ações didáticas realizadas em escolas sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).