Rafael Nadal tinha acabado de perder pela primeira vez nos últimos seis anos e pela terceira vez naquela que se tornou a sua catedral do ténis, Roland Garros. “Sei que posso jogar melhor neste court, dei tudo a nível físico e mental, mas não foi suficiente. Falhei um vólei decisivo no tie break mas são erros que podem acontecer. Joguei contra um dos melhores da história e faltou-me um extra mas sei que o meu jogo não foi um desastre. Não creio que este tenha sido o melhor Djokovic de sempre, fez um grande jogo mas faltaram-me coisas. Tendo ganho 13 vezes dói-me menos perder mas é certo que os anos passam e nada é eterno. Sou consciente de que a cada edição vou ter menos possibilidades. Este ano tinha uma importante oportunidade. Não dramatizo muito nas derrotas nem me exalto muito nas vitórias, tenho de estar preparado para ambos”, atirou o espanhol.

Quando todos já apontavam esta semana em Roland Garros como aquela onde se iria fazer história com Rafa a passar para o topo da classificação dos jogadores com mais Grand Slams, Novak Djokovic conseguiu vergar o favorito e qualificou-se para a final num dos torneios onde tem mais derrotas do que vitórias em finais (só no torneio de Paris chegou ao sexto jogo decisivo, levando até aqui uma vitória e quatro derrotas). Tão ou mais importante do que isso, conseguiu materializar aquilo que passou a ser o seu grande objetivo na carreira.

Não tenho prestado mais atenção ao ranking desde que atingi aquele recorde [de semanas na liderança do ATP]. Era a minha prioridade e agora deixou de ser. O meu foco agora são os Grand Slams. São os torneios a que mais ênfase dou nesta fase da minha carreira. Estou numa fase diferente da minha vida, em que quero passar mais tempo com a minha família a fazer outras coisas”, dissera o jogador de 33 anos, antes do torneio de Roma, no final de maio.

Confirmou-se a ideia. Mais do que isso, confirmou-se que não existe ninguém como Novak Djokovic quando tem um objetivo fixado na cabeça. Durante mais de duas horas, Tsitsipas, o jovem aspirante que fazia a sua estreia em finais do Grand Slam e que apostava tudo numa vitória que o catapultasse para os níveis que anda a ameaçar há dois anos, fez uma exibição quase perfeita e até nos momentos menos bons conseguiu sempre recuperar; a partir daí, o sérvio de 34 anos deu uma lição a todos os níveis: no plano físico, na parte mental, na vertente tática, na capacidade técnica. E com isso ficou apenas a um Grand Slam de Federer e Nadal, naquela que foi apenas a sua segunda vitória na terra batida de Paris. Ainda assim, uma nota: Tsitsipas veio para ficar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O primeiro set, que durou 68 minutos mas podia ter demorado uma eternidade para qualquer pessoa que goste mais ou menos de ténis, mostrou o melhor de Djokovic e mesmo assim acabou com a vitória de Tsitsipas. Houve grandes momentos de acelerações, de jogos ganhos no primeiro serviço, de vóleis, de amorties. Houve sobretudo muita emoção e uma demonstração enorme de força mental do grego: perdeu a oportunidade de fechar o parcial com 6-4, viu o sérvio ter o triunfo na mão antes de levar as decisões para o tie break, deixou-se empatar depois de ter estado com uma vantagem de três pontos mas conseguiu mesmo fechar o triunfo por 8-6.

Djokovic coçava os olhos, demorava ainda mais naquele ritual de bater várias vezes a bola antes de servir, ia procurando formas de ganhar tempo e reencontrar-se, não tanto com o melhor ténis que exibiu várias vezes mas com a forma de derrubar a autêntica muralha helénica que tinha pela frente. E essa vantagem mental que veio dos útimos pontos acabaram por fazer a diferença no arranque do segundo set, com Tsitsipas a quebrar logo o serviço a abrir, a aguentar com maior ou menor dificuldade o serviço, a colocar o sérvio em situações a que não costuma estar habituado, a fazer novo break e a ficar apenas a um set do triunfo após ganhar por 6-2.

Foi aqui que tudo virou. Tsitsipas vai ser um Deus da nova geração a par de Medvedev, Thiem ou Zverev, entre outros, mas Djokovic voltou a colocar em causa se é mesmo humano com uma recuperação fantástica que levou todas as decisões para o quinto set, havendo pelo meio uma assistência ao grego pelo desgaste que acusava e que lhe causava dores na zona das costas. Foi quase como se o sérvio sentisse o mínimo de fraqueza na consistência do jogo do jogador de 22 anos e colocasse maior agressividade no seu jogo para atacar esse ponto, o que lhe valeu um triunfo por 6-3 no terceiro parcial e por 6-2 no quarto, aquele que demorou menos tempo e em que existiu uma diferente maior entre os dois tenistas com as bancadas cada vez mais empolgadas com a recuperação.

O set decisivo até começou com Djokovic a não conseguir materializar um break point mas o 2-1 no terceiro jogo foi o golpe final num Tsitsipas que em algumas bolas parecia não ver o corpo a corresponder ao que a cabeça queria fazer. Os jogos passavam e aquela que foi uma das reviravoltas mais espectaculares em finais de Grand Slams a cinco sets ficava consumada com um 6-4 ao longo de pouco mais de quatro horas que ficará também como mais um aviso para o que se segue: sendo certo que Djokovic continuará a lutar para ficar como jogador com mais vitórias em Majors, a nova geração está cada vez mais perto de pegar na batuta do ténis mundial.