Se Antonín Panenka (sim, esse Panenka), herói do Euro 1976, elogia um golo, é porque o jogador em questão fez alguma coisa bem. De certeza. E, sendo checo, não é surpresa que estejamos a falar do golo de Patrik Schick frente à Escócia, na última segunda-feira. O melhor golo do Euro 2020 até agora.

Explica a antiga glória: “É preciso muita classe para conseguir aquele golo. O Patrick demonstrou uma extraordinária noção do jogo e habilidade para o ler. Viu o guarda-redes fora do seu espaço e bateu forte com o pé esquerdo. Lembro-me de uma vez acertar no poste, mais ou menos daquela distância, frente ao Inter Bratislava”.

Para quem ainda não viu, o segundo golo de Schick (bisou), avançado da Rep. Checa, frente à Escócia, na vitória por 2-0, foi sensivelmente do meio-campo. O remate de um jogador escocês é rechaçado e a bola sobra para o jogador de 25 anos. Em vez de esperar por colegas ou arrancar no contra-ataque, bateu forte e em jeito de pé esquerdo, aproveitando a posição de Marshall, guarda-redes escocês. Estava assim feito o golo do Euro até ao momento.

Com um remate a cerca de 47 metros da baliza, Schick conseguiu ainda marcar o golo a maior distância dos Europeus, ultrapassando Frings, da Alemanha, que no Euro 2004, em Portugal, frente aos Países Baixos, marcou a sensivelmente 36,5 metros. No top 5 deste ranking estão ainda o russo Beschastnykh (em 1996) e o espanhol Gordillo (em 1998), com golos a aproximadamente 31,5 metros, e a fechar está Gareth Bale, que no último Euro, no sempre importante jogo contra a Inglaterra, acertou nas redes a 30 metros de distância.

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O rapaz 42 milhões que só convenceu na Alemanha

Patrik Schick, apesar de jovem, já fez mexer muito dinheiro em transferências, principalmente aquando da ida para a Roma, que pagou aproximadamente 42 milhões de euros à Sampdoria para ter o jogador, que chegou a Génova depois de alinhar no Sparta de Praga e no Bohemians 1905, equipas do seu país natal.

Na Sampdoria, apenas com 20 anos, consegue 13 golos em 35 jogos, na época 2016/2017. Na época seguinte a Roma consegue-o por empréstimo, convence os dirigentes da capital italiana e é então contratado pelos tais 42 milhões.

Em Roma, no entanto, apesar de ter feito um número considerável de jogos nas duas épocas – 58 -, faz apenas 8 golos, nunca convencendo os dirigentes e a massa associativa, nem atingido o número de tentos e o destaque que havia conseguido nos clubes anteriores.

Assim, apenas um ano depois do seu passe ter sido adquirido por números estrondosos, segue para Alemanha em mais um empréstimo. Desta vez para o Leipzig, que nesse ano ficou em terceiro na Bundesliga e chegou à meia-final da Champions, cuja Final Eight foi disputada no Estádio da Luz devido à Covid-19. Volta a ter, alguns anos depois, uma temporada positiva, com dez golos em 28 jogos, mesmo tendo sido o avançado do Leipzig com menos minutos, devido à concorrência de Werner, Sabitzer, Poulsen e Forsberg.

O Bayer Leverkusen gostou do que viu e resgatou-o para os seus quadros, transferindo para os cofres da Roma cerca de 27 milhões de euros.

Em Leverkusen, na época passada, Schick consegue 13 golos e 5 assistências em 36 jogos, números mais do que suficientes para ser chamado a representar a Rep. Checa no Euro 2020. É, aliás, na seleção que mostra os números mais interessantes, ao somar atualmente, e já depois do bis frente à Escócia, 13 golos em 27 jogos.

E além de Panenka, que marcou seguramente o golo mais importante da história checa (em 1976 ainda era Checoslováquia), quem mais para comentar o remate de Schick do que Jan Koller, melhor marcador de sempre daquela seleção, com 55 golos em 91 jogos. “Foi uma obra prima. Como ele olhou para o jogo e executou. A técnica. Simplesmente perfeito. Nunca consegui um golo assim quando jogava. Lembro-me do Clarence Seedorf marcar de uma distância parecida. E temos de acrescentar que foi também um golo crucial para o resultado”, refere o gigante ex-avançado de clubes como B. Dormund, Anderlecht, Sparta de Praga e Mónaco.

Ultrapassada que está a Escócia, é seguramente com Schick como a principal seta apontada às balizas adversárias que a Rep. Checa vai enfrentar Croácia e Inglaterra, os “papões” que também fazem parte do Grupo D.