Rui Rio não esteve presente no primeiro dia das jornadas parlamentares do PSD, mas “vingou-se” nos 53 minutos de discurso no encerramento. Numa luta contra a digestão dos deputados que tinham acabado de almoçar e contra o jogo de futebol da Seleção nacional que iria começar dali a pouco tempo, o líder do PSD estava consciente de que hoje havia “mais adversários”, sendo que o PS passou para “terceiro” nesta lista. Fora as espiritualidades iniciais, Rio apelou à necessidade de Portugal ter um Governo e uma Assembleia da República com “perfil reformista” e culpou o Partido Socialista pelo insucesso do país na reformulação do sistema. Mas foi mais longe: “O primeiro-ministro não quer reformar nada; ainda que ele quisesse o PS não o deixava reformar porque o PS é ele próprio este sistema. Este sistema não é só do PS, mas é fundamentalmente do PS”.
E se o PS não quis, Rui Rio limpa as mãos para dizer que o partido de António Costa devia ter aproveitado enquanto era tempo, enquanto é líder da oposição. Fez de tudo, segundo reiterou, e tem “autoridade moral” para o dizer. “Em 10 milhões de portugueses não deve haver muitos mais que tenham autoridade moral para dizer aquilo que eu tenho: Não podia ter feito mais esforço e não posso fazer mais esforço do que aquele que tenho feito desde o dia em que tomei posse para tentar trazer, em nome de Portugal, o Governo para as reformas. Nunca ninguém fez o que eu fiz”, garantiu o líder do PSD.
Rio está certo de que os portugueses vão “acabar por perceber” que “o país não anda” porque causa do PS, porque é um partido “imobilista”. Está em causa, apontou, a “cultura do PS”, em que “normalmente só quer manter o poder para poder alimentar a clientela socialista”. “O governo vai nomeando, o PS vai adiando e Portugal vai definhando”, acusou.
“Não conheço setor que tenha tido tanta incapacidade para acompanhar os novos tempos, seja na morosidade, seja na sua organização, seja na falta de conhecimento técnico dos próprios magistrados, seja na violação deliberada do segredo de justiça para fomentar julgamentos populares”, apontou o líder do PSD.
As críticas ao PS multiplicaram-se por vários minutos e Rui Rio contrariou a ideia do primeiro-ministro de que o PSD “não apresenta ideias” ao lembrar que Costa recebeu um “livrinho” com propostas sociais-democratas. “Ele diz que não temos ideias (…) mas eu não digo que ele não tem ideias, digo que ele tem algumas e há duas que são mais fortes do que as outras todas: aumentar salário dos magistrados e nomear um procurador europeu à feição dos desejos do Governo”, recordou o líder do PSD
No seguimento, Rio explicou que um juiz estagiário começa a trabalhar e ganha 3424 euros, enquanto um professor do ensino secundário no topo da carreira ganha ganha 3374. “Esta é a justiça do PS”, atirou, frisando que o PS “não tem noção de justiça”.
Proposta sobre enriquecimento ilícito só apanhava “corruptozito pequenito”
Ainda antes de atribuir as culpas ao PS, Rui Rio tocou no tema do enriquecimento ilícito, diz “não ter nada contra” a proposta dos magistrados, mas teme que também esta seja rejeitada pelo Tribunal Constitucional. Para o presidente do PSD, o problema é mais grave do que isso e é preciso que haja seriedade. “Mesmo que conseguíssemos criminalizar o enriquecimento ilícito nos termos em que foi ao TC e voltou para trás, nós não apanhávamos nenhum corrupto de jeito, apanhávamos um corruptozito pequenito sem grande inteligência”, justifica.
Ou seja, para Rio, “um corrupto de inteligência média”, se ganhou dinheiro de forma ilícita, não o vai colocar nada em nome próprio. “Um corrupto de jeito, não um muito inteligente, se recebeu indevidamente alguma coisa pôs no nome de um amigo qualquer e de preferência de um amigo que viva muito longe”, acrescentou, frisando que “alguém que tem dois dedos de testa” não metia uma casa em seu próprio “sem saber explicar de onde vem o dinheiro”.
Portugal tem a “sorte” de não ter extremismos “fortes”
Rui Rio acredita que o aparecimento de extremismos em Portugal “não será azar”, mas sim a consequência da falta de capacidade de reformar e modernizar o sistema político. Para o líder do PSD, é uma “sorte” Portugal não ter ainda movimentos de extrema-direita com tanta expressão como aqueles que existem na Europa.
No encerramento das jornadas parlamentares do PSD, às quais Rui Rio apenas se juntou este domingo à hora de almoço, o presidente do PSD defendeu que “é no enfraquecimento do poder político” que a democracia perde resiliência. Para combater a situação atual, diz Rio, é preciso assumir e procurar “soluções”. Caso contrário, alertou o líder social-democrata, “o regime terá um fim”.
Aos olhos de Rui Rio é um “imperativo renovar e modernizar” o sistema para que “não chegue ao fim”, frisando que se assiste a uma “degradação”. E deixou alguns alertas aos deputados do PSD: “Não podem ser as minorias a impor-se às maiorias por falta de força.”
“Estamos com sorte de em Portugal não termos movimentos extremistas fortes a que as pessoas se possam agarrar”, sublinhou o presidente do PSD, ao sugerir que há quem queira demonstrar o contrário, sem nunca referir o nome do Chega, mas numa referência direta ao partido liderado de André Ventura. Por outro lado, frisou que “não faltam movimentos na Europa com capacidade intelectual muito forte” e não esqueceu esta preocupação.
Contudo, Rui Rio considera que “o aparecimento de movimentos extremistas fortes não será azar”, mas sim uma “consequência lógica da inaptidão de reformarmos o que tem de ser reformado”.