Pedri, Pedro López na certidão de nascimento, tem apenas 18 anos mas foge ligeiramente ao seu tempo. Embora tenha assegurado desde cedo a alcunha de “novo Iniesta”, o facto de estar com os pés bem assentes no Barcelona e a cabeça bem longe das nuvens nunca o empurrou para dentro do grupo de jovens jogadores tidos como o futuro do futebol internacional. Nunca foi Haaland, associado a vários gigantes quando ainda estava no RB Salzburgo; nunca foi Mbappé, que continua a fazer correr muita tinta devido a uma eventual saída do PSG; e nunca foi João Félix, que saiu para o Atl. Madrid por mais de 120 milhões depois de uma única época no Benfica. Pedri sempre passou entre os pingos da chuva. Até ao Euro 2020.

Depois de uma temporada muito consistente ao serviço do Barcelona mas onde a ausência de títulos à exceção da Taça do Rei nunca lhe permitiram ser grande assunto na imprensa internacional, Pedri chegou ao Euro 2020 sem o rótulo de titular indiscutível. Afinal, o meio-campo da seleção espanhola está cravado de jogadores que poderiam integrar o onze inicial de qualquer equipa, como Busquets, Koke, Thiago Alcântara, Rodri ou Marcos Llorente. Mas Pedri convenceu Luis Enrique pela maturidade pouco comum em alguém nascido em 2002, pela bagagem competitiva que trazia de uma época inteira a jogar ao mais alto nível e pela qualidade na hora de organizar o ataque.

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O jovem médio do Barcelona, que trocou o Las Palmas pelos catalães em 2020 e a troco de cinco milhões de euros, foi titular em todos os jogos que Espanha disputou até agora no Campeonato da Europa e só não cumpriu a totalidade dos minutos no último, contra a Suíça nos quartos de final, tendo sido substituído por Rodri na reta final do prolongamento já a pensar nas grandes penalidades. No primeiro jogo, contra a Suécia, tornou-se mesmo o mais novo de sempre a jogar pela seleção espanhola numa fase final de um Europeu. Pedri tem sido um dos melhores jogadores da equipa de Luis Enrique, assim como um dos melhores jogadores do Euro 2020 e um claro candidato ao troféu de Melhor Jovem Jogador, e vai realizar esta terça-feira contra Itália o 58.º jogo da temporada. Ou seja, se Espanha chegar à final, o médio vai sair do Europeu com 59 encontros disputados entre setembro e julho. Mas não quer ficar por aqui.

“O Luis de la Fuente [selecionador olímpico espanhol] falou comigo antes de comunicar a lista para os Jogos Olímpicos. Eu adoro jogar futebol e adorava continuar a jogar, apesar de perceber a preocupação do Barcelona, porque já tenho muitos jogos feitos nesta época. Mas o que digo ao Barça é que vou chegar preparado para a nova época”, disse recentemente o jogador, que integra a lista da seleção olímpica espanhola para Tóquio e que pode assim chegar aos 62 jogos só em 2020/21.

Na mesma entrevista, Pedri reconheceu ainda que o que está a viver esta temporada “é um loucura” e um “sonho autêntico” mas recusou a ideia de estar a ser instrumental para a Espanha de Luis Enrique. “Não é a Espanha de Pedri. Sinto-me como mais um. O importante é a equipa. Todos dão o seu grão de areia. O selecionador deu-me confiança desde o início e isso nota-se no número de minutos que tenho de jogo e sobretudo com os conselhos que me dá para melhorar e ver os erros que cometo. Estou-lhe muito agradecido”, atirou o jovem espanhol, cujo melhor amigo no Barcelona era Trincão, o português que vai ser cedido ao Wolverhampton.

Além da vontade de continuar a jogar, Pedri também já deixou uma promessa na eventualidade de marcar um golo. Sem ser propriamente um goleador — leva oito golos em toda a carreira, quatro no Las Palmas e outros quatro no Barcelona –, ainda não se estreou a marcar pela seleção mas já garantiu que o primeiro golo terá uma celebração especial dedicada às oito Ilhas Canárias, o arquipélago onde fica Tenerife, o local em que nasceu.