Cabo Verde e Portugal assinaram esta terça-feira um protocolo para proteção e conservação do património cultural, com destaque para o antigo Campo de Concentração do Tarrafal, visando a candidatura a património mundial.
O memorando de entendimento foi assinado pelos ministros da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, e da Cultura de Portugal, Graça Fonseca, no âmbito de uma visita oficial de dois dias que a governante portuguesa efetua ao arquipélago, e aconteceu no antigo Campo de Concentração do Tarrafal, no norte da ilha de Santiago.
Com o documento, os dois países pretendem cooperar na proteção, conservação, salvaguarda e divulgação do património cultural, através de formação, capacitação técnica, partilha de conteúdos científicos, publicações, investigação, intercâmbio profissional, atividades científicas conjuntas.
Mas também vai promover a mobilidade de técnicos, preparação de exposições, nomeadamente nos domínios do património material (móvel e imóvel), do património imaterial e dos museus, com especial destaque para o Museu da Resistência do Campo do Tarrafal e para o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade.
A ministra da Cultura portuguesa, Graça Fonseca, acrescentou que o protocolo vai ajudar na elaboração da candidatura do antigo campo de concentração do Tarrafal a património material da Humanidade, feita em colaboração com o trabalho que o Governo português está a realizar na Fortaleza de Peniche.
“São dois locais que têm uma história que contar, estamos a partilhar o trabalho, iniciamos em Portugal com todo o processo de musealização da Fortaleza de Peniche, agora Museu Nacional da Resistência, e é exatamente com esse objetivo, cooperação técnica nas diferentes áreas”, afirmou a ministra.
A cooperação técnica será entre a Direção Geral do Património de Portugal e o Instituto do Património Cultural (IPC) de Cabo Verde, explicou ainda a ministra, considerando que os dois países mostraram que não esquecem o passado e estão a construir o futuro.
“Para que a cultura chega a todos, para que património cultural esteja ao usufruto de todos, é fundamental preservá-lo e dá-lo a conhecer, sem censura, nem omissão, porque assim mesmo é a cultura”, disse Graça Fonseca.
Por sua vez, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, disse que, depois da reabilitação concluída há quatro meses, o país dá início a uma nova etapa de preservação e valorização da memória coletiva e “nunca esteve tão perto” da entrega da candidatura do antigo campo de concentração do Tarrafal a património da Humanidade.
Acreditando que a candidatura tem todas as condições para ser “vitoriosa”, Abraão Vicente disse que, além de Portugal, espera contar com “total engajamento” de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe.
O ministro afirmou que o país pretende entregar a candidatura na próxima data disponibilizada pela UNESCO, esperando que seja no próximo ano, mas explicou que o Governo tem toda a legislatura de cinco anos que iniciou em abril para o fazer.
“O objetivo traçado é neste mandato entregar o dossiê de candidatura do campo de concentração”, garantiu o titular da pasta da Cultura, indicando que será juntamente com o dossier da tabanca.
Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.
Reabriu em 1962, com o nome de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar e desde 2000 alberga o Museu da Resistência.
O espaço foi classificado Património Cultural Nacional em 2004 e integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.
Ao todo, foram presas neste “campo da morte lenta” mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.