O FBI cometeu erros graves na investigação à conduta de Larry Nassar, antigo médico da equipa de ginástica dos EUA e da Universidade de Michigan State, que abusou sexualmente de centenas de mulheres e meninas durante mais de 20 anos. É esta a conclusão de um muito esperado relatório de um investigador do Departamento de Justiça norte-americano.

O relatório conta que cerca de 70 atletas foram abusadas por Nassar, que estará preso o resto da vida, entre julho de 2015 e agosto de 2016. Foi precisamente no verão de 2015 que foram reportadas as primeiras alegações contra o antigo médico à secção de Indianapolis do FBI. E no ano seguinte chegou uma queixa diferente à polícia da Universidade de Michigan State.

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O relatório fala em mais de 70 atletas mas John Manly, segundo o New York Times, garante que o número é muito maior, talvez perto das 120 pacientes, incluindo uma que teria oito anos à altura dos crimes. “É um indicador devastador de que vários agentes federais encobriram os abusos de Nassar. Falharam perante estas mulheres, perante as famílias. Ninguém se preocupou minimamente com estas meninas”, refere Manly perante um relatório que diz que agentes de relevo do FBI não trataram o caso com a “seriedade” que este merecia. A investigação apenas andaria para a frente em setembro de 2016, aquando de um longo artigo do The Indianapolis Star que denunciava a questão. Assim, os agentes do FBI cometeram vários “erros básicos” e não agiram perante as ações que Nassar ainda praticava na altura.

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O agente especial W. Jay Abbott, responsável pela referida secção de Indianapolis, mentiu a superiores “para minimizar erros no tratamento das alegações contra Larry Nassar”. Abbott violou ainda as regras do FBI ao falar com Steve Penny, que era na altura o presidente do U.S.A Gymnastics (a equipa de ginástica dos EUA), sobre um possível emprego no Comité Olímpico dos EUA. Estas conversas decorreram ao mesmo tempo que ambos tratavam do caso das alegações dos abusos sexuais perpetuados por Nassar.

A advogada e antiga ginasta Rachael Denhollander, uma das primeiras pessoas a acusar publicamente Larry Nassar, afirmou que o que vem escrito no relatório mostra um “nível profundo de traição” que não a surpreende.

No Twitter, numa “thread” com várias publicações, Rachael Denhollander refere várias vezes, com revolta, que “nada vai acontecer” depois deste relatório, apesar dos detalhes graves que ele denuncia. “O que acontece aos agentes que mentiram? Que nunca se preocuparam em documentar as acusações? Que nunca abriram sequer uma investigação oficial?O que acontece ao supervisor que jantou com [Steve] Penny e recebeu uma oferta de trabalho em vez de parar um pedófilo?”, questiona.

O FBI, em comunicado, criticou os seus próprios agentes que falharam na ação, destacando que “não deveria ter acontecido“. “As ações e inações de certos agentes reportadas no relatório não são desculpáveis e desacreditam a organização”, lê-se. “Faremos tudo para garantir que as falhas destes agentes que vêm no relatório não acontecem novamente”, disse ainda a agência.

Mais de 260 mulheres e meninas dizem que Larry Nassar abusou sexualmente delas sob o pretexto de tratamento médico. Algumas das mulheres dizem que o abuso ocorreu há várias décadas. Larry Nassar admitiu que abusou sexualmente de meninas e mulheres jovens durante o tempo em que trabalhou na Michigan State University e na equipa olímpica dos EUA, que prepara os atletas para os Jogos Olímpicos.