Se tivesse uma filha, Simone Biles não estaria “confortável” com a ideia de a deixar competir pela USA Gymnastics. Quem o diz é a própria, que garante que ainda não confia na organização que regula e controla toda a ginástica norte-americana depois do escândalo de abusos sexuais que teve como principal protagonista o médico Larry Nassar.

“Está longe de ter acabado. Ainda existem muitas questões que precisam de respostas. Não deixaria uma filha juntar-se ao programa porque não me sinto confortável o suficiente. Eles ainda não assumiram a responsabilidade pelas próprias ações e por tudo o que fizeram. E não nos garantiram que não vai voltar a acontecer”, disse a ginasta de 23 anos ao programa “60 Minutes” da CBS. De recordar que Biles, que começou por passar ao lado dos testemunhos de centenas de ginastas que foram vítimas de Larry Nassar, acabou por associar-se ao caso já perto da condenação do antigo médico, anunciando que também ela sofreu abusos durante sessões de fisioterapia ou recuperação física.

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“Nós trazemos medalhas. Fazemos a nossa parte. Eles não podem fazer a parte deles como retorno? Enoja-me. Têm de responder sobre quem sabia o quê e quando. Eles falharam a tantas atletas. E a maioria era menor de idade. Não acham que é um problema grande? Se fosse eu naquela posição, se soubesse alguma coisa, queria resolver tudo imediatamente”, respondeu a norte-americana, que tem quatro ouros olímpicos e é a recordista absoluta de títulos mundiais, com 19.

Em causa está então a versão quase garantida de que, antes de os crimes de Larry Nassar serem tornados públicos e de o médico ter sido julgado e condenado, muitos elementos da USA Gymnastics terem tido conhecimento do que se passava: durante vários anos, sem que nada tivesse sido feito. Em janeiro de 2020, a presidente Li Li Leung — antiga vice-presidente da NBA e a quarta a assumir o cargo em 23 meses — anunciou um plano de compensação monetária de quase 180 milhões de euros para o grupo de atletas abusadas por Nassar. Um passo relevante, já que a USA Gymnastics tinha anunciado falência técnica meses antes, mas que acabou por não ser suficiente para restaurar a imagem da organização.

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“Reconhecemos o quão profundamente quebrámos a confiança das nossas atletas e da comunidade e estamos a trabalhar muito para construir de novo essa confiança. Tudo o que fazemos agora tem a intenção de criar uma cultura segura, inclusiva e positiva para toda a gente que participe no nosso desporto”, disse, na altura, Li Li Leung.

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