Não tem sequer metro e meio mas já é uma gigante na história dos Jogos Olímpicos. Aos 12 anos, Hend Zaza tornou-se a atleta mais nova a competir no ténis de mesa olímpico, a quinta atleta mais nova a competir nos Jogos Olímpicos modernos, a atleta mais nova a competir nos Jogos Olímpicos desde o espanhol Carlos Front em 1992 e foi a atleta mais nova a qualificar-se para Tóquio 2020. Esta madrugada, perdeu na primeira ronda e ficou pelo caminho. Mas deixou um legado que vai perdurar.

Zaza nasceu na Síria em 2009 e começou a jogar ténis de mesa em 2014, influenciada por um dos quatro irmãos mais velhos, e depressa demonstrou um talento fora do normal. A crescer num país em guerra, a treinar seis dias por semana com o barulho de tiros e bombardeamentos numa sala com quatro mesas e um chão de cimento degradado, a atleta faz treinos de apenas três horas devido aos frequentes cortes de energia e tem de importar bolas e raquetes porque não estão disponíveis em território sírio.

Hend Zaza chegou a campeã nacional e, no ano passado e depois de vencer Mariana Sahakian, tornou-se a primeira atleta síria a apurar-se para o ténis de mesa nos Jogos Olímpicos através da qualificação — isto porque Heba Allejji, síria que esteve no ténis de mesa dos Jogos do Rio, foi convidada pela Comissão Tripartite (Comité Olímpico Internacional, uma ou mais federações desportivas internacionais e um ou mais Comité Olímpicos Nacionais). Foi a escolhida para carregar a bandeira da Síria na cerimónia de abertura, que decorreu esta sexta-feira em Tóquio, e apontou os objetivos para os Jogos.

“O meu objetivo nos Jogos Olímpicos é jogar bem, para que o meu trabalho duro não tenha sido em vão. Vou dar o meu melhor e, se Deus quiser, algo bom vai estar guardado para mim (…) As nossas condições são muito difíceis mas, apesar disso tudo, fomos capazes de obter resultados. Claro que não vou para de jogar. O ténis de mesa é a minha vida inteira. Nos dias em que não treino, sinto saudades e esse dia não é bom. Quando vou jogar, esqueço-me de tudo o que se passa à minha volta”, explicou a jovem atleta antes do arranque dos Jogos.

Logo na primeira ronda, ainda ao início da madrugada deste sábado, Hend Zaza enfrentou a austríaca Liu Jia — que, aos 39 anos, poderia perfeitamente ser sua mãe. “Foi muito difícil preparar-me mentalmente para os Jogos Olímpicos mas acho que, de alguma forma, consegui ultrapassar isso. E essa é a parte que acho que me correu melhor durante o jogo. A grande lição foi a derrota, especialmente por ter sido no primeiro jogo. Na próxima vez, vou trabalhar muito para passar a primeira, a segunda e a terceira ronda, porque quero jogar mais nesta competição. Nos últimos cinco anos, passei por muitas experiências diferentes, especialmente durante a guerra no meu país e com o adiamento dos Jogos e os problemas para arranjar financiamento. Mas tive de lutar e esta é a minha mensagem para todos os que desejam chegar aqui: lutem pelos vossos sonhos, esforcem-se independentemente das dificuldades e vão atingir o vosso objetivo”, disse a jovem síria após a eliminação, sendo que ainda teve tempo para tirar uma selfie de recordação com a adversária.

Fã de Harry Potter e com um gosto especial pela matemática, Zaza pretende ser farmacêutica ou advogada. A mediática presença nos Jogos Olímpicos, porém, devem trazer-lhe bolsas de estudo e o interesse de clubes profissionais. Mas algo está muito certo na cabeça da jovem atleta: sair da Síria não é o objetivo prioritário. “Deixar a Síria de vez, definitivamente, não. Quero jogar pelo meu país… Quero ter a honra de representar o meu país em torneios internacionais e campeonatos. Estou a trabalhar para o futuro, para me tornar campeã do mundo e campeã olímpica”, explicou a síria, com apenas 12 anos.

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