A Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Eléctrica (APIGCEE) alertou esta quinta-feira para as consequências do fim do serviço interruptibilidade, em 31 de outubro, entre as quais o risco de “apagões descontrolados“.
“Está anunciado que o serviço de interruptibilidade irá acabar em 31 de outubro deste ano, sendo que nessa data o país vai perder 693 MW [megawatts] de potência desligável automaticamente, aumentando desta forma gravemente o risco de apagões descontrolados e retirando à indústria um instrumento que tem servido para viabilizar o seu funcionamento em Portugal”, afirmou a associação, em comunicado.
A associação alertou para as consequências que o fim do serviço de interruptibilidade, prestado pelos grandes consumidores de energia elétrica, terá, caso ocorram mais situações como a verificada no sábado, em que um incidente em França provocou a separação da rede elétrica da Ibéria da rede europeia.
Devido a esta separação de redes, o operador da rede elétrica portuguesa teve necessidade de desligar 800 MW de potência para evitar um apagão geral.
“Neste desligar de potência, todas as empresas da APIGCEE foram afetadas, com 400 MW a serem desligados. São nove empresas com 23 instalações o que significa, na prática, que cerca de 50% do deslastre foi feito nos associados da APIGCEE”, explicou a associação, acrescentando que “a salvaguarda do sistema foi, assim, conseguida porque existe um sistema de desligamento automático, no qual se insere o serviço de interruptibilidade de emergência”.
Segundo a APIGCEE, um apagão geral em Portugal pode afetar mais de quatro milhões de consumidores e custar cerca de 27 milhões de euros por hora.
“Atendendo ainda ao facto de que um apagão leva algumas horas a ser restabelecido, facilmente se poderá concluir que o custo do serviço de interruptibilidade em Portugal (cerca de 110 milhões de euros por ano) é um valor irrisório face à sua importância para o país”, sublinhou a entidade.
Por fim, a associação lembrou que o combate às alterações climáticas implica o aceleramento da eletrificação das economias, tornando as redes elétricas mais suscetíveis a apagões e, por isso, aumentando a “necessidade de mecanismos de defesa da rede elétrica, nomeadamente rapidez de corte de consumo”.
Segundo a informação disponibilizada na página de internet da Direção-Geral de Energia e Geologia, o Serviço de Interruptibilidade “consiste na redução voluntária pelo consumidor de eletricidade do seu consumo de eletricidade para um valor inferior ou igual ao valor da potência residual, em resposta a uma ordem de redução de potência dada pelo operador da rede de transporte”.
Aquele serviço pode ser prestado pelos consumidores de energia elétrica em muito alta, alta e média tensão, como as grandes indústrias, desde que não desenvolvam uma atividade que inclua serviços essenciais em que a aplicação do serviço de interruptibilidade possa pôr em risco a segurança de pessoas ou bens.
A gestão deste serviço em todas as vertentes, administrativa, técnica e operacional, é atribuída à REN – Redes Energéticas Nacionais, na qualidade de Operador da Rede de Transporte.
O Governo decidiu acabar com o serviço de interruptibilidade a partir de 31 de outubro.