Maria Kolesnikova foi uma das principais organizadoras dos protestos que o ano passado irromperam na Bielorrússia contra os resultados eleitorais das últimas eleições, que deram a vitória a atual Presidente Lukashenko com mais de 80% dos votos. Juntamente com o seu advogado Maxim Znak, começou esta quarta-feira julgada à porta fechada por conspiração para tomar o poder e por instigação a ações atentatórias contra a segurança nacional.

Os dois arguidos arriscam-se a 12 anos de prisão. À BBC, o pai da ativista assegurou que a “filha não era culpada” e que lhe tinha comunicado que “estava tranquila independentemente da sentença” — tanto assim foi, que, quando foi levada para o tribunal, Maria Kolesnikova sorriu, dançou e fez um coração com as mãos que se tornou viral.

Maria Kolesnikova foi detida em setembro, depois de ter resistido a uma tentativa de expulsão do seu próprio país. Segundo a opositora bielorrussa, os serviços especiais bielorrussos (KGB) sequestraram-na e puseram-lhe um saco na cabeça para a conduzirem à fronteira ucraniana. Contudo, ela saltou do carro por uma janela e rasgou o seu passaporte, recusando-se a abandonar o país, o que levou ao seu encarceramento.

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“Vale a pena lutar pela liberdade. Não tenham medo de ser livres. Eu não lamento nada e faria o mesmo outra vez”, escreveu a ativista na prisão, no ano passado, numa mensagem transmitida pelo seu advogado.

Já Maxim Znak foi detido em casa em setembro. Após ter sido colocado em prisão preventiva, o advogado entrou em greve de fome durante alguns dias contra as ações arbitrárias de que estava a ser alvo.

Kolesnikova e o seu co-acusado, Znak, trabalhavam para Viktor Babaryko — adversário do Presidente bielorrusso recentemente condenado a 14 anos de prisão por fraude — faziam parte de um Conselho de Coordenação com sete elementos, criado após as presidenciais contestadas de agosto de 2020, para organizar uma transição pacífica do poder.

Vitaly Shishov não foi o único. Os opositores de Lukashenko que acabaram mortos

Maria Kolesnikova foi uma das três mulheres impelidas para a liderança do movimento de contestação, com Svetlana Tikhanovskaïa, candidata às presidenciais no lugar do seu marido, preso, e Veronika Tsepkalo. As duas fugiram do país, sob a pressão das autoridades.

Milhares de manifestantes e opositores foram detidos ou forçados a exilar-se desde o outono de 2020. E Minsk é também acusada de perseguir aqueles que abandonaram o país.

No caso mais recente, o diretor de uma organização não-governamental (ONG) que ajuda opositores ao regime bielorrusso, Vitali Chychov, foi encontrado enforcado na Ucrânia, na terça-feira.

A sua organização imediatamente acusou Minsk do assassínio, ao passo que a polícia ucraniana falou de suicídio ou de homicídio disfarçado de suicídio.

A tragédia ocorreu pouco depois de um incidente nos Jogos Olímpicos de Tóquio, com a velocista bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya, ameaçada de repatriamento forçado por ter criticado nas redes sociais a sua federação, que queria obrigá-la a correr numa categoria da competição que não era a sua. Ela disse temer ser presa quando regressasse ao país.

O regime bielorrusso é igualmente acusado de ter desviado em maio um voo comercial, com o pretexto de um alerta de bomba, para deter um jornalista dissidente que seguia a bordo, Roman Protassevitch.