“É fundamental. Sem ser hipócrita, em termos financeiros é importantíssimo, mas há também a parte desportiva. O Benfica tem de estar na Liga dos Campeões”. As frases são de Rui Costa, presidente e antigo “maestro” dos encarnados. E se o Benfica “tem de estar na Liga dos Campeões”, arrancava esta quarta-feira a hipótese de o conseguir, na primeira mão da 3.ª pré-eliminatória de acesso à liga milionária. Mas não eram precisas as frases de Rui Costa para se saber que estes dois jogos são essenciais para a época encarnada, mais ainda depois da eliminação da temporada passada, frente aos gregos do PAOK.

Podia chamar-se ao Spartak Moscovo-Benfica um jogo importante, ainda que seja apenas metade de uma eliminatória de 180 minutos (pelo menos), mas não deixava também de ser um jogo especial. Rui Vitória, treinador com conquistas ao serviço das águias, além de reencontrar o antigo clube, voltava a estar ligado a um antigo nemesis chamado Jorge Jesus.

Quando JJ saiu para o Sporting e Rui Vitória assumiu as rédeas das águias, os bate boca entre os dois foram algo polémicos, com Jesus a dizer que não considerava Vitória treinador e a questionar se este tinha mãos para o “Ferrari” Benfica. Na antevisão ao encontro desta quarta-feira, o treinador português do Spartak foi claro, mesmo sem querer alimentar “novelas”: “Até agora nunca nos falámos e também não nos vamos falar, obviamente”.

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Tirando a parte emocional do desafio, há a considerar a parte estatística, visto que os ares russos não têm sido muito favoráveis para o Benfica, que perdeu seis dos últimos sete jogos naquele país. E em 10 jogos na Rússia tem duas vitórias, dois empates e seis derrotas. O último triunfo, curiosamente, frente ao Zenit, o treinador era Rui Vitória, que hoje tinha como papel desfeitear um clube onde foi elogiado e criticado, mas somou títulos. E o último jogo entre os dois “misters” foi um Sporting-Benfica, em maio de 2018, que terminou sem golos, mas Rui Vitória vinha de uma senda de cinco jogos sem perder frente a Jorge Jesus.

O Benfica partia como favorito para o encontro de hoje, pelo menos teoricamente, mas para quem gosta de estatística a opinião poderia ser um pouco diferente.

E com três centrais, ao contrário do que Jorge Jesus até deu a entender na conferência de imprensa de antevisão, foram precisos alguns minutos para o jogo assentar com mais passes certos, com cada equipa a definir o que queria fazer. Afinal, estamos a começar a época e o tempo de trabalho não é assim tanto, mesmo que o Spartak já tenha dois jogos para o campeonato da Rússia.

No entanto, rapidamente se percebeu que, apesar de o Benfica apresentar alguns dos problemas de sempre, os encarnados tinham mais capacidade para jogar melhor. Ou seja, o tal favoritismo teórico até se confirmava em “jogo jogado”. Nos problemas de sempre da equipa de Jorge Jesus existe a falta de presença na segunda bola defensiva, o que resultou num remate muito perigoso de Umyarov que obrigou Vlachodimos (o escolhido para começar a época na baliza) a uma boa defesa.

Mas os jogadores encarnados mostravam-se mais desequilibradores, não necessariamente no 1×1, mas na movimentação, a conseguirem desfazer a pressão russa com os chamados “passes entre linhas”. O Benfica conseguia também algum espaço quando Weigl, João Mário ou através do jogo interior de Pizzi e Rafa, conseguia virar rapidamente o lado do jogo, com os russos a chegarem quase sempre atrasados. A dez minutos do intervalo, Seferovic lesionou-se e entrou para o seu lugar o jovem português Gonçalo Ramos, que acabou por fazer um jogo interessante.

Do lado russo, Ayrton, defesa esquerdo, foi o mais perigoso e demonstrou ser rápido — ao ponto de ganhar no sprint a Rafa –, conseguindo um lance perigoso sobre a esquerda, mas resolvido novamente pelo guarda-redes grego do Benfica.

Muita coisa haveria a escrever certamente sobre o segundo tempo, mas este ficou desde logo “condicionado” pelo primeiro golo do Benfica, marcado por Rafa após passe de João Mário (que belo jogo) num tricotado já dentro da área e que envolveu ainda Pizzi e Diogo Gonçalves na direita.

Ambas as equipas sentiram o golo: o Spartak caiu e o Benfica melhorou. Aliás, a segunda parte do Benfica foi de grande qualidade, com um aumentar de nível no tipo de jogo que a equipa de Jorge Jesus quis apresentar, muito assente nas boas características de João Mário a ditar os ritmos de jogo (afinal a insistência deu mesmo frutos).

O Benfica foi trabalhando a bola sem encontrar grandes adversidades e mesmo as poucas jogadas ofensivas dos moscovitas, algumas dentro da área, eram resolvidas. Estava a ser bastante meritória a exibição encarnada, pelo que foi com toda a justiça que Gilberto (saído do banco), após bom passe de Lucas Veríssimo, fez o 2-0 aos 74′. 

É sempre relativa a história da “melhor altura para marcar golos”, mas a verdade é que o Benfica conseguiu fazê-los em alturas que podem fazer (e fizeram) o adversário quebrar. Certamente Rui Vitória teria preparado a equipa para a segunda parte de modo a melhorar, mas Rafa fez logo golo. A jogar perante o seu público, cerca de 3000 ruidosos adeptos, o Spartak tinha de correr atrás do jogo e sofreu mais um golo a 15 minutos do fim.

O tal favoritismo teórico do Benfica sempre é também prático, ficou demonstrado esta quarta-feira em Moscovo. Já vimos e há de tudo no futebol, mas as águias deram um passo considerável rumo aos playoffs de acesso à Liga dos Campeões.