O primeiro-ministro, António Costa, e Jorge Sampaio, antigo presidente da República, cruzaram-se, em 2018, com Yasser A., cidadão iraquiano que foi detido em Portugal na última quinta-feira (tal como o seu irmão) por crimes contra a humanidade e ligação ao grupo Estado Islâmico, segundo o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias. Mas António Costa não foi a única figura institucional que Yasser A. conheceu. O JN mostra uma fotografia de um outro encontro, entre o Presidente da República — que diz não ter existido “nenhuma contraindicação de segurança” na altura — e embaixadores na UE, em que, no final, Yasser também aparece.
Os dois jornais recordam a visita, em 2018, de António Costa e Jorge Sampaio ao restaurante Mezze, em Lisboa — um restaurante de comida do Médio-Oriente que procura integrar refugiados chegados a Portugal. Na altura em que Costa e Sampaio visitaram o Mezze, Yasser A. trabalhava no restaurante e já estaria a ser investigado pelas autoridades há meses.
Na sua conta oficial no Twitter, o primeiro-ministro português dava ainda conta da presença do antigo Presidente da República, Jorge Sampaio — “fundador da Plataforma Global de Apoio a Estudantes Sírios” —, nesta visita ao restaurante Mezze.
Yasser A. tinha 29 anos quando Costa visitou o Mezze. Nessa altura, o iraquiano estava em Portugal há cerca de um ano e, de acordo com o Diário de Notícias, aquando da visita institucional, Yasser A. já estava a ser investigado há pelo menos seis meses (desde julho de 2017) pela Polícia Judiciária.
No caso de Marcelo Rebelo de Sousa, também foi ao restaurante, em junho de 2018, na companhia de embaixadores da União Europeia em Portugal. No final, foi tirada uma fotografia de grupo, com a equipa do Mezze, em que Yasser A. também aparece.
Já esta terça-feira, o Correio da Manhã dá conta que também Eduardo Cabrita esteve no restaurante, no final de 2017, já depois de Yasser A. estar a ser investigado. Na fotografia partilhada nas redes sociais do restaurante é possível ver Eduardo Cabrita, o Comissário Europeu para a Emigração e o embaixador do Iraque em Portugal.
Quer Yasser A. quer o irmão estavam em Portugal ao abrigo do programa de recolocação para refugiados da União Europeia (UE), no qual se terão infiltrado. Os dois detidos não estavam a planear nenhum ataque terrorista em Portugal, preparavam-se para sair do país e foram investigados e detidos pela ligação ao Estado Islâmico (seriam operacionais, não havendo dados que sugiram que tinham um lugar de relevo na estrutura). No Iraque terão chegado a participar em atividades violentas, como espancamentos.
Marcelo diz que “não havia nenhuma contraindicação de segurança”
Questionado pelos jornalistas na noite de segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que não teve informação, na altura, da eventual presença de um suspeito de terrorismo no restaurante. “Não havia informação. E não sei mesmo, isso é um problema de matéria classificada, até que ponto é que não faz parte da estratégia da fiscalização dar espaço de liberdade a quem pode ser uma pista para encontrar outras estruturas para efeitos posteriores”.
“Antes desse almoço houve uma preparatória, não havia nenhuma contraindicação de segurança“, acrescentou o Presidente da República, que desvalorizou o encontro: “Passo a vida na praia, no hipermercado a fazer compras. Como imaginam, é muito difícil eu ter a certeza de que as pessoas que estão ali ao lado não virão mais tarde a ser consideradas ou já são consideradas suspeitas de serem ou não terroristas”. E acrescentou que mesmo que o suspeito estivesse sob vigilância na altura “isso não o limitava” na circulação pelo país.
(Artigo atualizado com declarações de Marcelo Rebelo de Sousa)