Pode haver uma maior ou menor dose de favoritismo, pode existir mais ou menos confiança, podem traçar-se cenários de todos os tipos mas todos os treinadores sabem que o primeiro encontro de uma grande prova tem um sem número de aspetos mais complicados de controlar por ser a estreia na competição. Ou seja, por mais que todos estejam cientes do trabalho feito ao longo de semanas, só mesmo em jogo e libertando a dose extra de ansiedade ao entrar em campo se consegue chegar ao patamar desejado. Tudo isso, claro, vai aumentando o grau de imprevisibilidade e era isso que Portugal iria tentar atenuar olhando apenas para si.
“A Tailândia é uma equipa organizada, objetiva e que sabe muito bem o que faz. Nós cá estaremos para fazer o que temos de fazer, é isso que me parece que vai ser a chave do jogo. Geralmente, consegue-se ter sucesso quando somos competentes, embora haja sempre o adversário, que é extremamente organizado e que sabe muito bem o que faz, mas não assusta. Estamos preocupados connosco e com o que nós temos de fazer. Estamos prontos para a competição”, destacara o selecionador Jorge Braz na antecâmara da estreia no grupo C, onde estarão também as seleções das Ilhas Salomão e de Marrocos (os africanos ganharam hoje por 6-0).
Ao longo de mais de um mês, entre Rio Maior e Viseu, Portugal foi trabalhando soluções para os possíveis cenários, fazendo jogos particulares com congéneres de diferentes continentes como Japão, Venezuela, Angola, Costa Rica, Paraguai ou Uzbequistão. No entanto, e no ponto menos positivo (talvez um dos poucos que não se pode controlar), teve de substituir Edu por André Sousa na baliza pela infeção por Covid-19 do guarda-redes dos espanhóis do Viña Valdepeñas e ficou sem Pauleta e Tiago Brito para a partida porque o primeiro contraiu também o vírus e o segundo teve de ficar em isolamento profilático. À exceção desses dois contratempos de última hora, a Seleção estava a postos para tentar melhorar o quarto lugar de 2016.
“Sabemos que é muito difícil mas é algo que ambicionamos. Acho que é um objetivo realista, extremamente ambicioso e difícil. Gostamos de coisas difíceis e de nos superarmos. Temos de superar o resultado do último Mundial é em busca disso que vamos. O passado não nos desvia do que temos de fazer atualmente. As outras seleções estão mais atentas a Portugal e vão ter um upgrade de concentração e agressividade para tentarem vencer Portugal mas só temos de estar preocupados connosco”, destacara Jorge Braz à agência Lusa a propósito dos objetivos nacionais para um Mundial onde a Seleção chegava como campeã europeia, sendo que melhor do que em 2016 só mesmo a terceira posição conseguida na Guatemala, em 2000.
Apesar de partir com um natural favoritismo no encontro na Zalgiris Arena, em Kaunas (Lituânia), Portugal sentiu bem mais dificuldades do que se poderia esperar, chegando ao intervalo empatado a um com golo de Bruno Coelho no último minuto antes de partir no segundo tempo para a primeira vitória no Mundial por números que refletem a diferença entre as equipas mas não os problemas enfrentados (4-1), num jogo marcado também pelo regresso às competições oficiais do capitão Ricardinho após lesão grave.
À procura da estabilidade logo nos minutos iniciais, Jorge Braz lançou em campo um 4:0 com João Matos, Erick, Bruno Coelho e Ricardinho que deu a experiência necessária para controlar o encontro, conseguir pressionar alto e impedir a Tailândia de jogar sem que conseguisse juntar a isso a profundidade necessária para criar as oportunidades que surgiram em dois remates de fora de Fábio Cecílio e Ricardinho para outras tantas grandes defesas de Hankampa. Só por duas vezes o conjunto asiático conseguiu colocar à prova Bebé na baliza, ambas na sequência de bolas paradas, mas o encontro chegava aos dez minutos em branco.
As dificuldades da Seleção eram maiores do que na teoria se poderia pensar e foi mesmo a Tailândia a fazer o primeiro golo do encontro na sequência de uma bola parada, com o remate de Jirawat Sornwichian a desviar ainda na perna de Erick antes de entrar na baliza de Bebé (16′). A surpresa aumentava mas, por paradoxal que possa soar, foi esse o gatilho para Portugal ganhar profundidade e partir de forma mais objetiva em busca do golo, que depois de mais duas grandes defesas de Hankampa a remates de Pany Varela e Bruno Coelho chegou mesmo ao empate a 45 segundos do intervalo num livre por Bruno Coelho.
Jorge Braz percebia que Portugal era melhor em 3:1 com Zicky, que conseguia afundar e trazer consigo a equipa mais para a frente, e essa foi uma das soluções apresentadas antes da colocação de Erick também a pivô, tentando explorar as suas características para ir rodando na mesma o conjunto nacional sempre com uma referência na frente. Era ali que estava a chave para a vitória conseguida depois por números bem mais folgados, com a Seleção a dar uma lição sobre como interpretar um jogo: Erick fez o 2-1 após uma excelente rotação para remate ao ângulo (27′), Zicky aumentou a vantagem num movimento semelhante (30′) e Pany Varela apontou o 4-1 em mais um bom remate colocado na melhor altura de jogo (32′) antes da aposta da Tailândia no 5×4 que permitiu também dar uma aula de como bem defender em inferioridade.