Depois da goleada frente à Tailândia, num jogo inaugural em que Portugal teve de passar a primeira parte a adaptar-se ao adversário para depois exercer a superioridade na segunda, a Seleção Nacional de futsal defrontava as Ilhas Salomão na fase de grupos do Campeonato do Mundo. Em teoria, a partida era a mais acessível do Grupo C em que Portugal está inserido — mas Afonso Jesus, um dos estreantes em fases finais, era o primeiro a apresentar as devidas cautelas.
“Queremos continuar o nosso caminho, continuar o nosso processo, continuar com os nossos princípios e ser nós próprios. Avaliámos o adversário e viemos com os nossos objetivos muito bem focados. Viemos para ganhar os três jogos, vamos olhar jogo a jogo e este será mais um para conquistar os três pontos e continuarmos o nosso caminho no Mundial. Tivemos muita paciência no primeiro jogo. Nunca desfocámos dos nossos princípios e processos. Acabou por acontecer naturalmente. A partir do momento em que entrou o primeiro golo, também aumentou a confiança e acabámos por dilatar o resultado”, explicou o fixo do Benfica em declarações à Agência Lusa.
Certo é que, mesmo com as devidas cautelas, Portugal podia qualificar-se para os oitavos de final do Mundial já esta quinta-feira. No segundo lugar do Grupo C, com os mesmos três pontos que Marrocos, a Seleção garantia a presença na fase seguinte se vencesse as Ilhas Salomão e a isso aliasse uma de duas opções — ou uma vitória ou um empate de Marrocos perante a Tailândia ou um empate entre Panamá e Vietname, no Grupo D, isto porque são apurados os dois primeiros de cada grupo e ainda os quatro melhores terceiros.
Mas, contas à parte, a verdade é que Portugal, campeão europeu, precisava de ganhar primeiro para equacionar o apuramento imediato. No dia em que se tornava o treinador com mais jogos enquanto selecionador nacional — 154 desde outubro de 2010, superando os 153 de Orlando Duarte entre 2000 e 2010 –, Jorge Braz já podia contar com os alas Pauleta e Tiago Brito. Os dois jogadores só chegaram à Lituânia, onde decorre o Mundial, horas antes da partida contra a Tailândia porque o primeiro testou positivo à Covid-19 e o segundo teve de ficar em isolamento por ser o seu colega de quarto. Na máxima força, Portugal defrontava as Ilhas Salomão na Zalgiris Arena, em Kaunas, e o cinco inicial contava com Vítor Hugo, João Matos, Bruno Coelho, Ricardinho e Fábio Cecílio: duas alterações aos titulares contra a Tailândia, que incluíam Bebé na baliza e também Erick, e a manutenção do 4:0.
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— Portugal (@selecaoportugal) September 15, 2021
Com dezenas de portugueses nas bancadas, estudantes de Erasmus na Lituânia, Portugal começou a partida com o natural controlo da posse de bola e não foi preciso esperar muito tempo para perceber o mundo que separava as duas equipas — ainda assim, as Ilhas Salomão colocavam-se mais acima do que seria de esperar. Ricardinho criou a primeira oportunidade portuguesa, com um remate de muito longe que procurou aproveitar o adiantamento do guarda-redes adversário (2′), mas a bola saiu por cima. Acabou por ser Fábio Cecílio a abrir o marcador, com um remate rasteiro e de primeira depois de um passe atrasado (4′), e a Seleção aproveitou a vantagem para impor um ritmo compassado.
Portugal procurava sempre construir de forma organizada, começando a partir de trás e sem grande pressa, e a verdade é que durante a primeira parte acabou por liderar um jogo sem grande intensidade nem velocidade que também não favorecia o avolumar do resultado. As Ilhas Salomão privilegiavam o jogo direto, muitas vezes desde o guarda-redes para o pivô, e conseguiam criar perigo em contra-ataques e pontapés de canto. Erick até ficou perto de fazer autogolo, ao acertar na trave quando intercetou um cruzamento (9′), e a Seleção ia dominando sem asfixiar por completo a equipa da Oceânia. Ainda assim, de forma natural, o segundo golo acabou por aparecer: numa combinação perfeita entre Miguel Ângelo e Ricardinho, o capitão português atirou rasteiro em posição central (12′) e voltou aos golos depois da longa lesão que venceu para marcar presença no Mundial.
Até ao intervalo e já depois de o selecionador das Ilhas Salomão pedir a primeira pausa técnica, Portugal acelerou ligeiramente, intensificou os processos e acumulou oportunidades, acabando por chegar ao terceiro golo por intermédio de um grande pontapé de André Coelho, de primeira e sem deixar cair depois de um canto (20′). No fim da primeira parte, ficava claro que a Seleção Nacional poderia estar a ganhar por mais se tivesse pressionado melhor o adversário e se aprofundasse mais os setores, já que a equipa portuguesa jogava quase em linha com o 4:0 e só tinha uma verdadeira referência ofensiva quando Zicky entrava em campo.
Na segunda parte, Jorge Braz tirou Vítor Hugo e deu minutos a André Sousa na baliza. Pany Varela foi o primeiro a ficar perto de aumentar a vantagem, com uma tentativa de chapéu que acabou por ser intercetada (21′), mas acabou por ser André Coelho a bisar com um desvio ao segundo poste depois de um cruzamento de João Matos (23′). Portugal chegou ao quinto golo logo depois, através de um autogolo de Sia depois de um canto (26′), e o segundo tempo ia sendo muito mais tranquilo para a Seleção — até porque as Ilhas Salomão, sem tantas soluções nem tanta capacidade de ir trocando jogadores, começavam a acusar alguma fadiga e já não conseguiam criar perigo nem chegar perto da baliza de André Sousa.
⚽ 31' Pelo buraco da agulha! Chegou a vez de Erick Mendonça fazer o gosto ao pé!#SOLPOR | 0-6 | #VamosComTudo #FutsalWC pic.twitter.com/0O1l12SM4M
— Portugal (@selecaoportugal) September 16, 2021
De forma natural, Portugal foi criando muitas oportunidades e chegou ao 0-6 por intermédio de Erick, que finalizou com um bom pontapé na esquerda depois de um passe de Fábio Cecílio (30′). Nesta fase, Ricardinho voltou à quadra e ainda fez alguns minutos depois de ter estado algum tempo a colocar gelo no joelho no banco de suplentes, numa gestão de esforço proporcionada por Jorge Braz que estava também relacionada com o resultado do jogo. Até ao fim, a Seleção acabou por acalmar o ritmo e só marcou já mesmo nos últimos minutos, por intermédio de Pany Varela (38′), superando o resultado que Marrocos havia feito contra as Ilhas Salomão, carimbando a segunda vitória em dois jogos e ficando virtualmente apurada para os oitavos de final do Campeonato do Mundo de futsal.