A qualidade do ar em Portugal e na Europa melhorou de 2019 para 2020, possivelmente devido aos confinamentos durante a pandemia de Covid-19, adianta um relatório europeu, embora permaneçam sérios riscos para a saúde devido à poluição atmosférica.

A concentração de poluentes atmosféricos resultantes da queima de combustíveis fósseis usados nos transportes, aquecimento doméstico e atividades industriais, por exemplo, habitualmente chamadas de partículas finas, excedem os limites de qualidade da União Europeia sobretudo nos países da Europa central e de leste, mas também no norte de Itália, onde as condições meteorológicas locais favorecem a acumulação de poluentes na atmosfera.

Os dados constam de um relatório intercalar da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla inglesa) que vai fazer parte do relatório Qualidade do Ar na Europa em 2021, ainda por publicar.

Em Portugal, à semelhança do resto da Europa, os níveis de poluentes na atmosfera melhoraram de 2019 e 2020, o que o relatório aponta como uma provável consequência das medidas restritivas de combate à pandemia impostas pela Europa, como os períodos de confinamento e de paragens de atividade.

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O efeito mais evidente da pandemia parece sentir-se na redução de níveis de dióxido de nitrogénio, associado ao transporte rodoviário e com concentrações mais elevadas em zonas densamente povoadas como as cidades. Em relação a este poluente registaram-se quebras de emissões significativas de 2019 para 2020, com apenas 1% das estações de medição a registarem níveis acima dos limites em 2020.

Em relação à concentração de ozono na atmosfera, no entanto, os dados de 2020, que são ainda provisórios, indicam maiores níveis de concentração nas regiões centro e norte de Portugal face a 2019, em alguns pontos acima dos limites diários de qualidade impostos pela União Europeia.

A meteorologia é particularmente relevante para a concentração de ozono na atmosfera, que resulta de reações químicas provocadas por calor e luz, sendo que o clima na primavera e verão nos países do sul da Europa favorece a acumulação de ozono.

Num olhar abrangente sobre toda a população do continente europeu, o relatório mostra que, do ponto de vista dos limites estabelecidos pela União Europeia, houve entre 21% a 34% da população exposta a níveis excessivos de ozono na atmosfera, o poluente que mais excedeu os parâmetros da qualidade do ar, seguindo-se o benzo(a)pireno, um poluente cancerígeno a que cerca de 15% da população esteve exposta em níveis diários excessivos.

Já se forem tidos em conta os parâmetros bastante mais restritivos da Organização Mundial de Saúde (OMS) o cenário é ainda mais grave, desde logo em relação à exposição ao ozono, com a quase totalidade da população europeia (99%) exposta a níveis excessivos deste poluente.

Ainda segundo os parâmetros da OMS, 75% da população europeia esteve exposta a níveis médios diários de benzo(a)pireno acima dos limites e até 74% da população esteve exposta a níveis excessivos de partículas finas.

De acordo com o relatório, a concentração de partículas finas foi registada em níveis acima dos limites diários da União Europeia em 14% das estações de medições, 87% das quais em zonas urbanas e 10% em zonas suburbanas.

Já os objetivos de limites para a concentração de ozono foram apenas reportados em 12% das estações de medição em 2019, com a generalidade destes postos a registar valores acima dos limites, mas os registos melhoraram em 2020, com o objetivo a ser atingido em 18% das estações de medição.

Ainda assim, em 2020, refere o relatório, 19 países que reportaram dados, entre os quais 17 Estados-membros da União Europeia, registaram valores acima dos limites considerados seguros para a saúde humana.