Vitória na receção à Real Sociedad, empate em Bilbau com o Athletic, vitória na receção ao Getafe. Um total de sete golos marcados mas quatro sofridos. No início da Liga, e apesar de todas as convulsões internas que marcaram a pré-temporada, o Barcelona estava a fazer um percurso “habitual” dentro dos seus objetivos até ao final de agosto, altura em que o fecho do mercado colocou a nu algumas das principais debilidades que afetam agora o clube. O que seria complicado de adivinhar era que esses mesmos problemas estariam no epicentro daquilo que passou a ser o principal problema dos blaugrana: marcar golos.

Tentando prescindir de Griezmann não tanto por uma questão desportiva mas pelo peso que assumia na folha salarial dos culé, os responsáveis tentaram de tudo para garantir um avançado: a troca do francês por João Félix a título de empréstimo, que foi recusada; a tentativa de resgatar por um ano Cavani, que foi recusada; uma sondagem ao que se passava na liga chinesa, que também não avançou; a proposta de um ano de empréstimo por Luuk de Jong, que foi aceite pelo Sevilha mas ficou até à última “pendurada”, de tal forma que o jogador só foi oficializado às 2h30 da manhã. Os problemas financeiros fizeram sentir-se em demasia já depois de alguns dos pesos pesados terem acordado baixar o seu ordenado apenas e só para que houvesse condições para a inscrição do argentino Kun Agüero como reforço da equipa…

Sobre esta vertente, estamos falados. Ainda assim, havia um plantel com bons jogadores mesmo que sem a referência que rebocou a equipa nos momentos mais difíceis (Lionel Messi) e sete pontos em nove possíveis no arranque da Liga. No entanto, e depois do pesado desaire em Camp Nou com o Bayern para a Liga dos Campeões, os problemas que estavam apenas escondidos vieram à tona de forma brutal, não apenas pelos dois empates seguidos no Campeonato (Granada, 1-1 e Cádiz, 0-0) mas também, ou sobretudo, por tudo o que isso acabou por desencadear no seio do clube e da equipa, que ficou à beira do colapso total.

Ronald Koeman (que foi expulso no último jogo e acabou sancionado com duas partidas de suspensão) e o líder do clube, Joan Laporta, tiveram uma reunião de 20 minutos no avião depois do nulo e fizeram como que um pacto no clima de guerra fria assumida para estabilizar a situação na ressaca de uma conferência de antevisão do neerlandês onde se resumiu a ler um comunicado. Da parte dos jogadores, a vontade de virar os acontecimentos até podia existir mas tudo corrida mal em campo, valendo a segurança de Ter Stegen e o golo tardio de Ronald Araújo contra o Granada para evitar males maiores para os blaugrana.

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Quase que para esvaziar o balão de pressão de que foi enchendo, Koeman veio dizer publicamente que, com aquele plantel, seria complicado fazer muito melhor, quase que transformando esta época num ano zero de uma vida do Barça que vai de forma inevitável mudar. Os jogadores, como Sergi Roberto ou Piqué, vieram bater o pé dizendo que o clube não pode lutar pelo terceiro ou pelo quarto lugar. E ainda havia a pressão de sócios e adeptos, que chocaram de frente com uma realidade tenebrosa no plano financeiro sem que uma pessoa do interior da estrutura viesse explicar onde está e para onde vai o “seu” Barcelona.

Era neste contexto que chegava a receção ao Levante antes da deslocação à Luz para defrontar o Benfica na Liga dos Campeões. E era neste contexto que existia uma margem de manobra nula em relação ao que se poderia passar em termos de resultado, com essa boa notícia do regresso de Ansu Fati aos eleitos (como suplente) entre quase uma equipa de ausentes por problemas físicos. Na hora da verdade, apareceu um dos reforços que joga como se tivesse anos de cultura futebolística catalã: Memphis Depay. Joga, marca, assiste, desequilibra, coloca os guarda-redes em perigo, faz a diferença. Se em Cádiz o internacional tinha acabado o jogo agarrado ao poste após falhar uma oportunidade flagrante, hoje fez o melhor jogo da época. E ainda viu depois o verdadeiro espectáculo Ansu Fati, que entrou para deixar Camp Nou ao rubro.

Com Dest como lateral esquerdo, Nico González e Gavi ao lado de Busquets no meio-campo e uma frente de ataque com Coutinho, Memphis Depay e De Jong, o Barça demorou menos de 15 minutos a espantar os fantasmas das últimas semanas e com o avançado neerlandês contratado a custo zero ao Lyon a fazer a diferença: primeiro Depay conquistou (com uma grande jogada individual) e converteu um penálti (6′), depois esteve no 2-0 que assinalou a estreia do dianteiro ex-Sevilha a marcar (14′). A equipa de Koeman, a ver o jogo na bancada onde estava também Óscar García, uma das hipóteses faladas para a sua sucessão, estabilizou, fez um jogo sólido e só não aumentou a vantagem graças a Aitor Fernández.

O segundo tempo foi mais do mesmo, com Depay a continuar a desequilibrar na frente para mais algumas intervenções do guarda-redes do Levante e o meio-campo a tomar conta do jogo não só na capacidade em posse mas também na boa reação à perda que deixou os visitantes sem capacidade de saída. A vitória era um dado consumado e dava quase para tudo, incluindo uma primeira grande ovação para a entrada do jovem Riqui Puig e uma segunda, a maior, para o regresso de Ansu Fati à ação depois da ausência de quase um ano e com a particularidade de usar agora a camisola 10, a tempo de ganhar um penálti não assinalado, marcar o 3-0 e deixar o estádio ao rubro mais de 320 dias depois. Além da vitória, dos três pontos e da exibição de Depay, essa foi a melhor notícia em Camp Nou. Agora, segue-se o Benfica.