A Ordem dos Médicos manifestou esta sexta-feira solidariedade para com o diretor clínico demissionário do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, apelando para que o Governo resolva os “problemas graves” daquela unidade.
“A Ordem dos Médicos tomou conhecimento do pedido de demissão do diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, pelo que manifesta publicamente o seu respeito e solidariedade para com a decisão do Dr. Nuno Fachada, apelando ainda a uma intervenção urgente do Ministério da Saúde para resolver os problemas graves deste hospital“, lê-se numa nota enviada às redações.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, acrescenta que tem visitado por várias vezes o Hospital de Setúbal e, “infelizmente, as promessas são sempre as mesmas, mas os investimentos no edifício e a capacidade para reforçar o capital humano continuam a não avançar“.
O diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, apresentou na quinta-feira a demissão do cargo, justificando a decisão com a falta de condições do hospital.
Demissão do diretor do Hospital de Setúbal deve obrigar Governo a resolver problemas
Numa informação enviada por Nuno Fachada aos colegas, a que a Lusa teve acesso, o médico alegou um conjunto de dificuldades no centro hospitalar como justificação para a sua saída.
A “situação de rotura e agravamento nas urgências médicas, obstétrica, EEMI [Equipa de Emergência Médica Intra-Hospitalar]”, assim como “dificuldades noutras escalas como a pediátrica, cirúrgica, via verde AVC, urgências internas, etc”, são algumas das razões apontadas pelo diretor demissionário.
A mesma informação referia também a “falta de condições de atratividade dos médicos”, “insuficiência ou não abertura de vagas sinalizadas”, “dezenas de cortes mensais de salas operatórias” e “rotura em vários serviços por êxodo” de profissionais de várias especialidades.
Nuno Fachada justificou ainda a demissão com a “não resposta sobre a requalificação e financiamento do CHS [Centro Hospitalar de Setúbal] para grupo D”, “afastamento e colapso dos cuidados primários de saúde, agravando as dificuldades dos doentes”, assim como “incertezas quando ao ecletismo, adaptação e capacidade das obras das urgências”.
“Assim, só restaria a solução de romper com a situação vigente. Romper com a aceitação de continuarmos a ver o estertor do SNS [Serviço Nacional de Saúde], capturado por uma estrutura burocrática pesadíssima e crescente, que asfixia e parasita aquilo que melhor foi feito nas últimas quatro décadas e que tornou Portugal num país avançado, longe das altas taxas de mortalidade infantil e da baixa esperança média de vida”, salienta o diretor num ’email’ institucional enviado aos colegas.
Reagindo à demissão, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, pediu esta sexta-feira ao Governo que encare a demissão de Nuno Fachada como “um grito de alerta” e resolva os problemas da unidade.
O grupo parlamentar do PSD também entregou esta sexta-feira um requerimento na Assembleia da República, solicitando a audição urgente de Nuno Fachada e de um conjunto de outras entidades.