O Partido Social Democrata (SPD), vencedor por uma curta margem das eleições legislativas na Alemanha, acredita que vai chefiar um governo de coligação com os Verdes e com o Partido Liberal Democrata (FDP), que já começaram a dialogar entre si, e que as negociações podem estar concluídas até final do ano.

“Podemos começar as negociações formais para a coligação em outubro e concluí-las em dezembro”, afirmou Norbert Walter-Borjans, co-líder do partido, numa entrevista publicada este sábado no jornal Die Welt. “O governo deverá estar em vigor até o final do ano. Isso é viável”, acrescentou Walter-Borjans.

Mas, apesar de ter vencido as eleições do passado domingo com 25,7% dos votos — mais 1,6 pontos do que o segundo classificado, a União Democrata Cristã (CDU) —, liderar o próximo governo não está nas mãos dos sociais-democratas. Pela primeira vez desde o final da II Guerra Mundial, serão necessários três partidos para formar uma maioria na Alemanha (excluindo aqui uma grande coligação entre SPD e CDU), pelo que a decisão quanto ao próximo executivo está nas mãos dos Verdes e dos liberais, que conseguiram, respetivamente, 14,8% e 11,5% dos votos.

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Por esse motivo, e contrariando o que é habitual (o partido mais votado tomar a iniciativa nas negociações), os Verdes e o FDP começaram a negociar diretamente entre si, para encontrarem pontos em comum que lhes permitam decidir quem está em melhor posição para ser chanceler: se Olaf Scholz, do SPD, ou Armin Laschet, da CDU.

A coligação “semáforo”, de acordo com uma sondagem da Forschungsgruppe Wahlen para a ZDF, citada pela Reuters, é aprovada por 59% dos alemães, sendo que 76% dos inquiridos consideram que o próximo chanceler deve ser o atual ministro das Finanças, Olaf Scholz.

Na sexta-feira, ficou concluída a segunda ronda de negociações entre Verdes e liberais. No final do encontro entre os líderes dos dois partidos reinava um ambiente de otimismo.

“O processo começou hoje [sexta-feira] num bom ambiente, mas ainda não terminou”, disse o líder do FDP, Christian Lindner, que ambiciona tornar-se ministro das Finanças, citado pela DW. “O povo votou contra o status quo e algo novo tem que ser criado na Alemanha. Todos nós sentimos que temos a tarefa de organizar um novo começo”, acrescentou.

No mesmo sentido, e também sem desvendar o conteúdo concreto das conversações, a co-líder dos Verdes, Annalena Baerbock, falou num “momento histórico”, enquanto Robert Habeck realçou uma “cultura de diálogo que torna possível uma discussão factual”, embora reconhecendo as diferenças entre os dois partidos.

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Nas eleições de 2017, de forma a evitar uma grande coligação com os sociais-democratas, Angela Merkel tentou formar a coligação “Jamaica” com Verdes e liberais, mas as negociações não foram a bom porto devido às divergências entre os dois partidos. Como resultado, a Alemanha só teve um novo governo seis meses depois das eleições.

Desta vez, os partidos tentam acelerar o processo, mas muitas das diferenças entre os Verdes e o FDP mantêm-se: enquanto os Verdes defendem um aumento do investimento público para tornar a indústria alemã mais amiga do ambiente, os liberais privilegiam o investimento privado, recusando aumentos de impostos — outra das bandeiras do partido de Annalena Baerbock, que pretende taxar as maiores fortunas para aumentar alguns apoios sociais.

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Os dois partidos têm, no entanto, pontos em comum, nomeadamente a necessidade de modernizar o sistema educativo e a digitalização, além de terem posições comuns em termos de política externa, em particular na importância de assumir uma postura mais dura na defesa dos direitos humanos contra a Rússia e a China.

Este sábado, os Verdes reuniram-se em congresso e os líderes do partido foram mandatados pelos militantes para prosseguirem nas negociações para a formação do próximo executivo. O resultado final das negociações, contudo, terá de ser aprovado num outro congresso pelos 120 mil militantes do partido, diz a DW.

Depois de terem sido dados os primeiros passos nas conversações com o FDP, inicia-se agora uma ronda de negociações com os partidos mais votados. Este domingo, Annalena Baerbock e Robert Habeck reúnem-se com representantes do SPD, que no mesmo dia vão encontrar-se com o FDP. No mesmo dia, os liberais vão também encontrar-se com os democratas-cristãos. A reunião entre Verdes e CDU está marcada para a próxima terça-feira.