Há muito que se contavam os dias para a chegada de “Seinfeld” à Netflix, o que aconteceu finalmente a 1 de outubro. Quem ajudou a transformá-la numa das mais mediáticas séries de sempre pode agora rever os 174 episódios. Pode (e deve) também passar o testemunho às gerações mais novas com um discurso inspirador. “Vês, filho, era assim que se fazia comédia.” Era assim em 1989 e continua a ser válido em 2021 sem ser preciso recorrer a telemóveis ou ao TikTok.

“Friends” é outro exemplo que ainda não cheira a mofo, apesar de ter 27 anos. Há piadas que nos levam às lágrimas e twists na história que voltam a deixar os maxilares doridos de tanto sorrir.

Seguindo para o departamento da lamechice e daquele capítulo da vida que a maioria adoraria esquecer, a adolescência. Ela é dramática e horrível e desgastante em “Dawson’s Creek” e é provável que agora, em vez de sentirmos empatia pelas personagens, só tenhamos vontade de revirar os olhos. Porém, é preciso admitir que tudo isto já fez parte das nossas vidas.

“Star Trek”, “Gilmore Girls” ou “Mad Men”. Todas muito diferentes mas essenciais na história da televisão. E o mais incrível é que já não precisam de estar perdidas nas nossas memórias. Estão todas nas plataformas de streaming.

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“Seinfeld”

Netflix

É para ver sem questionar. E dar muitas gargalhadas. Jerry Seinfeld é Jerry Seinfeld. Faz stand-up em Nova Iorque, tem muitas coisas que o enervam na vida e lhe preenchem os monólogos. Como bónus ganhamos a fofinha Elaine (Julia Louis-Dreyfus), o minúsculo George Constanza (Jason Alexander) e Kramer (Michael Richards), que não tem definição possível.

Estamos em Nova Iorque (EUA), isto é uma sitcom que segue um grupo de amigos durante nove temporadas (de 1989 a 1998) e que deu ao mundo cenas como a chamada de telemarketing ou a conversa muito civilizada entre Seinfeld e o ladrão que lhe roubou o carro. Mas, em vez de estarmos aqui a perder mais tempo, o melhor é ver ou rever tudo do início. Porque, se não o fizer, já sabe: “No soup for you (não há sopa para si)”!

“Friends”

HBO

Dez temporadas, dez anos que mudaram a televisão para sempre. Continuamos em Nova Iorque, mas agora os amigos são outros: Rachel (Jennifer Aniston), Monica (Courteney Cox), Phoebe (Lisa Kudrow), Chandler (Matthew Perry), Joey (Matt LeBlanc) e Ross (David Schwimer) estiveram em todas as casas entre 1994 e 2004 — e o mais incrível é que ainda hoje cativam novos públicos, aqueles que nem sequer tinham nascido quando a série apareceu.

Há coisas que atualmente não aconteceriam, como alguém ficar preso num “ATB vestibule com a Jill Goodacre” ou as inúmeras piadas sobre a potencial homossexualidade de Chandler. Porém, é preciso remeter tudo para o contexto da época e a verdade é que, quando se estreou, a sitcom quebrou barreiras. Foi, por exemplo, a primeira vez que na televisão se viu um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo (Carol e Susan).

“Friends” não se torna velha, mesmo quando já sabemos de cor a piada que se segue. Na HBO também está disponível o programa especial que em 2021 juntou o elenco principal.

“Arrested Development”

Netflix

A família mais disfuncional da televisão bateu-nos à porta em 2003. Michael Bluth (Jason Bateman) é o filho atinado que assume o lugar do pai (Jeffrey Tambor) na empresa quando este é detido. Mais do que gerir os negócios, passa a vida a resolver as asneiras dos irmãos, todos com mais do que idade para ter juízo.

Do elenco fazem parte Will Arnett, Tony Hale, Portia de Rossi e Michael Cera. Ron Howard dá voz ao narrador. Essa escolha não foi programada. O realizador estava apenas a fazer uma substituição no episódio piloto mas foi tudo tão perfeito que a colaboração se manteve.

As três primeiras temporadas foram transmitidas entre 2003 e 2006. Em 2013 surgiu a quarta e em 2018 a quinta.

“Dawson’s Creek”

Amazon Prime Video

Quatro amigos tentam sobreviver à adolescência numa cidade pequena onde toda a gente se conhece, onde a escola se divide entre os populares e os cromos e onde as paixões são tão intensas e irracionais que controlam todas as decisões.

Quando apareceu, em 1998, era “a” série entre os espectadores que estavam a atravessar a mesma fase. Havia o bad boy que, afinal, era um coração mole, Pacey (Joshua Jackson); a recém-chegada e polémica Jen (Michelle Williams); a desfavorecida Joey (Katie Holmes); e o irritante protagonista, Dawson (James Van Der Beek), que andou a remar durante umas 300 temporadas até dizer a Joey que sempre tinha estado apaixonado por ela. Reviremos os olhos juntos, irmãos.

O melhor desta série dramático-chata foi a descoberta de atores que atualmente andam por aí, entre o cinema e a televisão. Joshua Jackson é agora o protagonista de “Dr. Death”, disponível na HBO; Michelle Williams tem no seu currículo mais recente “Venom: Tempo de Carnificina” e “Fosse/Verdon” e Katie Holmes vai acumulando papéis secundários. Van Der Beek continua entediante sempre que aparece. Quem quiser apanhar de novo o barco rumo a Capeside tem seis temporadas para ver.

“Twin Peaks”

HBO

Quem matou Laura Palmer? É a pergunta que dá início a uma investigação que atira o agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan) para a sinistra localidade de Twin Peaks. Personagens excêntricas, elementos surrealistas, humor nonsense e o facto de ter sido cancelada após duas temporadas fizeram da narrativa criada por David Lynch e Mark Frost a maior série de culto de sempre.

Em 2017 chegou uma terceira temporada, com 18 episódios, para mergulharmos de novo numa espécie de sonho psicadélico. 27 anos depois continua tudo estranho e viciante — até a mítica tarte de cereja.

“The Office”

Netflix

Neste escritório faz-se tudo menos trabalhar. Na empresa de papel Dunder Mifflin, o chefe, Michael (Steve Carell), tenta liderar uma equipa de desmotivados, Jim (John Krasinski), Pam (Jenna Fischer) e Dwight (Rainn Wilson). Não houve consenso inicial mas, quando a série entrou na segunda temporada, já as piadas estavam mais apuradas e as personagens estruturadas. As audiências rapidamente aumentaram e os prémios seguiram-se.

A versão americana é filmada como se fosse um documentário, ao estilo da comédia original, criada por Ricky Gervais e Stephen Merchant em 2001. A ideia é a mesma mas as personagens são bastante diferentes. Vamos a uma ronda do “Agora Escolha”: no Bloco A está “The Office” original, com um humor muito british, no Bloco B está a adaptação americana, com nove temporadas.

Se escolheu o Bloco B, parabéns. A série passa a estar disponível na Netflix a partir de 23 de outubro.

“Breaking Bad”

Netflix

Não é assim tão imediato o apego a “Breaking Bad” (ou “Ruptura Total”, como era inicialmente conhecida em Portugal). Desistir uma ou outra vez é normal — o que é preciso é voltar e insistir. Walter White (Bryan Cranston) é um professor do ensino secundário muito entediante mas, quando descobre que tem um cancro incurável, vira-se para o mundo da produção de metanfetaminas para que não falte nada à sua família depois de morrer. Bastante ridículo como enredo, não é? Só que não é, nada mesmo. A história vai ganhando ritmo e potência à medida que avança e deu à televisão alguns dos melhores episódios de sempre, como “Ozymandias”, na quinta e última temporada.

Estão todas disponíveis na Netflix, com as atuações fora de série de Aaron Paul (Jesse Pinkman), Anna Gunn (Skyler), Jonathan Banks (Mike) e Bob Odenkirk (Saul Goodman). Este último retoma o papel em “Better Call Saul”, a prequela igualmente disponível na Netflix. Também lá está o filme “El Camino”, que se seguiu a “Breaking Bad” e acrescentou muito pouco ao que já existia.

“Mad Men”

Amazon Prime Video

Homens de chapéu, check. Mulheres com penteados imaculados, check. Beber whisky no escritório a meio do dia, check. Estamos nos anos 60, em Nova Iorque, e o estilo comanda a cidade. Don Draper (Jon Hamm) é um publicitário brilhante mas misterioso que nos guia pelo mundo de campanhas de marcas que conhecemos desde sempre, como a Coca-Cola ou a Marlboro.

Há ganância, ambição, donas de casa frustradas e mulheres que têm de trabalhar três vezes mais do que os homens para provarem que merecem ser mais do que secretárias. São sete temporadas ricas em drama e diálogos bem construídos. Pode não ser a série mais famosa desta lista, mas merece estar aqui, é um pedaço de História desta década cheia de glamour.

“Star Trek”

Netflix

“Live Long and prosper”, já dizia o doutor Spock (Leonard Nimoy). O mundo divide-se entre pessoas que conseguem dizer isto ao mesmo tempo que fazem uma saudação afastando os dedos mindinho e anelar dos médio e indicador e pessoas que não são capazes.

Esteja de que lado estiver, a entrada no clube de fãs de “Star Trek” não lhe é barrada. Entre 1966 e 1969 (e mais tarde com outras histórias da saga), a tripulação do U.S.S. Enterprise desbravou caminho pelo espaço, explorando a galáxia e defendendo os seus planetas. Porém, a conquista parece não ter ficado por aí. William Shatner (que era o mítico capitão Kirk) fez parte do segundo voo de turismo espacial no passado dia 13 de maio. Tem 90 anos.

“Gilmore Girls”

Netflix

Uma mãe solteira muito distraída e viciada em café, uma adolescente muito bem comportada, uma comunidade que as adora (muito). Fim. Basta isto para fazer um resumo honesto de “Gilmore Girls” e das suas protagonistas. No entanto, entre 2000 e 2007, a série tornou-se paragem obrigatória para muita gente.

Em Stars Hollow, a localidade fictícia da história, há dramas, histórias de amor, desencontros e personagens caricatas que se entrelaçam nas vidas de Rory (Lauren Graham) e Rory (Alexis Bledel) Gilmore. Em 2016 foi tudo reativado para quatro episódios de “Gilmore Girls: A Year in the Life”.

Mas, aqui que ninguém nos ouve, se é para ver uma criação realmente impressionante de Amy Sherman-Palladino, é ali para os lados da Amazon Prime Video. É lá que está “A Maravilhosa Sra. Maisel”, com sentido de humor e empreendedorismo muito à frente dos anos 50 em que vive.