O salário mínimo nacional devia ser de 1.000 ou até 1.200 euros por mês, defendeu o empresário e gestor Alexandre Relvas, um valor que é superior ao que foi já anunciado pelo Governo para alcançar até 2025 — de 850 euros. Essa elevação do salário mínimo devia ser acompanhada por alterações na legislação do trabalho, que não identificou, e pelo reforço de apoios sociais para acautelar o eventual aumento do desemprego, afirmou o antigo administrador da Logoplaste esta terça-feira numa conferência sobre as propostas orçamentais para 2022, realizada pelo escritório de Rogério Fernandes Ferreira e Associados.

As declarações sobre o salário mínimo nacional foram feitas num contexto em que Alexandre Relvas defendeu a necessidade de “um choque de gestão” que permita à classe empresarial reinventar-se ao nível da filosofia de gestão. Lembrando que há cerca de 900 mil trabalhadores em Portugal que estão no patamar do salário mínimo, o gestor considera que o aumento significativo do salário mínimo funcionaria como um fator exógeno que”obrigaria as empresas a reagir para sobreviver”.

Para o empresário, que é administrador e acionista da Logoplaste e do Observador, as confederações empresariais deveriam promover a discussão sobre a aceleração do aumento do salário mínimo, desde que houvesse compensações ao nível da legislação laboral. Alexandre Relvas admitiu todavia ter dúvidas sobre a aplicação deste aumento ao setor social que pratica muito o salário mínimo e que funciona como uma almofada importante na prestação de serviços sociais.

Numa apresentação que teve como tema a competitividade das empresas e os desafios, o empresário alertou para o excessivo número de empresas existentes em Portugal, das quais apenas uma percentagem relativamente pequena está operacional, e para a sua reduzida dimensão. E apelou à necessidade de agilizar a legislação de falências e de criar incentivos fiscais e financeiros à reestruturação empresarial.

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A intervenção começou por procurar responder à pergunta: “Porque é que quase não crescemos nos últimos 20 anos?”. Alexandre Relvas apontou dois fatores principais: a falta de qualificação dos recursos humanos (apesar do trabalho “notável” em anos recentes); e a “má” afetação do recursos (seja dos fundos europeus, seja da dívida contraída por Estado e economia). O resultado desta má afetação é que o Estado absorve 45% do Produto Interno Bruto, a carga fiscal subiu para 35%, e 15% da população ativa são funcionários públicos com produtividade mais reduzida, sendo que a produtividade média do trabalho estagnou e está entre as mais baixas da União Europeia.

As prioridades e os projetos do Plano de Recuperação e Resiliência reforçam esta tendência, tal como os orçamentos do Estado apoiados à esquerda se focam na distribuição de rendimentos. Para o empresário, o principal objetivo deve ser a “criação de riqueza” e a base da criação de riqueza devem ser as empresas. Mas as empresas estão muito endividadas e descapitalizadas, reconhece, com um rácio de capital por nível de trabalhador muito baixo.

O gestor destacou aspetos positivos que Portugal tem como a qualidade das infraestruturas, que resultou do investimento público (apesar de este não ter tido como preocupação a produtividade) e um bom ambiente de negócios que atrai empresas internacionais. Elogiou o potencial das novas gerações de empreendedores e empresários que olham para o mercado global e assinalou a alteração estrutural na economia portuguesa que elevou o peso das exportações no PIB para cerca de 45%, considerando que existe um potencial para reforçar essa componente.

Alexandre Relvas deixou ainda dois recados — um mais político para a esquerda: “Não estraguem o que existe” e foi feito na reforma laboral e na sustentabilidade da Segurança Social. E outro para as confederações empresariais CIP (Confederação Empresarial de Portugal), CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) e CCP (Confederação do Comércio e Serviços de Portugal) que, defende, devem ter uma agenda de prioridades e propostas económicas para discutir com as forças políticas: “O que é que a CIP, a CAP e a CCP defendem que tenha marcado o país?”, questionou.