Os lucros do Millennium BCP caíram 59,3% nos primeiros nove meses de 2021, para 59,5 milhões de euros, informou o banco nesta quarta-feira em comunicado enviado à CMVM. A quebra nos resultados é explicada pelos 313,5 milhões de euros em provisões relacionadas com os riscos legais na Polónia (créditos em francos suíços) e os 87,6 milhões de euros gastos no processo de saídas de pessoal. O banco destaca, também, os 56,2 milhões de euros pagos em contribuições obrigatórias aplicadas ao setor bancário português, onde se incluem as contribuições para o Fundo de Resolução que capitalizou o Novo Banco.

No período homólogo, o banco tinha obtido lucros de 146,3 milhões de euros mas o impacto negativo desses dois fatores penalizou o resultado do Millennium BCP, banco que até conseguiu subir a margem financeira em 1,3% neste período (um indicador cuja melhoria tem sido muito difícil para os bancos da zona euro dado o nível historicamente baixo das taxas de juro).

O banco reduziu em 2,7% os custos operacionais excluindo os “itens específicos” ligados aos processos de rescisão por mútuo acordo. Porém, os custos operacionais incluindo esse efeito aumentaram 4,8%, já que o banco diz ter gasto quase 88 milhões de euros “essencialmente em custos de ajustamento do quadro de pessoal”.

Na atividade em Portugal, o BCP diminuiu o número de colaboradores de 7.152 para 6.511 pessoas, com uma redução do número de agências de 489 para 447 (também na comparação entre setembro de 2020 e 2021). O banco só não chegou a acordo com 23 pessoas, mas essas saídas ainda irão acontecer até ao final do ano, de forma unilateral. Depois disso, “não temos nenhum plano perspetivado mas nunca deixaremos de todos os anos, todos os meses, fazer uma avaliação de como está o negócio”, disse Miguel Maya.

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Não podemos ficar parados no tempo mas não tenho nenhuma expectativa de fazer outro processo desta natureza nos próximos anos. Haverá sempre entradas e saídas do banco, basta ver que este ano entraram 60 novas pessoas no banco”, afirmou Miguel Maya.

Tal como nos trimestres anteriores, o banco teve de subtrair aos resultados um valor muito significativo – 313,5 milhões de euros até ao momento – relacionado com os problemas legais na Polónia. Em causa está crédito à habitação originado Millennium Bank (uma prática interrompida em 2009) e pelo Euro Bank, um banco comprado pelo Millennium Bank polaco. Foram feitos empréstimos bancários indexados ao franco suíço que levaram a que as dívidas das famílias com esses empréstimos aumentassem aquando da valorização do franco suíço face à moeda local, o zloty.

As últimas decisões dos tribunais têm sido sempre no sentido de dar razão aos clientes. “As provisões refletem a continuação das tendências negativas nas decisões judiciais, a entrada de novos processos judiciais e as alterações na metodologia de avaliação de risco do banco”, explicou o Millennium em comunicado recente onde já sinalizava que as provisões iriam aumentar. Miguel Maya comentou que até 2018 tendencialmente as decisões dos tribunais tendiam a ser favoráveis ao banco mas, depois, por razões que não quis comentar, o poder judicial polaco começou a decidir maioritariamente no outro sentido.

Moratórias. “Estamos muito mais preocupados com os preços dos combustíveis”

Sobre as moratórias bancárias, o banco indicou que no final de setembro expiraram moratórias equivalentes a 6.211 milhões de euros (valor total dos créditos em causa), mantendo-se 730 milhões que irão expirar em breve. Esses créditos ainda em moratória estão relacionados com casos de adesões feitas entre janeiro e março de 2021, o que faz com que os clientes possam beneficiar da medida por mais nove meses, ou seja, o prazo terminará entre outubro e dezembro, conforme os casos.

Na conferência de imprensa em Lisboa de apresentação dos resultados, o presidente executivo Miguel Maya comentou, sobre este tema “sempre apetecível”, que os números mostram que era verdade aquilo que “desde o primeiro momento dissemos, que o que estava em questão não era nenhuma bomba-relógio. Era um escudo protector”.

O banco fez um “diagnóstico muito exaustivo” junto dos clientes e, embora não revele quantas reestruturações de crédito já foram feitas com clientes, diz-se “muito tranquilo, o que não quer dizer que não haja situações complexas”. O banco garante que está a “tratar esses casos com o rigor e o respeito que cada cliente merece” mas garante que “a floresta está bem, embora haja múltiplas árvores com problemas“.

Questionado pelo Observador sobre este tema, Miguel Maya diz que o banco está “muito mais preocupado” com fatores penalizadores para as empresas (e famílias) como o aumento dos preços dos combustíveis, dos preços da energia e dos problemas nas cadeias de fornecimento mundiais.