António Lobo Xavier, histórico democrata-cristão, antigo líder parlamentar do partido e apoiante de Francisco Rodrigues dos Santos nas últimas eleições internas, entende que o presidente do CDS está a revelar “cobardia” por fugir à clarificação interna e que a mergulhar numa situação de “fragilidade brutal”.

Em entrevista ao Observador, o ex-dirigente do CDS disse compreender as saídas de figuras como Adolfo Mesquita Nunes e António Pires de Lima, repetindo, aliás, as palavras do antigo ministro da Economia: “Não tenho nenhuma vontade de aconselhar voto no CDS”.

[Pode ouvir aqui a entrevista de António Lobo Xavier à Rádio Observador]

Lobo Xavier: CDS está a ficar “clube infrequentável“

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Sobre as desfiliações conhecidas no sábado, Lobo Xavier aponta diretamente o dedo à atual direção do partido. “Foi um dia triste. Vejo [essas saídas] com muita tristeza porque saem os melhores e ficam alguns dos piores, que nunca deviam ter estado. Preferia que várias dessas pessoas se pusessem a andar. Há gente que está a mais no CDS, mas não são estas que saíram”, disse.

Mesmo admitindo que o CDS se está a transformar num “clube infrequentável“, Lobo Xavier diz que não pondera entregar o cartão de militante. “Por enquanto vou ficar. Já vivi muitos momentos maus no CDS ao longo destes 47 anos, não penso logo em ir-me embora. Mas compreendo quem o faça.”

Quanto à questão que tem dividido os dois lados das trincheiras — o CDS deve ou não adiar as internas, a atual direção do partido tem ou não legitimidade para ir a votos nas próximas legislativas –, Lobo Xavier corta: não se trata de uma questão jurídica, mas política. “É uma legitimidade formal que não vale nada“.

Ribeiro e Castro: “Está em marcha um plano para a destruição do CDS”

José Ribeiro e Castro não está surpreendido com as baixas no CDS anunciadas nas últimas horas. Em entrevista ao Observador Observador fala em saídas anunciadas e garante que a “regra de que ninguém ingere no partido vizinho não está ser cumprida”, insinuando que pode registar-se uma transferência direta para a Iniciativa Liberal.

Para sustentar o prognóstico, o antigo presidente do CDS usa dois exemplos: o de Adolfo Mesquita Nunes que “esteve para ser o candidato presidencial da Iniciativa Liberal” e o de Michael Seufert que “foi o mandatário de Tiago Mayan Gonçalves nas presidenciais”. E acredita que não vão ser os únicos: “É natural que vejamos mais militantes a abandonar o partido. Creio que estamos no princípio desse processo”.

[Pode ouvir aqui a entrevista de José Ribeiro e Castro à Rádio Observador]

O antigo presidente do CDS, que cumpriu dois anos de mandato quando Paulo Portas saiu da liderança para depois regressar, olha para os últimos dias como uma sensação de déjà vu. As pessoas que agora criticam Rodrigues dos Santos, diz Ribeiro e Castro, são as mesmas que o fizeram cair do poder e agora estão empenhadas a pôr “em marcha um plano para a destruição do CDS”.

Ainda sobre os opositores do atual presidente centrista, Ribeiro e Castro diz que nunca aceitaram a perda de poder e “violam todos os dias deliberações democráticas dos órgãos eleitos do partido”. O objetivo? “Fazer as listas de deputados das próximas eleições”.

Por isso mesmo, não vê necessidade para que o congresso eletivo marcado para novembro seja mantido: “Francisco Rodrigues dos Santos está legitimado, temos que respeitar os mandatos até ao fim”, reitera.