É “muito improvável” que no próximo ano se reúnam as condições para um aumento das taxas de juro na zona euro, afirma Christine Lagarde, presidente do BCE, no seu discurso em Lisboa. “Um aperto indevido das condições de financiamento não é desejável, numa altura em que o poder de compra já está a ser limitado pelos preços mais elevados na energia e nos combustíveis, e representaria uma dificuldades inapropriada para a retoma”, avisa a responsável, que salientou que a retoma em Portugal será mais atrasada do que na zona euro.
A mensagem transmitida por Christine Lagarde, que esta quarta-feira está no Museu do Dinheiro, ao lado da sede do Banco de Portugal, contrasta com aquilo que tem vindo a ser incorporado pelos mercados financeiros, que antecipam uma primeira subida da taxa de juro daqui a menos de um ano.
Já sobre a intervenção no mercado através das compras de dívida, o BCE irá anunciar os seus planos em dezembro para “um mundo pós-pandémico”, reiterou Lagarde, na linha do que afirmou na última conferência de imprensa do banco central em Frankfurt.
As declarações foram feitas durante a sessão solene comemorativa do 175º Aniversário do Banco de Portugal, cujo anfitrião é o governador Mário Centeno e que conta com intervenções da Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, e do Primeiro-Ministro, António Costa.
PIB de Portugal só regressa aos níveis pré-pandémico em meados de 2022
Sobre Portugal, além de elogiar a vacinação, Christine Lagarde disse que o País tem “enormes oportunidades” pela frente, desde logo na transição energética ajudada pelos fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Esse é um plano que é indexado à execução dos planos de reformas – e nesta área “a Europa tem muito a aprender com Portugal“.
O país sofreu muito duramente durante a crise das dívidas soberanas, mas conseguiu implementar reformas do mercado laboral no âmbito de um programa de ajustamento económico. Estas reformas aumentaram a capacidade do mercado de trabalho de se ajustar às mudanças”
Nesta fase, “na frente externa, temos de estar prontos para um mundo mais incerto“, diz Lagarde, que começou o seu discurso recordando o terramoto de 1755 e traçando um paralelo com a emergência pandémica. Ainda assim, sublinhou que a retoma em Portugal será mais lenta do que está a ser no resto da zona euro, de um modo geral.
Antecipamos que o Produto Interno Bruto (PIB) poderá regressar aos níveis pré-pandémicos antes do final deste ano, ao passo que o PIB de Portugal deverá atingir esse nível em meados de 2022″.
Antes de Lagarde, falou Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, que sublinhou que a zona euro não pode “hesitar” no caminho no sentido da garantia europeia dos depósitos – a terceira e última “perna” da União Bancária, que continua por concluir e que levaria a que os depósitos bancários fossem garantidos não por um sistema nacional de garantia mas, sim, uma plataforma à escala da zona euro.
Mário Centeno disse, ainda, que a estratégia do Banco de Portugal está assente num “binómio essencial para a tomada de decisão: bons dados; boa análise” e que “até 2025, é objetivo do Banco de Portugal contribuir para uma economia portuguesa recuperada, resiliente e convergente na Europa, no médio e longo prazo”.