Todos os chefes de equipa integrados nos serviços de urgência de Cirurgia Geral do Hospital Santa Maria, em Lisboa, anunciaram que se vão demitir em bloco a partir de 22 novembro, caso as questões organizacionais não se resolvam até essa data, avançaram a RTP e o Correio da Manhã e confirmou o Observador junto a fonte hospitalar.
Os chefes de equipa justificaram a decisão devido ao facto de o serviço se ter degradado nos “últimos anos”. Além disso, referem que a situação se agravou “recentemente”, “pela tomada de posição dos assistentes hospitalares do departamento que recusam ultrapassar, nas atuais condições de trabalho, mais do que as horas extraordinárias consideradas na lei”. “A escala de urgência de Cirurgia Geral não é exequível”, lê-se na carta.
O Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte mostra “total abertura e empenho” para melhorar as questões identificadas. Em comunicado enviado às redações, garantiu que já se agendaram “reuniões com os respetivos serviços” para o início da próxima semana para dar uma “rápida resposta” aos problemas.
“Estas equipas mantêm-se em funções”, garante o conselho de administração, que também assegura que o serviço de urgência “continua a funcionar com toda a normalidade”, cumprindo o seu papel de unidade diferenciada “de fim de linha”.
O Observador sabe que o Sindicato dos Médicos da Zona Sul e a Federação Nacional dos Médicos vai fazer um pedido de reunião urgente ao Conselho de Administração do hospital.
Sindicato solidariza-se com médicos
Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, disse à Agência Lusa que teve conhecimento de “uma carta de demissão da totalidade dos chefes de equipa de cirurgia do Hospital de Santa Maria”, solidarizando-se com os médicos.
O dirigente sindical adiantou que “há vários meses” que os profissionais de saúde têm chamado a atenção para “a insuficiência das equipas, não só a nível do serviço de urgência como também no próprio serviço”.
“É um quadro envelhecido” que se agravou nos últimos meses com a saúde de profissionais que entretanto se reformaram e não têm conseguido contratar médicos, adiantou.
Por isso, acrescentou, “tal como ocorreu em Setúbal, tal como ocorreu em Braga, tal como ocorreu em Leiria, um pouco por todo o país, [estes médicos] resolveram tornar pública essa sua insatisfação”.
“Este grito de alerta é no sentido de exigir mais investimento no Serviço Nacional de Saúde”, vincou o dirigente sindical, salientando que “o Ministério da Saúde não pode dizer que desconhece o problema”.
“Não pode dizer que encontrou soluções na contratação de centenas de médicos porque como bem sabemos esses médicos são muito inferiores àqueles que, entretanto, saíram”, acrescentou.
O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos frisou ainda que, qualquer destes médicos, se assim o entendesse poderia ter “muito mais conforto”.
“A esmagadora maioria deles já fizeram mais de 500 horas extraordinárias, já deram muito mais do que aquilo que a lei os obriga a pagar em termos de trabalho, poderiam ter lugar em qualquer dos grupos privados que afanosamente têm estado a contratar e tem conseguido muitos dos médicos”, salientou.
Saudou ainda “a coragem” dos médicos que fizeram este “grito de alerta” e fez “um apelo fortíssimo” para que a ministra da Saúde “encare o problema”.
“Não é o facto de ter ocorrido a dissolução do Parlamento que poderá encontrar aqui desculpas porque são questões de gestão corrente”, disse, apontando que “nos últimos anos os orçamentos nos hospitais estão abaixo daquilo que são as suas necessidades”.
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Demissão em bloco de médicos do hospital de Santa Maria é “grito de alerta”, diz Miguel Guimarães
O bastonário da Ordem dos Médicos manifestou-se solidário com os chefes de equipa de urgência cirúrgica do Hospital de Santa Maria, considerando o seu pedido de demissão em bloco como um “grito de alerta”.
“Estamos solidários com os médicos. Obviamente que irei falar com eles e irei ouvir também a administração. No meio disto tudo, queremos é resolver o problema”, disse à Lusa Miguel Guimarães, que anunciou que pretende visitar o hospital brevemente.
Segundo o bastonário, os clínicos estão com “imensa dificuldade” em dispor das equipas adequadas às necessidades do serviço, face ao recurso de horas extraordinárias.
“Os hospitais vão sempre resistindo ao cumprimento de determinado tipo de regras e de situações e vão tentando arranjar subterfúgios ou para pagar menos, ou para não pagar, ou para, de alguma forma, tentar que as pessoas façam cada vez mais horas extraordinárias até aos limites totalmente inaceitáveis”, adiantou Miguel Guimarães.
De acordo com o bastonário, uma das soluções passa por aplicar a legislação que existe, seja nos “limites das horas extraordinárias, seja no pagamento destas mesmas horas”.