É preciso recuar até 1939 para não encontrar uma final do Campeonato da Europa onde não estivesse pelo menos uma das equipas. Ganharam 38 das 53 edições da competição (muitas delas jogando uma contra a outra ou pelo menos ficando ambas nos dois primeiros lugares), são crónicos candidatos a qualquer prova internacional do calendário, têm os dois melhores campeonatos nacionais da atualidade. A história do hóquei em patins confunde-se com a de Portugal e Espanha, uma rivalidade ibérica que de certa forma até ajudou a que a modalidade fosse superando o fulgor que foi perdendo ao longo das décadas. No entanto, e em virtude dos resultados nas três jornadas anteriores, aquilo que deveria ser uma final antecipada era tudo menos isso e podia até deixar de fora uma delas do encontro decisivo de sábado, em Paredes.

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Depois de um arranque dentro do previsto, com os espanhóis a golearem Andorra por 11-0 e a Seleção a bater a Alemanha por 10-0, a segunda ronda desde Europeu trouxe mais surpresas com a Espanha a não ir além de um empate com Itália (4-4) e Portugal a perder frente à França (5-3). Poderia ser um deslize mas os jogos desta quarta-feira, pelo menos em relação ao conjunto nacional, confirmaram que era algo mais do que isso, seguindo-se uma igualdade a quatro com os transalpinos que deixou a equipa de Renato Garrido a depender apenas de si mas a ter de vencer os dois encontros com Espanha e Andorra para terminar a fase de grupos num dos dois primeiros lugares  com acesso à decisão de sábado (20h).

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“Sofremos um golo logo no início mas reagimos sempre bem, criámos muitas oportunidades mas estamos numa fase em que os ataques dos adversários, muitas das vezes, resultam em golo. Está a faltar-nos aquele último passe e a clareza para marcarmos golos. Este empate vai obrigar a contas se ganharmos à Espanha e temos de ganhar de qualquer maneira. É mais uma final. Acreditamos muito e apesar de tudo hoje ficámos com boas sensações. Com a Espanha vai ser um jogo muito mais tático, com eles a jogarem no nosso erro. Sabemos isso e depois é conseguirmos concretizar”, comentara na véspera o selecionador, falando também na “estrelinha” que estaria a faltar – mas que era pouco para resumir o que se passara.

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Além das unidades em sub-rendimento, com Hélder Nunes à cabeça, Portugal não revelara toda aquela consistência que levou à vitória no último Campeonato do Mundo em 2019 e também não apresentara a mesma fluência no ataque organizado, vivendo em muitos momentos da meia distância e da inspiração individual de Gonçalo Alves e João Rodrigues. Esta noite, na maior parte do primeiro tempo, a imagem que ficou foi outra mas 41 segundos fatídicos antes do intervalo e uma catadupa de erros individuais no segundo fizeram a Seleção sofrer antes de uma fantástica recuperação com dois golos no último minuto de Rafa que mantiveram Portugal a sonhar ainda com um lugar na final do Europeu.

Mais uma vez, Portugal dificilmente poderia ter uma entrada pior em rinque, com Ignacio Alabart a ver um remate mal calculado por Ângelo Girão entrar mesmo na baliza nacional com apenas 52 segundos de jogo. Para quem tentava entrar para controlar o encontro e dominar os níveis de ansiedade o arranque foi ao contrário do desejável mas João Rodrigues, numa falta marcada de forma rápida a fazer bater ainda a bola no guarda-redes Xavi Malián, empatou pouco depois a partida (3′). Voltava tudo à estaca zero mas seria um cenário ainda menos duradouro para os dois lados: Pau Bargalló, a encostar ao segundo poste após grande trabalho de Xavi Barroso, recolocou a Espanha na frente (6′) mas Gonçalo Alves, em mais um golo a vir por trás da baliza e a colocar de surpresa entre as pernas do guarda-redes, empatou de novo a dois (7′).

O encontro acalmou depois a nível de golos, com as duas equipas a aumentarem a agressividade defensiva mas a terem algumas oportunidades como uma flagrante em que Jorge Silva surgiu isolado de trás na área descaído sobre a direita para um remate que passou a rasar a trave. As individualidades teriam de aparecer para fazerem o desequilíbrio e foi Gonçalo Alves mais uma vez a chegar-se à frente, com uma grande saída rápida antes da assistência para o desvio de Rafa (19′). Portugal estava em vantagem e ainda reforçaria esse avanço, com Hélder Nunes a fazer o 4-2 de livre direto pela décima falta dos espanhóis a 57 segundos do descanso, mas Xavi Barroso reduziu a 46 segundos do final num remate de longe contestado por Girão e Pau Bargalló empatou de livre direto a sete segundos do descanso após cartão azul a João Rodrigues.

A Seleção deitava por terra uma vantagem de dois golos em menos de meio minutos e o peso dessa parte negra no jogo fez-se sentir no arranque do segundo tempo, com a Espanha a passar de novo para a frente numa jogada já antes vista agora com Pau Bargalló a assistir Xavi Barroso ao segundo poste (28′). Portugal teria de arriscar mais um pouco e foi esse balanceamento ofensivo que permitiu duas situações de 1×0 bem travadas por Girão antes de um livre de Gonçalo Alves a bater no poste e o 6-4 por Sergi Panadero logo de seguida, com um grande trabalho individual na área descaído sobre a direita antes do remate final (33′).

Renato Garrido parava de novo o jogo para aquele que seria o minuto determinante para manter o sonho de chegar ainda à final do Europeu, alcançando resultados quase imediatos numa série de recargas a um penálti de Gonçalo Alves após falta para cartão azul de Xavi Malián (entrou Carles Grau) sobre Hélder Nunes na área (34′). Mesmo tapada com nove faltas, a equipa nacional reacendia a esperança da redenção no duelo ibérico e conseguiu mesmo chegar ao empate em mais uma grande penalidade “ganha” por Hélder Nunes e convertida por Gonçalo Alves, que fazia o hat-trick para o 6-6 com nove minutos por jogar antes de Pau Bargalló ter dois livres diretos em minutos consecutivos após a décima falta nacional e um cartão azul a Diogo Rafael para recolocar de novo o jogo por dois golos de diferença (42′ e 43′).

Ferran Font, na sequência de mais um cartão azul agora a Henrique Magalhães, ainda desperdiçou uma oportunidade soberana para acabar de vez com o jogo e até foi Portugal a fazer o 8-7 numa recarga de Hélder Nunes após livre direto pela 15.ª falta dos espanhóis mas a Roja só precisou de alguns segundos para voltar a marcar, desta vez com Xavi Barroso a aproveitar mais um mar de facilidades para colocar por baixo do corpo de Girão (46′) antes de Gonçalo Alves reduzir com um remate de longe (48′), Rafa fazer o empate a 50 segundos do final jogando com o patim de Pau Bargalló na área e o mesmo Rafa apontar o golo da reviravolta (e também o hat-trick) quando faltavam apenas 14 segundos para o último apito, provocando uma autêntica explosão no Multiusos de Paredes entre muitas lágrimas no banco nacional.