Fatima Dione foi considerada Miss Senegal em 2020. Após ter sido convidada para uma festa pelo comité organizador do certame de beleza, a jovem divulgou nos últimos dias, aos meios de comunicação do país, que foi drogada e violada num hotel, tendo inclusive ficado grávida na sequência do que aconteceu naquela noite de junho.

De acordo com a imprensa local, a jovem de 20 anos é agora mãe de um bebé de cinco meses cujo pai afirma não conhecer, tendo sido excluída das atividades do comité do evento Miss Senegal.

No dia seguinte à divulgação por parte de Fatima Dione, a presidente do comité organizador da Miss Senegal, Amina Badiane, disse numa conferência de imprensa que “uma violação envolve duas pessoas”. “Se for violada, é porque o pediu. Ela é maior de idade”, afirmou.

Depois destas declarações, mais de 300 mulheres senegalesas apresentaram esta quarta-feira queixas na capital, em Dakar, contra a presidente do comité organizador da Miss Senegal, a quem acusam de desculpar “uma violação”.

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Estas palavras provocaram fortes reações de condenação por parte das mulheres e das associações de mulheres.

“Já tinham sido apresentadas mais de 300 queixas quando saímos do tribunal, no início da tarde. Tínhamos lançado uma ideia de queixa coletiva nas redes sociais e apelámos àqueles que aderiram, para que preenchessem o formulário e se reunissem em tribunal para apresentar as queixas”, disse Hourèye Thiam Preira, do coletivo de mulheres que se reuniram espontaneamente em tribunal para levar o caso ao procurador, citada pela agência France-Presse.

“É uma forma de encorajar os violadores a continuar e a colocar as raparigas em perigo”, afirmou Preira.

Além de denunciarem a glorificação da violação, os queixosos exigem a retirada da licença do atual organizador do concurso nacional de beleza e pedem ao Estado que confie a sua organização a “pessoas mais respeitadoras dos direitos da mulher”, segundo Preira.

No Senegal, foi promulgada, em janeiro de 2020, uma lei que reconhece a violação e a pedofilia como crimes. Os perpetradores de violação e pedofilia são julgados pela câmara criminal e enfrentam uma pena de prisão perpétua.