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Nada disto foi um jogo de futebol (a crónica de um Belenenses SAD-Benfica que não devia ter acontecido)

Este artigo tem mais de 2 anos

Algo que começou torto nunca se chegou a endireitar: Belenenses SAD começou com 9, voltou para a segunda parte com 7 e acabou o jogo ao ficar com 6. Foi goleado pelo Benfica — mas nada disso importa.

Belenenses SAD v SL Benfica - Liga Portugal Bwin
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O Belenenses SAD começou o jogo com apenas nove elementos

Getty Images

O Belenenses SAD começou o jogo com apenas nove elementos

Getty Images

O cenário, no momento em que o jogo começou, foi surreal: do lado do Benfica, os habituais 11 jogadores; do lado do Belenenses SAD, nove jogadores. O alargado surto de Covid-19 que está a afetar os azuis causou 17 casos positivos já conhecidos, incluindo 14 jogadores e o treinador Filipe Cândido, mas não evitou a realização de algo que foi tudo menos um jogo de futebol. 

O Belenenses SAD não pediu para adiar o jogo, o Benfica nunca quis adiar o jogo para não complicar ainda mais o complexo calendário que se avizinha e a Liga não tomou a decisão unilateral de adiar o jogo. Os azuis entraram em campo com apenas nove jogadores, sendo que dois eram guarda-redes, e com um único elemento da equipa principal: Diogo Calila, autorizado a jogar por estado infetado com Covid-19 há menos de 180 dias. No banco de suplentes, não estava nenhum treinador — Filipe Cândido e todos os adjuntos testaram positivo, o técnico dos Sub-23 está nas mesmas condições e foi Rui Pedro Soares, o presidente do Belenenses SAD, a marcar presença na linha técnica.

Ficha de jogo

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Belenenses SAD-Benfica, 

12.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Nacional do Jamor, em Oeiras

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

Belenenses SAD: João Monteiro, Álvaro Ramalho, Diogo Calila, Rafa, Henrique Pires, Boni Trova, André Lopes, António Montez, Kau

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Otamendi, Vertonghen, Lázaro, Weigl, João Mário, Grimaldo, Rafa, Darwin, Seferovic

Suplentes: Helton Leite, Gilberto, Gil Dias, Morato, Everton, Pizzi, Taarabt, Yaremchuk, Gonçalo Ramos

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Kau (ag, 1′), Seferovic (14′ e 39′, gp), Weigl (27′), Darwin (32′, 34′ e 45′)

Ação disciplinar: 

De forma quase irónica, os acontecimentos inesperados das últimas horas antes do apito inicial acabaram por dar um significado superior à antevisão de Jorge Jesus. “É o regresso ao Campeonato português e vamos defrontar um adversário histórico. Não há jogos fáceis e aqui a história é sempre igual: o Benfica quer ganhar, o Belenenses SAD quer não perder. A equipa vem de um jogo em Barcelona em que fez uma grande exibição. Estamos muito confiantes para ganhar, que é o que nós queremos, com todo o respeito pelo adversário”, disse o treinador encarnado. Ora, não só a história não era “sempre igual” como o Belenenses SAD não se limitava a “não querer perder”. Este sábado, o Belenenses SAD só podia pensar em sobreviver.

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Do lado dos encarnados, Jorge Jesus voltava a apostar em André Almeida enquanto terceiro central, deixando Morato no banco, e lançava Lázaro na ala direita. Seferovic era mesmo titular — depois do falhanço de Camp Nou e tal como o treinador havia antecipado — e fazia companhia a Darwin e Rafa no ataque, com Everton a ser suplente. Do outro lado, acabava por existir a curiosidade de um dos jogadores utilizados ser António Montez, neto de Aníbal Cavaco Silva.

A primeira parte do jogo foi tudo aquilo que dela se esperava e até um pouco mais. A Lei de Murphy pairou sobre o Jamor e fez com que tudo o que podia correr mal ao Beleneneses SAD acabasse por acontecer, com Kau a abrir o marcador com um autogolo logo nos primeiros instantes (1′). Seguiu-se uma enorme defesa de Álvaro Ramalho, que evitou o golo de Seferovic (11′), mas o avançado suíço vingou-se pouco depois e aumentou mesmo a vantagem na sequência de um transição de Rafa (14′).

Álvaro Ramalho voltou a colocar-se em evidência, negando mais um golo a Seferovic com uma defesa com o pé (17′), e Darwin viu um cabeceamento certeiro ser anulado por falta ofensiva (19′). Seguiu-se o golo de Weigl, através de um grande pontapé na meia direita (28′), dois seguidos de Darwin, que cabeceou ao segundo poste (32′) e depois finalizou mais uma arrancada de Rafa (34′), e ainda uma grande penalidade convertida por Seferovic depois de Rafa tocar a bola com a mão no interior da grande área (39′). Por fim, já mesmo em cima do intervalo, Darwin completou o hat-trick depois de um grande trabalho individual (45′).

Falar de questões táticas, técnicas ou qualitativas é para lá de injusto. O Belenenses SAD defendia com uma linha praticamente estática de cinco e só passou do meio-campo em situações esporádicas — conquistando, ainda assim, dois surpreendentes pontapés de canto. Vlachodimos era um mero espectador e o Benfica atuava por inteiro no meio-campo adversário, procurando essencialmente tirar cruzamentos para a grande área à procura de desvios e rendilhando o jogo até encontrar os inevitáveis espaços. Até ao intervalo, a equipa médica dos azuis ainda teve de entrar em campo para assistir Álvaro Ramalho e João Monteiro (que é guarda-redes e estava a atuar no meio-campo), que sofreram naturais dificuldades físicas.

No final da primeira parte, o Benfica estava a golear os nove jogadores do Belenenses SAD com sete golos e só existia uma certeza: nada do que se estava a passar no Jamor deveria estar a acontecer. Rui Pedro Soares saiu do relvado em lágrimas, sendo confortado por Rui Pedro Braz, e Jorge Jesus colocou todos os suplentes a realizar exercícios de aquecimento durante o intervalo, claramente demonstrando a intenção de renovar toda a equipa durante a segunda parte.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Belenenses SAD-Benfica:]

No teórico recomeço da segunda parte, Jorge Jesus preparou-se para lançar Morato, Gil Dias, Taarabt, Pizzi e ainda Gonçalo Ramos. Os jogadores do Benfica regressaram ao relvado mas os do Belenenses SAD permaneceram no balneário, com Manuel Mota a descer ao túnel para perceber o que se passava com a equipa da casa. O árbitro da partida voltou sozinho e, instantes depois, voltaram também apenas sete elementos do Belenenses SAD, com Diogo Calila e António Montez a ficarem no intervalo. Nos primeiros segundos da segunda parte, João Monteiro atirou a bola para fora, sentou-se no chão e disse que estava lesionado, forçando Manuel Mota a encerrar o jogo naquele momento — já que nenhuma equipa pode atuar com apenas seis jogadores. A ideia, claramente, terá sido evitar uma punição disciplinar em cenário de não comparência para a segunda parte.

Assim, sem segunda parte, acabou o jogo que não deveria sequer ter começado. O Benfica goleou o Belenenses SAD e somou mais três pontos, subindo à liderança provisória da Primeira Liga antes de Sporting e FC Porto entrarem em campo. Nada do que se passou este sábado, no Jamor, foi um jogo de futebol: e o facto de ter acontecido em novembro de 2021, mais de um ano e meio depois de todos estarmos a viver em situação pandémica, só torna a situação ainda mais grave.

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