As lágrimas disfarçadas na família Conceição, enquanto Francisco suspirava no discurso num momento de maior ênfase, o pai Sérgio olhava com brilho nos olhos e a mãe Liliana não aguentava a emoção tendo três outros filhos à sua volta (Sérgio foi o único não presente, por ter jogado pouco tempo antes pelo Estrela da Amadora contra o Benfica B). Rui Silva a recordar o amigo que tem tatuado no braço, Alfredo Quintana, em mais um prémio com dedicatória especial. As palavras emocionadas de Fernando Gomes, nascido numa rua ali ao pé e que assumiu que Pinto da Costa chegou em alguns momentos a ser um “pai”. O momento em que o fado deu lugar a uma gravação do presidente portista a declamar poesia e que deixou sensibilizado o número 1 dos azuis e brancos, que ao mesmo tempo que ria ficava de lágrimas nos olhos.

Emoção foi o sentimento dominante no jantar de entrega dos Dragões de Ouro de 2021, mais uma vez no Estádio do Dragão, e o início não poderia ter puxado mais ao sentimento, quando a figura de Reinaldo Teles, que faleceu há pouco mais de um ano, foi recordada através de imagens entre os agradecimentos dos filhos que receberam o prémio Recordação do Ano com uma ovação sentida de todos os presentes.

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“Gostaríamos que esta homenagem, mais do que os títulos ganhos com o contributo do meu pai, nos possibilite recordar a forma como viveu e serviu este clube. Falar do meu pai é fácil, ele era uma pessoa fácil. O meu pai era um homem simples, humilde, gentil e educado, que nos transmitiu sempre valores que nele eram tão genuínos e naturais, como o sentido da amizade, lealdade, da dedicação incondicional, da abnegação e da partilha. Era uma pessoa amiga do seu amigo, presente em todas as ocasiões, e nunca deixava os seus amigos ou familiares sozinhos. Permitam-me a ousadia mas penso que cabe a todos nós, familiares, portistas, aficionados e também aos dirigentes desta nobre instituições a perpetuar um dos grandes que nos ajudou a tornar enormes. Uma vez li que um homem com sonhos não morre nunca e o meu pai é, com certeza, um desses homens”, salientou a filha, Maria João Silva.

Na parte final, como é habitual, foi Jorge Nuno Pinto da Costa que tomou a palavra, agradecendo aos presentes, entre os quais o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, ou o líder da Liga, Pedro Proença.

“É um momento de grande dificuldade, de muita emoção em que não vou fazer nenhum discurso, vou só deixar que saia da minha alma e coração aquilo que sinto perante vós. No seu livro Mensagem, Fernando Pessoa, num poema intitulado O Infante, inicia-o dizendo ‘Deus quer, o homem sonha e a obra nasce’. Deus quis, contras as minhas opções e as minhas ambições, que no dia 23 de abril de 1982 me transformasse no 31.º presidente do FC Porto. Então, o homem que foi escolhido para tal sonhou. Sonhou que este clube havia de ser campeão nacional em todas as modalidades, sonhou que este clube havia de ir a uma final europeia, sonhou que este clube havia de ter um centro de treinos, sonhou que este clube havia de ter um pavilhão gimnodesportivo, sonhou que este clube havia de ter um estádio novo, sonhou que este clube havia de ter o mais belo museu de clubes do mundo e sonhou também que quando terminasse o seu mandato ou os seus mandatos deixasse um clube em que todos estivessem unidos, não à sua volta mas à volta do símbolo do FC Porto”, começou por dizer o líder dos azuis e brancos no discurso de encerramento.

“A obra nasceu. Nasceu porque ao logo de quase 40 anos gente de inexcedível paixão pelo clube, de extrema lealdade e de grande empenho no seu trabalho. Permitam-me que, de forma muito sentida, fale daqueles que em abril de 1982 partiram comigo para uma grande aventura de grande risco, assumindo o seu papel na Direção do clube. Recordo com grande saudade quem não está entre nós, o doutor Sardoeira Pinto, o Manuel Borges, o Pôncio Monteiro, o Rui Baptista, o Carlos Lamas Pacheco, o Armando Pimentel, o Fernando Vasconcelos, o António Fortes, o Jorge Freitas, o Fausto Silva, o Abílio Lemos… Foram todos muito importante e hoje não queria deixar de os evocar aqui”, prosseguiu Pinto da Costa.

“Mas ao longo destes anos, foram tantos os que me impressionaram com o seu extraordinário trabalho que em 1985 resolvemos criar um galardão especial para os que mais se distinguissem nas suas atividades e no dia 16 de janeiro de 1987, pela primeira vez, fizemos a primeira entrega, então a 12 galardoados. A partir daí entregamos a quem achamos que merecia mas hoje foi uma felicidade entregar a um verdadeiro leque de exceção os 14 galardões que foram entregues”, antes de explicar alguns dos prémios como a Casa do FC Porto de Seia, Tiago Gouveia, Joana Resende, Rui Silva, Umaro Candé, Francisco Conceição, Sérgio Oliveira, Amaro Antunes ou Moncho López que iam alguns visados também de lágrimas nos olhos (e outros a sorrir, como Sérgio Oliveira ao ouvir dizer que também a Juventus não se esqueceria dele em 2020/21).

“Para Moncho López, existe o reconhecimento pela paixão por uma cidade, por um clube e por uma região. Já dirigiu mais de 500 jogos das nossa equipa e venceu também porque no ano passado foi campeão nacional. Foi campeão nacional até dez segundos do fim, enquanto decorreu o campeonato da verdade. Quando a dez segundos disseram ‘basta’, para não dizer chega, agora vamos aldrabar isto tudo, tiraram-lhe o título. Para mim, Moncho, é o campeão nacional”, disse a propósito da última Liga de basquetebol e ao caso que marcou a jogada final do jogo 5 da final frente ao Sporting, no Pavilhão João Rocha. “Não é preciso falar do nosso querido Reinaldo nem tenho condições. É o amigo que todos gostávamos de ter. Maria João e Reinaldo, o vosso pai teve dois amores: o FC Porto, vocês os dois e a vossa mãe”, destacou.

“Vou terminar como comecei, dizendo e parafraseando Fernando Pessoa: ‘Deus quer, o homem sonha, a obra nasce’. Penso que Deus quer que não esteja durante muito mais tempo a cumprir a missão que me destinou mas eu sonho, continuo a sonhar que ainda vou poder ser mais algum tempo útil ao FC Porto e continuo a sonhar ter tempo de provar no sítio certo que a orquestração de certa comunicação social, de calúnia e mentira, para me afrontar, a mim, ao FC Porto e aos meus amigos. Vou ter tempo para demonstrar o que sempre fui e que os meus pais me ensinaram a ser: ser sério, honrado e sem ter nada que se lhe diga. E a obra continuará a crescer sempre, comigo e com quem vier porque o FC Porto é eterno, tem uma qualidade fantástica e a vossa presença é a garantia que o futuro estará sempre coberto de qualquer contratempo. Contamos com todos vós, contamos com dom Américo Aguiar na terra e contamos com dom António Francisco no céu”, concluiu Pinto da Costa, num discurso aplaudido de pé.

Os vencedores dos Dragões de Ouro de 2021 foram os seguintes:

  • Dirigente do Ano: Fernando Gomes (“Bibota”)

  • Atleta do Ano: Amaro Antunes

  • Atleta Jovem do Ano: Umaro Candé

  • Atleta Amador do Ano: Joana Resende

  • Atleta de Alta Competição do Ano: Rui Silva

  • Atleta Revelação do Ano: Francisco Conceição

  • Futebolista do Ano: Sérgio Oliveira

  • Treinador do Ano: Moncho López

  • Quadro do Ano: Tiago Gouveia

  • Carreira: António Sousa

  • Recordação do Ano: Reinaldo Teles

  • Sócio do Ano: João Barbosa Carvalho

  • Parceiro do Ano: Internationales Bankhaus Bodensee AG – IBB AG

  • Casa do Ano: Casa do FC Porto de Seia