Para o Benfica, a reta final de 2021 vai ditar os objetivos que vão ou não permanecer em cima da mesa na primeira metade de 2022. Durante este mês de dezembro, os encarnados já defrontaram o Sporting na Luz, decidiam esta quarta-feira a continuidade na Liga dos Campeões, vão ao Dragão enfrentar o FC Porto para o Campeonato e para a Taça de Portugal e jogam também o futuro na Taça da Liga contra o Sp. Covilhã. Para Jorge Jesus, no final da primeira semana do último mês do ano, a questão era simples: era preciso evitar que a derrota da passada sexta-feira com o Sporting tenha sido o primeiro dia do resto do mês do Benfica.

Na Luz, contra o Dínamo Kiev, o Benfica tinha de ganhar e esperar que o Barcelona não vencesse o Bayern Munique na Alemanha para garantir a qualificação para os oitavos de final da Liga dos Campeões. Uma qualificação que, para além dos milhões inerentes, traria um balão de oxigénio a uma equipa que passou os últimos dias sob fogo depois da derrota no dérbi. Uma qualificação que, para além dos milhões inerentes, significaria voltar aos oitavos da Champions cinco anos depois. E uma qualificação que, para além de tudo isso, garantia os valiosos milhões inerentes.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Benfica-Dínamo Kiev,

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Deniz Aytekin (Alemanha)

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Otamendi, Vertonghen, Gilberto (Lázaro, 73′), Weigl, João Mário (Taarabt, 73′), Grimaldo, Rafa (Paulo Bernardo, 82′), Yaremchuk (Darwin, 82′), Pizzi (Everton, 59′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Meïté, Seferovic, Diogo Gonçalves, Gonçalo Ramos, Morato, Ferro

Treinador: Jorge Jesus

Dínamo Kiev: Bushchan, Tymchyk, Zabarnyi, Syrota, Mykolenko, Sydorchuk (Andriyevskiy, 85′), Shaparenko, Buyalskiy, Tsygankov (Karavaev, 79′), Garmash (Eric Ramírez, 79′), Verbic (Carlos de Peña, 64′)

Suplentes não utilizados: Boyko, Shepeliev, Shabanov, Lednev, Vitinho, Kulach, Skhurin, Antiukh

Treinador: Mircea Lucescu

Golos: Yaremchuk (16′), Gilberto (22′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gilberto (24′), a Sydorchuk (30′), a Verbic (36′), a Tsygankov (44′)

“Vamos ser realistas. Se o Benfica conseguir passar esta fase, é um marco muito importante na minha história como treinador: deixar uma equipa como o Barcelona de fora. Há 18 anos seguidos que o Barcelona não fica de fora dos oitavos de final. Isso não é um sinal de responsabilidade mas é um objetivo. Este jogo pode trazer ao Benfica um êxito que, à partida, ninguém esperava: o facto de estar a discutir a passagem aos oitavos. Será sempre um êxito, independentemente de tudo o que acontecer. O Benfica entra para a última jornada e já tem garantido um apuramento para outra prova. Mas nada disso é sinal de pressão, nunca foi. O grande objetivo do Benfica foi conquistado, era chegar à fase de grupos”, disse o treinador encarnado na antevisão da partida contra os ucranianos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com as ausências já confirmadas de Lucas Veríssimo, Radonjic e Rodrigo Pinho, Jorge Jesus contava com Otamendi, que sentiu dificuldades físicas frente ao Sporting mas estava apto e mantinha o lugar no trio de centrais. Ainda assim, o treinador encarnado proporcionava uma surpresa: Pizzi era titular no ataque, com Everton a começar no banco de suplentes. Da mesma forma, Yaremchuk e Gilberto também apareciam no onze, depois de Lázaro e Darwin terem sido os eleitos contra o Sporting, e André Almeida voltava a ser aposta enquanto terceiro central.

O jogo começou a um ritmo elevado e logo com duas oportunidades, uma para cada lado, nos 10 minutos iniciais: Yaremchuk forçou Bushchan a uma defesa atenta depois de ultrapassar um adversário com um túnel (2′) e Tsygankov falhou o alvo depois de um trabalho individual de Buyalskyi (8′). O lance ucraniano, contudo, não deixou de ser uma quebra na clara superioridade do Benfica, que tinha mais bola e jogava quase sempre a partir da entrada do meio-campo adversário, explorando essencialmente as movimentações rápidas e as combinações entre João Mário, Rafa e Grimaldo na esquerda.

Era aí, no corredor canhoto, que os encarnados encontravam maior facilidade na hora de avançar. Grimaldo embrenhava-se em espaços interiores para dar a ala a Rafa, o avançado aplicava velocidade e João Mário ia realizando uma exibição assinalável entre as tarefas defensivas que nunca descurava e o critério ofensivo que o caracteriza. Pizzi ficou muito perto de inaugurar o marcador precisamente num lance em que Rafa acelerou, atirando para defesa do guarda-redes dos ucranianos à entrada da grande área (11′), e o Benfica ia mostrando que não queria adiar demasiado a chegada ao primeiro golo.

E não adiou mesmo. À passagem do quarto de hora inicial, João Mário recuperou a bola, combinou com Rafa e voltou a receber junto à linha de fundo, cruzando atrasado para assistir Yaremchuk, que atirou para bater Bushchan (16′). O avançado ucraniano, curiosamente formado no Dínamo Kiev, encerrava uma série negra de 11 jogos sem marcar e abria as contas na Luz, deixando os encarnados em vantagem. Menos de 10 minutos depois, Gilberto coroou uma prestação muito positiva e fez o segundo: com João Mário novamente no lance, o lateral acabou por aproveitar um ressalto em Verbic para ficar isolado na cara do guarda-redes e atirar cruzado (22′). Ainda antes de estar fechada a meia-hora, o Benfica conquistava uma vantagem confortável e recebia a notícia de que, em Munique, o Bayern já estava a vencer o Barcelona.

Os últimos minutos da primeira parte acabaram por registar uma quebra de qualidade provocada também pela quebra de ritmo dos encarnados, que chegaram a permitir aproximações perigosas por parte do Dínamo Kiev e iam tendo alguma dificuldade na hora de defender as investidas de Shaparenko e Verbic na esquerda. Ainda assim, ao intervalo, o Benfica estava a ganhar por dois golos de diferença e ia vendo o cumprir da própria tarefa ser complementado pela vantagem do Bayern em relação ao Barcelona — ou seja, se nada se alterasse, estava a 45 minutos de carimbar o passaporte para os oitavos de final da Liga dos Campeões.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a verdade é que o Dínamo Kiev voltou melhor para a segunda parte, chegando a ter quase 70% de posse de bola na Luz e invertendo a dinâmica da partida, deixando o Benfica num papel mais expectante e assumindo o controlo das ocorrências. Buyalskyi rematou para defesa de Vlachodimos (50′) e Mykolenko atirou forte contra a malha lateral (58′) e os ucranianos iam chegando com alguma frequência ao último terço adversário, aproveitando o facto de os encarnados estarem mais adormecidos no segundo tempo.

Confrontado com isso mesmo, Jorge Jesus tirou Pizzi, que cumpriu mas não fez a diferença, e lançou Everton. Mircea Lucescu respondeu com Carlos de Peña, que rendeu Verbic, e Sydorchuk voltou a assustar por esta altura com um remate de fora de área que passou ao lado (69′). A pouco mais de 15 minutos do fim e sem que a atitude do Benfica se alterasse, o treinador voltou a mexer e colocou Lázaro e Taarabt nos lugares de Gilberto e João Mário — com o lateral brasileiro a sair debaixo de uma ovação, não só pelo golo que marcou mas também pela enorme exibição defensiva e ofensiva que teve no emocionado festejo com todo o banco de suplentes uma notória cereja no topo do bolo.

Nos últimos 10 minutos, já pouco aconteceu. Vlachodimos ainda fez duas defesas importantes, a um cabeceamento de Tymchyk (75′) e a um remate de Buyalskyi (80′), Darwin e Paulo Bernardo ainda entraram em campo mas o Benfica nunca melhorou uma exibição sofrível na segunda parte, perdendo a bola logo depois a recuperar e não somando um único remate. Tudo isso, porém, foi o suficiente para garantir a vitória, não sofrer golos e assegurar a continuidade nas noites de Liga dos Campeões na Luz.

Beneficiando também da vitória do Bayern frente ao Barcelona em Munique, o Benfica carimbou a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões cinco anos depois e tornou-se o carrasco dos catalães, que falharam o apuramento pela primeira vez em 18 épocas consecutivas. Num jogo em que Rafa foi uma constante a defender e a atacar, em que Yaremchuk voltou aos golos e em que João Mário voltou às exibições extraordinárias, o destaque não pode deixar de ir para Gilberto: que foi titular depois de não ter sido contra o Sporting, que foi um dos melhores dos encarnados, que marcou e que só saiu quase por exaustão. E que, claro, agitou o banco de suplentes como nem sequer o apito final e a certeza do apuramento conseguiram fazer.