A investigadora Daniela Pimenta da Silva foi distinguida com o Prémio João Lobo Antunes 2021, por conduzir um ensaio clínico que vai testar o uso de óculos de realidade virtual na reabilitação de doentes de Parkinson, foi anunciado esta segunda-feira.

A bolsa, no valor de 40 mil euros, é atribuída anualmente pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que anunciou esta segunda-feira a premiada de 2021, a licenciados em Medicina que estão em regime de internato médico e “visa estimular a cultura científica e a investigação clínica na área das neurociências, sem esquecer o princípio de João Lobo Antunes relativo à humanização do ato médico”.

O neurocirurgião João Lobo Antunes, que dá nome à bolsa e a um instituto de investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), onde foi professor, morreu em 2016, aos 72 anos.

Daniela Pimenta da Silva é interna de neurologia no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e doutoranda da FMUL.

A investigadora explicou à Lusa que o ensaio clínico se propõe testar um software de realidade virtual imersiva usando óculos semelhantes aos comercializados por empresas de jogos “como ferramenta para a reabilitação” de pessoas com Parkinson, uma doença neurodegenerativa caracterizada por tremores, rigidez muscular, movimentos lentos e instabilidade de postura ou marcha.

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Justificando a pertinência do ensaio clínico, que envolverá 30 participantes com doença ligeira ou moderada, Daniela Pimenta da Silva disse que na doença de Parkinson os sistemas de realidade virtual “têm demonstrado que podem melhorar a capacidade funcional em comparação com intervenções de fisioterapia convencionais, podendo ser uma ferramenta útil para melhorar a marcha, o equilíbrio, a qualidade de vida e, eventualmente, as capacidades cognitivas”.

Segundo a investigadora, a fisioterapia continua a ser recomendada aos doentes de Parkinson pelos seus “benefícios na marcha, no equilíbrio, na capacidade funcional global e na qualidade de vida”.

Contudo, “estudos mostram que cerca de um terço dos doentes são menos ativos do que as pessoas saudáveis”, com “a falta de motivação” a ser apontada como “um dos fatores que levam os doentes a não continuarem com os programas de fisioterapia”.

A sensação de controlo ou de desafio são “componentes-chave” que levam os utilizadores de sistemas de realidade virtual a considerarem esta tecnologia “como agradável e motivadora”, assinalou Daniela Pimenta da Silva.

Os participantes no ensaio clínico “irão passar por uma experiência imersiva, multissensorial e motivacional que proporcionará a realização de movimentos de todo o corpo, enquanto absorvidos por um ambiente virtual”.

Os doentes irão realizar 12 semanas de fisioterapia, três vezes por semana, em sessões que duram entre uma hora e hora e meia, sendo que um grupo de doentes, o chamado grupo de controlo, vai fazer apenas metade das sessões com realidade virtual imersiva.

“Esta será uma oportunidade única para estudar o valor acrescido da tecnologia de realidade virtual imersiva em programas convencionais de fisioterapia em doentes de Parkinson”, sustentou a investigadora, referindo que o valor do Prémio João Lobo Antunes servirá para comprar os óculos e efetuar as sessões de fisioterapia sem custos adicionais.

O projeto envolve o Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica da FMUL e conta com a colaboração do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria e do Campus Neurológico.

O júri do Prémio João Lobo Antunes 2021, que será entregue esta segunda-feira pela SCML, em Lisboa, foi presidido pelo médico e investigador Válter Fonseca, em representação da Direção-Geral da Saúde.