A época do PSG não está propriamente a ser brilhante mas também não se pode considerar um descalabro completo até ao momento. Vejamos: na Ligue 1, depois do título perdido na última temporada para o Lille, os parisienses não conseguiram ganhar todos os jogos como era o desejo (pouco secreto) do patrão Nasser Al-Khelaïfi mas levam já 13 pontos de avanço do Marselha; na Taça, venceram o EFA na primeira ronda em que participaram; na Champions, apesar de ter condições para lutar de outra forma pelo primeiro lugar do grupo com o Manchester City, passou de forma tranquila aos oitavos onde irá defrontar o Real Madrid; e só a Supertaça falhou, com uma derrota logo no início de agosto com o Lille pela margem mínima.

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Contas feitas, e num ano marcado pelo reforço do investimento da equipa com a contratação de mais um par de estrelas a um “custo zero” que vem com milhões de zero à direita em prémios de assinatura e salário anual como Lionel Messi, Donnarumma, Sergio Ramos ou Wijnaldum (além de Hakimi e Nuno Mendes), o PSG vai entrar na segunda metade da época com tudo em aberto para poder ter o sucesso pretendido. No entanto, aquilo que se passa no balneário e não só constitui tudo menos um espelho dessa realidade.

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Há problemas que não são propriamente novidade nem segredo. As constantes lesões de Neymar, com um rendimento decrescente desde que chegou a França. As sucessivas questões físicas que colocaram Sergio Ramos de fora de praticamente todos os encontros. A questão do final de contrato de Kylian Mbappé, que a partir de 1 de janeiro está livre para assinar por qualquer equipa. A “guerra” na baliza com dois titulares, Donnarumma e Keylor Navar, para uma só vaga. A própria situação do treinador Mauricio Pochettino, que chegou a ser apontado ao Manchester United para abrir vaga à chegada de Zinedine Zidane. Ainda assim, e de acordo com a edição desta terça-feira do L’Équipe, são apenas umas gotas num mar de casos.

Como escreve (e faz capa) a publicação francesa, aquele que é o melhor plantel de sempre do PSG pode ver dinamitada a esperança de fazer uma boa época devido a uma série de tensões internas entre diferentes grupos de jogadores, conflitos de privilégios, ausências injustificadas e até festas sem autorização.

Logo a começar, a questão da baliza. Donnarumma chegou do AC Milan como jogador livre e também MVP do último Europeu de seleções mas a entrada para a titularidade não foi propriamente fácil nem imediata, até por ter sido uma opção dos administradores do PSG pela oportunidade de assegurar o italiano a custo zero e não um pedido de Pochettino. O técnico argentino achou que poderia contornar a situação com um sistema de rotatividade mas, apesar de haver quase um “pacto de não agressão” entre ambos, esse regime aumentou a tensão entre ambos, multiplicada por mais uma frase polémica do agente Mino Raiola, que gere a carreira do transalpino à RAI: “Não sei se esta situação já se tornou um problema mas todos sabemos como vai terminar esta história. Tudo se decidirá a favor de Gianluigi [Donnarumma]”, disse.

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Depois, a questão dos privilégios diferentes para casa uma das estrelas, a começar por Lionel Messi. E a seguir à conquista da sétima Bola de Ouro, muito aplaudida e elogiada pelo clube, as “canas” dos foguetes caíram no balneário: depois da cerimónia onde marcou presença com a família, mulher e três filhos, o 10 reservou uma discoteca só para si em Paris e entre muitos convidados levou também alguns dos jogadores do plantel do PSG. Problema: tanto ele como o também argentino Leandro Paredes falharam o treino na manhã seguinte alegando “alguns sintomas gastrointestinais”, algo que não aconteceu com outros elementos que estiveram no espaço e não saltaram a sessão de trabalhos. Mais uma polémica no balneário, sendo que não houve qualquer sanção por essa ausência que foi decidida sem consentimento do treinador.

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A seguir, o caso Neymar. Rendimento desportivo à parte, dentro de uma crescente irritação por parte dos responsáveis ao verem o estilo de vida do jogador fora das quatro linhas e o que resulta depois em campo depois dos 222 milhões de euros investidos, houve mais um caso que provocou particular desagrado junto de Nasser Al-Khelaïfi e Leonardo: o brasileiro falhou uma reunião importante com alguns dos principais patrocinadores do PSG alegando depois que não sabia se teria ou não de fazer antes um teste à Covid-19. Os responsáveis da formação parisiense ainda ponderaram aplicar uma multa ao internacional brasileiro mas, com receio de que a mesma se tornasse pública e um “caso”, o assunto caiu. Também o pedido de Mauro Icardi para se ausentar alguns dias no seguimento do diferente com a mulher e agente Wanda Nara não foi visto da mesma forma entre o plantel, apesar da autorização que foi dada.

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Em paralelo, o processo Kylian Mbappé. Mesmo sendo certo que o facto de haver um jogo entre PSG e Real Madrid nos oitavos da Champions deverá “congelar” até março um acordo com o clube espanhol, a possível saída continua a ser um tema do dia nos franceses, que ainda não terão desistido de renovar com o jovem avançado. Contudo, a festa de aniversário no início da semana, onde marcaram presença companheiros de equipa como Verrati, Draxler, Hakimi e Sergio Ramos, foi sobretudo analisada pela ausência de Neymar e Messi. E qual foi a prenda escolhida pelos elementos do plantel presentes? Uma camisola do PSG com o nome do dianteiro gaulês e o número 2050, a propósito dessa mesma renovação de contrato.