A histórica vitória do Wolverhampton frente ao Manchester United em Old Trafford no início da semana teve o condão de consolidar a posição do Wolves na Premier League (oitavo lugar) mas significou acima disso um consolidar de posição de Bruno Lage enquanto técnico no principal escalão de futebol inglês no dia em que cumpria três anos do primeiro encontro como treinador principal no Benfica. Em quase todos os encontros com os Big Six da liga a equipa não tinha sido inferior, no final o resultado nunca foi o pretendido. Diante dos red devils, essa regra mudou. E com nota artística também à mistura.

Lage deu dois chocolates para a festa de Moutinho no Teatro dos Sonhos (a crónica do United-Wolverhampton)

João Moutinho marcou o único golo da partida a oito minutos do final mas foi a primeira parte que mais elogios mereceu, com o Wolverhampton a sair para o intervalo já com um total de 15 remates feitos à baliza de David de Gea. Lá na frente, Daniel Podence, no melhor momento da época, foi um dos elementos desequilibradores que conseguiram ir descobrindo espaços na defensiva contrária a par de Raúl Jiménez. Agora, na Taça de Inglaterra frente ao histórico Sheffield United, o mexicano começou no banco como forma de poupança, o português manteve a titularidade. E foi por essa opção que a equipa começou a construir a vitória e consequente passagem à próxima fase, com a melhor exibição desde que chegou a Inglaterra que permite a Bruno Lage continuar a sonhar com algo que nasceu num jogo de computador.

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Moutinho foi o mais velho a decidir um jogo em Old Trafford no dia em que Lage fez três anos de treinador (e recordou a Luz)

” Na minha juventude havia os computadores Spectrum e um jogo chamado FA Cup [Taça de Inglaterra]. Talvez tenha sido o meu primeiro troféu, quando jogava com os meus amigos. Quero estar em Wembley. Vim para o Wolves para conquistar troféus e vamos fazer de tudo para começar esta prova com o pé direito”, comentara antes do jogo. E, com Podence endiabrado, o primeiro obstáculo foi superado.

Apesar de ocupar a 16.ª posição no Championship e de ter estado sem jogar durante um largo período na sequência dos adiamentos de jogos em Inglaterra por surtos de Covid-19, o Sheffield United entrou a todo o gás no Moulineux e criou as duas primeiras oportunidades nos três minutos iniciais com um remate ao lado do eterno Billy Sharp (2′) e um cabeceamento a rasar o poste de David McGoldrick que deixou John Ruddy, opção na baliza do Wolves em vez de José Sá, a tentar defender com os olhos onde dificilmente chegaria com as mãos (3′). Ficavam as ameaças dos visitantes, que aproveitaram da melhor forma a entrada amorfa e descaracterizada do conjunto de Bruno Lage, e não ficariam por aí após mais um lance com McGoldrick a receber sozinho na marca de penálti, a preparar o remate mas a ver Ruddy fazer a “mancha” (13′).

O Wolverhampton não conseguia controlar com bola, sentia dificuldades em entrar no último terço e dava espaços na defesa pouco comuns mas foi no aproveitamento do erro que as características do encontro mudaram: Fábio Silva voltou a pressionar alto, Robinson teve um passe mais curto em zona proibida, o avançado conseguiu assistir para Podence e o internacional português rematou sem hipóteses para o 1-0 (14′). Contra a corrente do jogo, os visitados estavam na frente e foi a partir daí que criaram por mais do que uma vez oportunidades para se aproximarem do segundo com Traoré a atirar por cima após assistência de Fábio Silva (23′), Fábio Silva a ver um chapéu desviado para canto depois de um grande passe de Podence (25′) e Rúben Neves a testar a meia distância ao lado da baliza de Foderingham (38′).

Nesse período, o máximo que o Sheffield United conseguiu foi ver um golo anulado a Billy Sharp por pé alto na área mas o início do segundo tempo, já com João Moutinho em campo no lugar de Marçal recuando Dendocker para a linha de três na defesa (Saïss está na CAN e vai desfalcar a equipa nos próximos jogos), voltou a trazer um conjunto visitante a tentar esticar-se mais em campo para chegar ao golo do empate. No entanto, as entradas de Raúl Jiménez e Francisco Trincão em campo deram outra vida ao ataque da equipa da casa, que começou aí a construir um triunfo seguro com Nelson Semedo a fazer o 2-0 após assistência de Aït-Nouri na sequência de um grande passe em profundidade de Podence (72′) e com o mesmo Podence a marcar o 3-0 depois de um erro de Foderingham aproveitado da melhor forma por Jiménez (80′).