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Se estamos a falar de ténis, expliquemos num léxico de ténis: depois de ter ganho o primeiro set quando viu os seus advogados revogarem o cancelamento do visto de entrada na Austrália em tribunal, o treino que Novak Djokovic fez na Rod Laver Arena duas horas após ganhar a sua “liberdade” funcionou como break no segundo e decisivo set. É certo que também foi perdendo jogos, como quando assumiu que tinha estado na entrevista ao L’Équipe infetado com Covid-19 e quando viu a primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabic, mas parecia estar a manter os jogos de serviço até ao match point que seria entrar no sorteio do quadro principal do Open da Austrália e lutar pelo primeiro Grand Slam do ano – e por ainda mais história.

Parecia. Pela acalmia das últimas horas, parecia mesmo. Mas alguns artigos nos australianos The Sydney Morning Herald e no The Age, publicados nas últimas horas, abriram espaço a mais uma reviravolta num jogo que continua sem decisão final. De acordo com os diários, o ministro da Imigração da Austrália continua a “considerar” a suspensão do visto de Djokovic, tendo adiado a mesma 24 horas numa fase em que, segundo as publicações do país, se isolou para analisar todos os dados e tomar uma decisão. Em paralelo, a equipa de advogados do jogador prepara os cenários possíveis, incluindo um novo recurso.

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Mas os problemas do sérvio não estão circunscritos à Austrália, onde corre o risco de enfrentar uma pena de cinco anos de detenção por ter prestado informações falsas sobre as viagens feitas nos 14 dias que antecederam a chegada a Melbourne. De acordo com o The Guardian, que ouviu vários advogados especialistas no tema, Djokovic arrisca três anos de prisão na Sérvia à luz do artigo 248 do Código Penal do país, que se podem transformar em horas de serviços comunitários, por ter violado a regra do isolamento após receber um resultado positivo ao novo coronavírus num PCR, algo que foi o próprio jogador a reconhecer a propósito de uma entrevista ao L’Équipe que não quis desmarcar, a 18 de dezembro.

Agora, as últimas informações dizem também respeito a uma entrada ilegal… em Espanha. Segundo a Cadena COPE, Djokovic viajou a 31 de dezembro de Belgrado para Marbella apesar de “só poderem entrar em Espanha residentes na Sérvia que tenham o certificado de vacinação completo ou uma autorização especial”, algo que o tenista não cumpria. Ou seja, como o próprio jogador assumiu em tribunal na Austrália que não está vacinado, existia uma exceção prevista para “trabalhadores altamente qualificados cujo trabalho seja necessário e não o possa fazer à distância, incluindo participantes de alto nível que tenham lugar em Espanha” mas nem o tenista, que tem residência em Marbelha, nem ninguém da sua equipa fez o pedido de autorização especial para essa entrada em Espanha, considerada ilegal.

Enquanto não há decisão do governo, Djokovic mantém-se oficialmente no Open da Austrália (que, devido à variante Ómicron e ao aumento de casos, levou à redução de 50% a lotação nos jogos): foi incluído no sorteio, que decorreu um pouco depois da hora prevista por esta polémica, e vai enfrentar o compatriota Miomir Kecmanovic na primeira ronda – desde que não seja deportado até lá. E o ministro da Imigração, Alex Hawke, tem três razões distintas que podem levar à deportação num dia em que uma sondagem da News Corporation com 60.000 respostas coloca 83% dos australianos a favor da expulsão do país.

Primeira razão: as incongruências no PCR positivo apresentado pelo sérvio para justificar o facto de não estar vacinado. De acordo com um texto publicado no seu Instagram oficial, Djokovic refere uma história com datas que não correspondem depois aos exames que foram apresentados. E é isso que leva também as autoridades a desconfiarem da veracidade dos mesmos testes levados em conta pelo juiz na decisão de revogar o cancelamento do visto do tenista sérvio após ter estado quatro dias no “famoso” Park Hotel.

Segunda razão: o preenchimento errado dos formulários de pedido de visto, mesmo tendo em conta que os mesmos foram feitos à luz da “isenção médica” que tinha sido concedida ao jogador antes de viajar. Novak Djokovic (ou quem preencheu os documentos por ele) colocou na respetiva opção que não tinha feito qualquer viagem nos 14 dias que antecederam a ida para Melbourne, a 4 de janeiro com chegada a 5. No entanto, existem fotos que mostram o sérvio em Belgrado a 25 de dezembro (curiosamente com o jogador de andebol do Benfica, Petar Djordjic) e em Marbella no final do ano, onde acabou a preparação.

O QR Code que passou a positivo, a foto com um jogador do Benfica e as omissões (ou mentiras) no pedido do visto: Djokovic continua em xeque

Terceira razão: uma questão de carácter. E, tendo por base o comunicado em que assume ter concedido uma entrevista ao L’Équipe sabendo que estava alegadamente infetado, isso pode ser motivo para Alex Hawke chamar a si algo previsto por lei que permite que o próprio assuma através do seu poder pessoal a revogação da decisão judicial que foi tomada pelo tribunal na passada segunda-feira.

Primeira-ministra sérvia avisa Djokovic de possível “violação grave” das leis